Política fiscal continua neutra ou contracionista, diz Nelson Barbosa

Publicado em 24/07/2015 15:00

Por Patrícia Duarte e Cesar Bianconi

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defendeu nesta sexta-feira que a política fiscal continua neutra ou contracionista, mesmo após a redução das metas de superávit primário, mas reconheceu que, no curto prazo, ela pode pressionar a inflação e obrigar uma resposta de política monetária.

"Você teve uma redução de meta (de superávit primário) com redução de gasto, não houve redução da meta para ampliar gastos.... Acho que a política fiscal continua neutra ou contracionista", afirmou o ministro em entrevista à Reuters, referindo-se às novas metas de economia para pagamento de juros da dívida pública anunciadas na quarta-feira.

"Por outro lado, tem o impacto indireto, que não é fruto da política fiscal, é a reação do mercado à revisão das metas fiscais que, nesse curto prazo, tem sido uma depreciação cambial que pode indiretamente bater na inflação e requerer resposta da política monetária", afirmou, acrescentando ainda que esse movimento pode ser revertido nas "próximas semanas".

Nesta sexta-feira, o dólar atingiu 3,34 reais, máxima em mais de 12 anos no intradia, ainda refletindo preocupações com o risco de o país vir a perder o grau de investimento após a mudança das metas fiscais. Na véspera, a moeda norte-americana já tinha subido mais de 2 por cento.

Segundo Barbosa, o esclarecimento da estratégia fiscal de médio e longo prazos tende a atenuar "essa resposta inicial na taxa de cambio e na taxa de juros, de modo a não criar nenhum problema para a política monetária".

Nesta manhã, o próprio Banco Central informou que surgiram novos riscos inflacionários e reafirmou que é preciso ficar "vigilante" para levar a inflação ao centro da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA-- no fim de 2016.

O governo anunciou na quarta-feira uma redução drástica das metas de superávit primário deste e dos próximos dois anos, em meio a um cenário de contração econômica.

A meta em 2015 foi cortada de 1,1 para 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2016 e 2017, os objetivos foram reduzidos a 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente, contra 2 por cento anteriormente nos dois anos.

Além da disparada do dólar, os mercados de juros futuros reagiram mal às novas metas fiscais, com apostas de que a taxa básica de juros --atualmente a 13,75 por cento ao ano e ainda em processo de elevação para controlar a inflação-- subirá mais neste ciclo de aperto e demorará mais para começar a ser reduzida.

Barbosa disse que já era esperada uma reação negativa do mercado às novas metas de primário, que foram reduzidas mais fortemente devido à frustração com as receitas, sobretudo via massa salarial, que pesa na Previdência e nas despesas com seguro-desemprego.

O ministro voltou a defender que os novos objetivos fiscais são mais realistas e suficientes para estabilizar a dívida pública do país. Ele argumentou que o governo usa diversas variáveis para chegar às suas projeções para o comportamento da dívida como proporção do PIB, como crescimento, inflação, câmbio, juros e composição do endividamento, bem como o impacto das operações de swaps cambiais no pagamento de juros líquidos.

"É importante trabalhar com cenário bem realista. É importante mostrar que, mesmo com esse cenário realista, a situação fiscal está controlada", disse.

No cenário do governo, a relação dívida bruta/PIB vai subir até 2016 e chegar ao patamar de 66 por cento, frente a pouco mais de 62 por cento agora. A partir de 2017, ela se estabilizaria, cenário que foi rechaçado por boa parte dos economistas, cujas projeções indicam que a dívida pode chegar a 70 por cento do PIB no período.

"Não é uma redução da meta (fiscal) para se gastar mais. É uma redução gerada principalmente pela desaceleração econômica e revisão das receitas adicionais que esperávamos neste ano", afirmou o ministro, acrescentando que não há, no momento, estudos para elevar impostos e buscar mais receitas.

CONGRESSO

Mesmo diante da intensa crise política entre o Executivo e o Legislativo, o ministro afirmou que o governo continuará enviando medidas ao Congresso Nacional para dar continuidade ao ajuste fiscal.

"O Estado brasileiro, a sociedade brasileira, têm todos os instrumentos necessários para resolver os problemas que temos. O problema é construir consenso gradual sobre essa estratégia de solução. Numa democracia, essa construção leva algum tempo, mas ela acontece."

Na quinta-feira, Barbosa esteve reunido com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para pedir apoio às propostas de redução da meta fiscal, que precisam do aval do Congresso. Ele disse que se encontrará com o presidente do Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que recentemente anunciou seu rompimento pessoal com o governo.

Para o ministro, a economia brasileira vai começar a se recuperar no quarto trimestre deste ano, de forma gradual. A projeção do governo é de que o PIB encolha 1,49 por cento em 2015.

(Reportagem adicional de Walter Brandimarte)

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário