Milho: Exportações, ao lado do câmbio, serão determinantes para sustentação do mercado interno
A pressão que recai sobre o dólar frente ao real poderia pesar ainda sobre as cotações do milho no mercado brasileiro. Depois de bater no maior valor dos últimos 12 anos na última quinta-feira (19) chegando aos R$ 3,30, a moeda norte-americana desencadeou um movimento de baixa e, nesta terça-feira (24), já opera ligeiramente acima dos R$ 3,10.
Assim, as cotações do cereal nos portos, por exemplo, que chegaram a operar com valores entre R$ 30,50 até R$ 33,00 por saca nos melhores momentos nos últimos dias, já apresentam um recuo neste início de semana. Nesta terça, o milho fechou o dia com R$ 30,00 por saca em Paranaguá, com uma alta de 1,695 em relação ao dia anterior, quando encerrou os negócios com R$ 29,50.
A moeda norte-americana, na sessão desta terça, fechou em baixa pelo terceiro dia consecutivo, com recuo de 0,57% a R$ 3,1275. Nos últimos três sessões, as baixas acumuladas já são de 5,13%. Além de um quadro menos tenso no cenário externo, a declaração do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre o programa de swap cambial no país ajudou a pressionar a divisa frente ao real.
Além disso, houve ainda a manutenção da nota de crédito do Brasil em BBB- pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. "É um voto de confiança no governo em um momento em que o mercado estava com medo de o Brasil perder o grau de investimento", disse o superintendente de câmbio da corretoraTov, Reginaldo Siaca ao G1.
Além do desenvolvimento da taxa cambial, o outro fator que deverá ser determinante para o mercado interno do milho, segundo explica o consultor de mercado da Safras & Mercado, Paulo Molinari, será a exportação brasileira. "As exportações são um elemento básico para o sucesso dos preços ao longo do ano", diz. Afinal, o Brasil - com uma safrinha estimada em 46 milhões de toneladas nesta temporada caso o clima continue favorecendo o desenvolvimento das lavouras - cria um excedente anual de 20 a 25 milhões de toneladas do cereal.
Apesar disso, ainda de acordo com Molinari, as vendas antecipadas da safrinha mostram um ritmo lento devido à alta volatilidade do câmbio. "Muitos acreditam em um dólar valorizado no segundo semestre e isso vai contendo o ritmo de vendas antecipadas", explica o consultor. A orientação, no entanto, "é de que os produtores observem as oportunidades que forem surgindo". Os preços que estão sendo praticados atualmente, inclusive no interior do país, já estão acima dos que foram registrados no ano passado.
"Se tivermos excesso de oferta no segundo semestre, sem exportações, teremos baixas de preços independente de onde estiverem os custos de produção", alerta Paulo Molinari. E não há, ainda segundo acredita o consultor, problemas com a demanda externa, que segue forte. No entanto, a entrada da nova safra norte-americana poderia pesar sobre as cotações e atrair os compradores com preços mais atrativos.
Até a terceira semana de março, o Brasil exportou 477,1 mil toneladas de milho, com uma receita que ficou em US$ 95,8 milhões. O preço médio da tonelada do cereal ficou em US$ 200,70. Uma baixa de 44,3% foi registrada entre fevereiro e março no valor médio exportado pelo Brasil, a quantidade foi 48,2% menor, porém, o preço médio registrou uma valorização, no mesmo período, de 75%. Já em relação a março de 2014, a quantidade apresenta uma redução de 4,6% e o preço médio é 5,4% menor.
Mercado Interno x Mercado Internacional
Na Bolsa de Chicago, o mercado vem buscando manter certa estabilidade à espera, principalmente, dos números que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulga no final do mês sobre a área de plantio da safra 2015/16 no país. E as expectativas dos traders é de que o grão apresente uma redução de área na temporada que se inicia nos próximos meses dada a relação de preços com a soja ainda favorável para a oleaginosa.
Ainda assim, mesmo que esse recuo se confirme, a safra norte-americana ainda apresentaria um volume extremamente significativo, com um produto altamente competitivo no quadro global.
"Apesar de uma redução na área do milho, teríamos, além de muita soja no segundo semestre, também uma boa oferta de milho americano no mercado internacional. Isso poderia, talvez, afetar a demanda pelo milho brasileiro", explica o consultor da Safras & Mercado. "Quanto mais o produtor atrasar as vendas, menos exportaremos. Então, dependemos, infelizmente, de um bom fluxo de embarques de milho no segundo semestre e, sem isso, os preços não se sustentam", completa.
CBOT - Nesta terça-feira, os futuros do milho fecharam a sessão em alta na Bolsa de Chicago, com ganhos de mais de 4 pontos entre os principais vencimentos. As cotações registraram suas máximas em duas semanas, segundo explicaram analistas internacionais.
"O mercado do milho fechou em campo positivo pelo terceiro dia e frente ao boletim de intenção de área de plantio que o USDA traz no final do mês e que deve mostrar produtores americanos plantando menos acres com milho este ano", disse Bob Burgdorfer, analista de mercado e editor sênior do site Farm Futures.
Veja como fecharam as cotações do milho nesta terça-feira:
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