Folha entrevista Wesley Batista, da JBS: "Mercado de carne bovina está passando por um momento difícil"

Publicado em 22/07/2015 10:08
"O mais preocupante é a perda de competitividade", diz WESLEY BATISTA. PARA O PRESIDENTE DA JBS, QUE COMANDA NEGÓCIOS EM 20 PAÍSES, CUSTO BRASIL CRESCE E INCOMODA MAIS DO QUE CRISE ECONÔMICA, por TATIANA FREITAS, da FOLHA DE SÃO PAULO

 

O país atravessa o pior ano das últimas duas décadas e a crise econômica afeta parcialmente as operações da JBS, maior empresa de proteína animal do mundo. Nos últimos dois meses, a empresa fechou cinco frigoríficos de carne bovina no país.

Mas o presidente da companhia, Wesley Batista, diz que a crise econômica não é o que mais preocupa. "Todo ajuste é dolorido, mas achamos que em 2017 ou 2018 o país volta para o trilho. O que nos preocupa é que o Brasil está perdendo competitividade", diz Batista, que lidera os negócios de uma empresa presente em mais de 20 países.

No exterior, a disposição de investir continua alta. Nos últimos 30 dias, fez duas aquisições na Europa e nos EUA que somaram US$ 3 bilhões e serão pagas com os R$ 14 bilhões em caixa e financiamento nos EUA. "Acessar o mercado de capitais de outros lugares do mundo, sem o custo Brasil, é um benefício da JBS", diz.

Em entrevista à Folha, ele ainda defendeu a nova campanha publicitária da Seara, a marca de alimentos industrializados da JBS, que gerou polêmica com a rival Sadia. "Para mim, S é de Seara."

Folha - Como está o mercado de proteína animal no país?

Wesley Batista - O segmento de carne bovina passou o semestre mais difícil dos últimos anos. Houve uma queda muito grande das exportações e os consumidores no Brasil estão mudando para o frango para manter a proteína dentro de casa. Com a junção dessas duas coisas, a indústria está passando por um momento difícil.

Não dá nem para baixar o preço da carne porque o custo de produção continua elevado?

O preço vem baixando um pouco nos últimos meses porque não tem demanda. Está faltando boi e sobrando carne. Eu estou nesse negócio há mais de 25 anos e nunca tinha visto a combinação tão severa de queda nas exportações e do consumo interno. O lado positivo é que a JBS Foods [que inclui carne de frango] vai bem, com a maior procura no mercado pelo frango. A exportação também vai bem.

Essa combinação severa em bovinos fechou unidades?

Falta boi e sobra carne. Não está vendendo. Vai fazer o que, com a economia brasileira do jeito que está indo? A indústria está se ajustando.

A JBS interrompeu a produção em quantas unidades?

Cinco. Estávamos crescendo, abrimos fábricas, compramos empresas. Nós tivemos uma surpresa. A coisa está cada dia mais difícil.

Como o sr. vê o atual momento econômico?

Somos uma empresa otimista, mas não adianta tapar o sol com a peneira. Temos uma realidade super desafiadora no Brasil. 2015 está sendo um dos anos mais difíceis das últimas duas décadas. Nós acreditamos muito na capacidade de recuperação. Mas, se você me perguntar como está a curto prazo, eu respondo que está difícil e vai continuar difícil. No médio prazo, em 2017 ou 2018, o Brasil volta para o trilho. Este é o ano mais difícil do ciclo.

Isso muda os planos da JBS?

Não mudamos a nossa estratégia de investimento para o país porque estamos olhando para frente. Se fôssemos olhar para este ano e tirar uma fotografia, teríamos parado. Agora, estamos fazendo os ajustes necessários. Você tem que dançar conforme a música.

Todo ajuste é complicado, no setor público ou no privado, é sempre dolorido, causa estresse.

O sr. acha que a situação melhora no médio prazo?

Nos preocupamos menos com o momento e mais com o caminho. O juro está alto porque tem que ficar alto momentaneamente. A inflação está alta e tem que voltar para a meta. Em um, dois, três anos o juro pode voltar para níveis mais acessíveis. A economia vai decrescer, mas daqui a pouco ajusta. O que mais nos preocupa é a competitividade. O Brasil está perdendo competitividade e precisa de reformas estruturais para mudar isso.

O ambiente para negócios pirou?

Estamos regredindo nas áreas tributária, trabalhista... As relações trabalhistas estão a cada dia mais litigiosas. Há dez anos, o sistema tributário era mais simples do que é hoje. A insegurança jurídica está aumentando no Brasil. Acordo coletivo valia há dez anos. Hoje, não vale mais nada. Isso tudo preocupa. Hoje eu falo com conhecimento de causa. Eu ouvi por muitos anos falar em custo Brasil e, na realidade, eu não conseguia mensurar isso. Hoje, a JBS tem operações grandes em diversos países e eu sei exatamente o que é o custo Brasil e a sua complexidade.

Faz quase dois anos que a JBS comprou a Seara da Marfrig. É possível fazer um balanço?

Quando compramos a Seara, dissemos que iríamos investir para conquistar a confiança do consumidor. Esse é o nosso foco: investir maciçamente em qualidade, inovação e comunicação. Tivemos uma evolução, ganhamos fatia de mercado. Temos feito campanhas para a Seara e estamos muito satisfeitos.

E essa polêmica da campanha do S, de Seara?

Não tem polêmica nenhuma. A Seara começa com S e termina com A.

A BRF [dona da Sadia] questionou a propaganda.

Concorrência é concorrência. Eu não posso falar por eles o que viram no filme... Qual é o presunto que começa com S e termina com A? Seara começa com S e termina com A. Se tivéssemos falando alguma mentira... Difícil falar qual foi a motivação do concorrente.

Mas é uma referência à marca Sadia. O sr. nunca pensou na Sadia ao se perguntar qual presunto começa com S e termina com A?

É sério que nós pensávamos que Seara começa com S e termina com A. Então vai aí a campanha.

Quem é o principal concorrente da Seara? Sadia ou Perdigão?

Concorremos com todo mundo: Aurora, Sadia, Perdigão... Em troca do que? Do consumidor. Pode até parecer que não, mas olhamos muito para dentro de casa. O que os outros fazem a gente não controla. Controlamos a qualidade dos nossos produtos, execução no ponto de venda, pontualidade... Estamos focados nisso para ganhar a preferência do consumidor.

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Folha de S. Paulo + VEJA

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2 comentários

  • Vilson Ambrozi Chapadinha - MA

    Como pode o sr .Wesley Batista mensurar a crise com os ultimos 20 anos. Quem era o JBS há 20 anos?

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      SE PREPAREM !!! A HORA QUE VIER A "marolinha JBS" ... NÃO VAI SOBRAR NENHUM CHIFRE... SERÁ A DERROCADA DA PECUÁRIA NACIONAL!!! ...QUEM VIVER...VERÁ !!!

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    • Dalzir Vitoria Uberlândia - MG

      Caro Paulo Rensi..empresa deste porte só muda de dono em caso de dificuldades financeiras...mas a conta quem paga é o primeiro elo da cadeia...o pecuarista...e hoje quem está pagando é o contribuinte brasileiro...ou seja pagando a diferença de juros entre o valor que é emprestado pelo BNDS ao JBS e o valor de mercado....está tudo incluso no ajuste fiscal...se formos pedir ao petista de Campo Alegre a culpa é do FHC e uma ponte entre Goiás e Minas...

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    • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

      Imagino se acontecer o impeachment !!... Troca de governantes, de pessoas no poder, mudam-se os leitões, as tetas continuam as mesmas. Os leitões que perderem as tetas, muitos "morrem" de fome, pois só sabem mamar deitado, empresários exemplares do petismo que foram agraciados com os juros de pai para filho do BNDES e, quando não conseguiram quitar as primeiras parcelas da divida a CAIXA (CEF) ficou sócia do frigorifico. BraZil: PÁTRIA SUÍNA !!!

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  • Gilberto Rodrigues Freitas Mineiros - GO

    Muito engraçado... outro dia a matéria sobre a JBS colocava a empresa como uma das que ganhariam com a desvalorização do real.

