Recessão no Brasil aprofunda no 3º tri e coloca 2017 em risco
Por Rodrigo Viga Gaier e Patricia Duarte
RIO DE JANEIRO/ SÃO PAULO (Reuters) - A recessão brasileira aprofundou-se no terceiro trimestre deste ano, com destaque para a forte queda dos investimentos e consumo, quadro que dificulta ainda mais a recuperação da atividade esperada para 2017 em meio ao aumento do desemprego e queda da confiança.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 0,8 por cento no trimestre passado sobre os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, marcando o sétimo trimestre seguido de contração e com a maior retração no ano nesta base de comparação.
Sobre o terceiro trimestre de 2015, o PIB despencou 2,9 por cento. Pesquisa da Reuters apontava que a economia teria queda de 0,8 por cento entre julho e setembro na comparação com o trimestre anterior e de 3,2 por cento sobre o terceiro trimestre de 2015.
"Os números que já saíram no final deste ano não alimentam muito otimismo, a confiança dá sinais de que pode cair e reflete certa decepção em relação à demora da economia de dar sinais de retomada", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. "Não me surpreenderia se voltasse a mostrar quadro de maior deterioração", acrescentou ele.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, voltou a despencar no trimestre passado, após ter subido no segundo trimestre pela primeira vez depois de recuar por 10 vezes consecutivas. Segundo o IBGE, a queda entre julho e setembro foi de 3,1 por cento, a mais acentuada desde o último trimestre de 2015 (-4,4 por cento).
O consumo das famílias caiu 0,6 por cento no terceiro trimestre sobre o anterior, em meio à dificuldade das pessoas em reduzirem suas dívidas com juros e desemprego elevados e também marcando o sétimo trimestre de queda seguido.
Os serviços, por sua vez, recuaram 0,6 por cento no período, também a sétima retração seguida.
Esse cenário tem abalado a confiança dos agentes econômicos, com destaque para a do consumidor que, neste mês, caiu pela primeira vez desde que o presidente Michel Temer assumiu a Presidência, em maio.
"Os dois setores que mais pesam sobre a economia, consumo e serviços, continuam mal. O que estamos vendo no Brasil são as empresas querendo reduzir dívida, e desalavancagem não rima com investimentos", afirmou o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall.
"A crise é de confiança, mas também de fundamentos, como o fiscal e a situação financeira das empresas. Mas acredito que estamos no caminho certo, com reformas e distensão monetária", acrescentou ele, para quem o PIB deve cair 3,5 por cento neste ano e crescer 0,5 por cento em 2017, número este com viés de baixa.
O cenário de maior otimismo visto com a mudança de governo vem perdendo fôlego, com a crise econômica derrubando o PIB potencial do Brasil, o que deve deixar a recuperação esperada para 2017 mais lenta. Alguns economistas já colocaram um sinal de alerta para o risco de o país estar próximo de um terceiro ano seguido de recessão.
INDÚSTRIA
Segundo o IBGE, todos os indicadores do PIB recuaram no trimestre passado sobre o segundo trimestre, com destaque também para a queda de 1,3 por cento da indústria, depois de ter subido 1,2 por cento entre abril e junho.
"Indústria e investimento, que tinham puxado o PIB no segundo trimestre (para cima), agora puxaram a queda", afirmou a economista do IBGE Rebeca Palis. "O investimento é muito influenciado por expectativas e pelo ambiente econômico", acrescentou.
Segundo o IBGE, no trimestre passado, a indústria de transformação recuou 2,1 por cento e a construção, 1,7 por cento. Na outra ponta, houve crescimento de 3,8 por cento na indústria extrativa mineral, puxada pela extração de petróleo e gás natural.
No setor externo, as exportações caíram 2,8 por cento, enquanto que as importações recuaram 3,1 por cento em relação ao segundo trimestre de 2016.
(Reportagem adicional de Camila Moreira)
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