Soja: Semana no Brasil tem foco no câmbio e altas de mais 1% nos portos
A semana foi agitada para o mercado da soja. Se de um lado as cotações foram duramente pressionadas na Bolsa de Chicago, de outro os preços nos portos do Brasil registraram ganhos significativos. Somente na sessão desta sexta-feira (24), os futuros da oleaginosa fecharam o dia com baixas de 14,75 a 19 pontos nos principais vencimentos.
Mercado Internacional
Para a soja negociada na Bolsa de Chicago, o principal fator de pressão sobre as cotações veio das previsões de clima mais favorável ao desenvolvimento da nova safra de grãos dos Estados Unidos. Os novos mapas meteorológicos apontam que as chuvas dão uma trégua ao Meio-Oeste americano e indicam ainda que o mês determinante para a cultura no país - agosto - também devem trazer um cenário de "menos ameaça às lavouras", segundo relatam, principalmente os analistas internacionais.
"Uma combinação de clima mais quente e úmido aparece nas previsões para os próximos dias, mas este não deverá ser um problema para a maturação da safra", acredita o analista de mercado e editor do site internacional Farm Futures, Bob Burgdorfer.
Chuvas nos EUA entre os dias 30 de julho e 3 de agosto - Fonte: NOAA
Temperaturas nos EUA entre os dias 30 de julho a 3 de agosto - Fonte: NOAA
E apesar da recente melhora nas condições de clima, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) manteve inalterado seu índice de lavouras de soja em boas condições nos EUA em 62% no último boletim semanal de acompanhamento de safras reportado no início da semana. Na próxima segunda-feira (27), os dados serão atualizados.
"Chamamos esse momento de mercado de clima. A mudança nas previsões mostrou que começamos com um excesso de chuvas e agora o esperado já é um clima mais seco e isso tem favorecido as quedas. As condições ajudam no desenvolvimento da soja e do milho e trouxe uma calma ao mercado, permitindo que os agentes saíssem de suas posições", explicou Mársio Ribeiro, consultor de mercado da Trini Consultoria.
Paralelamente, houve ainda uma pressão adicional do mercado financeiro, que também registrou uma semana atribulada e de direções divergentes ao longo da semana. Nesta sexta-feira, os principais ativos recuaram em todo o mundo, bem como as bolsas e demais commodities, não só agrícolas. Em contrapartida, o dólar subiu expressivamente - principalmente no Brasil.
"O câmbio em alta também tem mudado um pouco o mercado", disse Ribeiro. Além disos, o consultor afirmou ainda que as incertezas sobre o potencial da economia da China também veio ganhar força nos negócios desse final da semana de forma mais acentuada e ajudou a pesar sobre as cotações de uma forma geral.
Dólar
O dólar, nesta sexta-feira, fechou os negócios na máxima dos últimos 12 anos frente ao real. A moeda norte-americana terminou o dia com alta de 1,55% em R$ 3,3470, depois de bater no mais alto patamar do dia em R$ 3,3578. Na semana, o ganho acumulado foi de 4,79%.
No mercado brasileiro, a principal preocupação vem com as questões fiscais do país, agravadas após o corte das metas do governo federal para este ano e os próximos. Com um quadro que inspira cuidados, fica ameaçado agora o grau de investimento brasileiro pelas agências de classificação de risco.
"A decepção do mercado é palpável. A sensação é de que o governo está fazendo menos esforço do que devia", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano à agência Reuters.
"A drástica redução da meta para 2015, assim como o ajuste extremamente gradual esperado para os próximos anos, sublinha o esperado rebaixamento pela Moody's e pode também desencadear revisões por outras agências e a perda do grau de investimento", escreveram analistas do banco Brasil Plural em nota a clientes.
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Preços no Brasil
E foi essa puxada do dólar o maior catalisador para os preços da soja no Brasil, que fecharam a semana com ganhos acumualados de 0,4 a 3,38% nos principais portos do país. No entanto, no interior do país, as cotações não acompanharam esse movimento e em algumas praças de comercialização, as baixas superaram os 8% no balanço semanal.
No porto de Parananaguá, a soja disponível subiu, desde à última segunda-feira (20), 3,38% para fechar em R$ 76,50, enquanto para março/16, o último preço foi de R$ 75,30 e alta de 0,40%. Em Rio Grande, o produto disponível subiu 2,65% e o futuro 1,17% fechando em, respectivamente, R$ 77,50 e R$ 77,90 por saca. Em Santos, ganho de 1,17% para R$ 74,00.
Em Não-Me-Toque/RS, Ubiratã, Londrina e Cascavel no Paraná, os preços também subiram, como nos portos e alcançaram ganhos de 1,60% a 3,17%. Já em Tangará da Serra e Campo Novo do Parecis, ambas as praças em Mato Grosso, caíram 8,47% e 6,90% no balanço semanal.
A pouca disponibilidade de soja da safra 2014/15 tem sido, ao lado da valorização cambial e dos prêmios elevados nos terminais brasileiros, um dos principais catalisadores desses ganhos para os preços no mercado interno, principalmente nos portos. Os dois últimos meses foram de exportações recorde para a oleaginosa brasileira e a demanda continua muito aquecida.
Nesta sexta, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) elevou sua estimativa para as vendas externas de soja do país neste ano de 2015 para um recorde de 50,3 milhões de toneladas, contra o projetado em junho de 48,7 milhões. O número fica ainda bem acima das exportações de 2014 de 45,7 milhões de toneladas.
Paralelamente, há ainda a demanda interna que também se mostra muito presente. Apesar de margens mais ajustadas com a alta da soja em grão, as indústrias processadoras nacionais também vêm buscando matéria-prima para atender, principalmente o setor de rações diante de um aumento no consumo de proteína animal.
Em suas estimativas reportadas hoje, a Abiove revisou para cima também o processamento de soja no país este ano de 39,1 milhões para 40,1 milhões de toneladas, contra 37,62 milhões em 2014. A produção de farelo teve sua estimativa subindo de 29,8 milhões para 30,4 milhões de toneladas, e a de óleo passou a ser projetada em 7,95 milhões, contra 7,55 milhões do projetado em junho.
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