    A matéria dizia inclusive que, a cada 1% de alta no dólar, o lucro da companhia aumentava U$ 940 milhões... Agora, essa estória de fechar plantas é conhecida... no vale do Araguaia, por exemplo, tem frigorífico arrendado pra ficar fechado e assim não atrapalhar o oligopólio...

    Talvez se o BNDES voltar com os financiamentos, as plantas se abram de novo, mas... ou talvez comprem outro canal de televisão e aí o assunto do oligopólio, pra não dizer cartel, suma de vez.

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Muito interessante a entrevista e o que disse Wesley Batista, quase que diretamente ele fala que há um desajuste na economia brasileira, acho que não chegou a dizer com todas as letras para não ter que falar da responsabilidade do governo. Eu acho que ele está certo, o problema brasileiro é competitividade. Ele é comprador, mas os dados corroboram o que ele diz, pois a queda no consumo interno e externo já vem há um bom tempo. Falta boi e sobra carne, esse foi um dos resultados da politica economica brasileira. Discordo dele apenas na parte que diz que em 2 ou 3 anos melhora,... não vai melhorar assim tão fácil. A a quebradeira vai ser violenta, e os petistas continuarão a limpar a própria sujeira na sujeira do FHC, como se isso resolvesse. Comprar dólares vai dar mais lucro que trabalhar. É o triste fim do partido dos trabalhadores.

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    • ARLINDO ALBRECHT Campo Alegre de Goiás - GO

      "Os petistas continuarão a limpar a própria sujeira na SUJEIRA do FHC" O Sr. Rodrigo Polo Pires,sempre tentou santificar o PSDB e beatificar o FHC,escrevendo estas palavras ? Acho que ele já encontrou um novo ídolo de barro!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Ri muito Sr. Arlindo, te aconselho a pegar um dicionário e procurar o significado da palavra ironia. Não dá para limpar sujeira com sujeira não é mesmo? Ou propositalmente o Sr. esqueceu da primeira parte da frase? O Sr. realmente acredita que o PT se limpa, usando a sujeira alheia para se limpar? Fica mais sujo ainda, entendeu? Ou quer que desenhe?

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    • ARLINDO ALBRECHT Campo Alegre de Goiás - GO

      Sr. Rodrigo Polo Pires,confundir saída estratégica,com saída de emergência é pra acabar com os pequi do Goiás.Tenho observado sua" ironia" em vários comentários seus em relação ao PSDB e seu ex-ídolo FHC.E não é pra menos,pois um presidente reeleito em primeiro turno,depois de nove meses no segundo mandato tem aprovação de 8% dos eleitores e 65% desaprovam a sua gestão.É porque fez muita coisa boa para o povo brasileiro.( Na última frase estou sendo moderadamente irônico)

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Não é saida Sr. Arlindo, é argumento, coisa que lhe falta. Em vez de falar mal de mim, dizendo que sou ambiguo, aponte em que, Sr. Arlindo. Qual ironia fiz que lhe incomodou a ponto de querer fazer com que as pessoas pensem que não sou, como é mesmo que esquerdistas dizem, "coerente". Se quiser criticar FHC critico Sr. Arlindo, pois não tenho respeito humano a ponto de defender qualquer sujeira como o Sr. faz com Dilma e Lula. Fico alegre que tenha ido ao dicionário e aprendido o que é ironia, e dispenso apontamentos, pois ao contrário do Sr. sei reconhecer uma quando leio.

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    • ARLINDO ALBRECHT Campo Alegre de Goiás - GO

      Sr. Rodrigo,o seu ponto forte não é a ironia,mas a hipocrisia!

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    • Dalzir Vitoria Uberlândia - MG

      Caro ARLINDO...quem é muito apaixonado por partido político perde o censo de discernimento e vira boi de presépio e acaba concluindo que a biblia que está errada...temos ainda no Brasil menos de 7% de cegos e não falo de partido e sim pessoas que administram o país sem um mínimo de ética...honestidade...e competencia...afinal a presidente sequer a teve a capacidade de administrar uma BODEGA de 1,99...se voce diz ser paranaense sabe o que é uma bodega..

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