AgTech: Produtores brasileiros buscam novas tecnologias para otimizar resultados dentro e fora da porteira
O produtor brasileiro de soja tem se apoiado cada vez mais no desenvolvimento da tecnologia para aprimorar sua atividade não só porteira para dentro, mas também dali em diante. A nova safra de soja do Brasil já é um reflexo desse comportamento. Afinal, ao lado de um quadro bastante favorável de clima, o investimento em inovações que pudessem aprimorar sua produtividade resultaram em elevados índices de produtividade - salvo problemas pontuais - e projeções que indicam a colheita em cerca de 110 milhões de toneladas.
Vanderlei Neu é produtor de soja em Rio Grande do Sul e recordista de produtividade do concurso do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil), com números que superam as 100 sacas por hectare. Os diferenciais do sojicultor são resultado não só dessa busca por tecnologia, mas de sua combinação ainda com boas práticas agrícolas implementadas há mais de 20 anos. Neu vem investindo em cobertura do solo por 365 dias, além da descompactação de solo, rotação de cultura e, é claro, o eficiente mecanismo do plantio direto. "A cada ano, é um troféu que se ergue", diz.
Para o engenheiro de vendas da Trimble Advanced Positioning, Vitor Higa, o produtor rural brasileiro tem, de fato, buscando ampliar o uso de suas tecnologias e, neste momento, principalmente naquelas relacionadas ao conceito da agricultura de precisão.
"O produto tem sido impulsionado pela necessidade de produzir mais com menos em períodos de crise econômica, como a qual estamos enfrentando no momento", diz Higa. "A Agricultura de Precisão é o gerenciamento localizado das áreas considerando a variabilidade físico-química do solo dentro de uma propriedade. Com as tecnologias relacionadas à Agricultura de Precisão, é possível otimizar os recursos e aumentar a eficiência das operações agrícolas", explica.
Sementes
Um dos setores em que o produtor tem investido mais atenção é nas sementes. Como explica o o engenheiro agrônomo e doutor em sementes Alexandre Gazolla, desde o início da década de 80, o foco na questão do vigor vem crescendo e se tornando uma ferramenta cada vez mais importante para a garantia da produtividade e de grãos de qualidade.
"Nos últimos dez anos, os agricultores já aprenderam a importância do vigor. Mas é preciso cobrar e exigir maior organização dos sementeiros", diz o especialista. Assim, o objetivo é, portanto, fazer com que os produtores invistam em testes de vigor, pesquisa e parcerias com laboratórios que possam resultar em sementes com a qualidade garantida, além da comprovação de sua emergência .
Além disso, ainda segundo Gazolla, o custo de serviços serão facilmente recuperados pelos benefícios oferecidos.
Beneficiamento de plântulas, grãos e sementes
Ainda buscando garantir a qualidade de sementes, o setor conta com um novo padrão de beneficiamento e padronização de sementes com um sistema de análise e processamento de imagens. Desenvolvido inicialmente na Universidade de Lavras, o equipamento conhecido como GroundEye faz uma classificação qualitativa mais detalhada de grãos e sementes por meio da captação de imagens. Uma análise que, há alguns anos, demorava de duas horas a dois dias, pode ser concluída em um minuto e com resultados mais precisos.
A plataforma mede o tamanho das estruturas vegetais e avalia o crescimento de plântulas de diferentes lotes, extraindo as informações de germinação, crescimento, uniformidade e vigor. Dessa forma, o sistema permite a identificação de grãos - no caso da soja, por exemplo, esverdeados, com danos mecânicos ou d e tamanho diferenciado.
"E um dos principais benefícios é que o sistema evita reprocessos, por ser muito preciso, o que significa também redução de custos. A ideia principal é garantir a segurança da qualidade, promovendo a rastreabilidade", explica Emílio Garnham, diretor comercial da Tbit, empresa responsável pelo GroundEye. Os níveis de reprocessamento já chegaram a alcançar algo entre 10% e 20% em cada uma das empresas de grãos e sementes.
Se o sistema permite atestar a garantia das sementes, a dos grãos colhidos posteriormente também, o que poderia, inclusive, auxiliar produtores e compradores no momento da comercialização. Ainda segundo Garnham, o processo dos descontos praticados ao produtor poderiam passar por um processo mais justo, mais preciso, de acordo com taxas de umidade, de impureza, e demais categorias.
O software - que é customizável - conta com mais de 300 itens de classificação entre geometria, cor e textura e cria um banco de dados com as imagens e amostras, portanto, para as duas partes, produtores e compradores de grãos e cereais. Além disso, permite ainda a criação de um banco de dados com as análises realizadas, o que permite estudos posteriores ou o planejamento de estratégias de comercialização do ponto de vista do comprador ou do vendedor.
Mapeamento de informações
Tem sido recorrente uma busca do produtor em agir com cada vez mais precisão no campo, podendo ainda monitorar as informações que chegam de sua lavoura, como explica ainda Vitor Higa.
"O uso de monitores que permitem mapear e monitorar as informações do campo, combinado à automação de máquinas com pilotos automáticos e sistemas de correção via satélite como, por exemplo, o CenterPoint RTX da Trimble, possibilita ao agricultor o melhor aproveitamento de sua área, diminuindo erros relacionados ao direcionamento da máquina, muito importante no plantio", diz o engenheiro.
Otimização dos insumos
O agricultor hoje conta ainda com a possibilidade, entre outros mecanismos, de controlar sua aplicação de insumos. Há sistemas que permitem o controle da taxa de aplicação e o controle de sessão de fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes. "Eles permitem a aplicação localizada a taxas variáveis, considerando a variabilidade físico-química do solo e evitando a sobreposição de faixas. Deste modo há economia significativa de recursos ao produtor", aponta Higa.
Armazenagem
Toda essa eficiência, porém, acaba perdendo parte de seu potencial em agluns gargalos que ainda são registrados no período de pós colheita no Brasil. Somente no mesmo Rio Grande do Sul, os prejuízos financeiros com armazenagem passam de R$ 100 milhões, ou algo próximo a 2 milhões de toneladas. O problema, no entanto, se estende por todo o país. As estruturas públicas brasileiras estão defasadas e as particulares ainda são um investimento caro.
"Hoje temos tecnologias [no campo], mas precisamos acelerar mais o processo de investimento na pós-colheita", aponta Otávio Matos, gerente técnico da Cycloar, empresa que desenvolveu um sistema da exaustão para silos e armazéns que ajuda a manter as condições ideais de umidade e temperatura dos grãos. "É fundamental que o grão fique em um conforto térmico maior, para conter toda a sua energia para os mais diversos usos", completa.
Assunto em pauta
O setor de AgTech, inclusive, está em pauta e crescimento no setor, sendo tema - nesta quarta-feira (29) - do GAF Talks, um evento paralelo ao Global Agribusiness Forum. A proposta do encontro de líderes do agronegócio mundial é discutir a 'agricultura do futuro', com foco nos novos caminhos que vêm sendo observados pela tecnologia.
"Motivado pelo avanço das novas tecnologias na agricultura, como sistemas de monitoramento e rastreamento, uso de dados como mecanismo de controle de riscos, drones, inteligência artificial e softwares e aplicativos destinados ao produtor rural, o GAF Talks abordará, entre outros temas, o mercado AgTech (tecnologia para o agronegócio), Big Data no campo e o uso da inovação como instrumentos de gestão e apoio às decisões de risco e investimento, e a importância de repensar a comunicação do agronegócio nesse novo cenário", disseram os representantes do GAF Talks.
O evento será transmitido AO VIVO pelo Notícias Agrícolas a partir das 13h (horário de Brasília). Acompanhe!
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