Desemprego no Brasil cai a 6,5% no 4º tri mas emprego formal volta a cair

Publicado em 10/02/2015 09:39

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Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A taxa de desemprego no Brasil caiu a 6,5 por cento no quarto trimestre de 2014 na comparação com o período imediatamente anterior, mas houve queda pela segunda vez seguida no emprego com carteira assinada no setor privado.

O resultado apurado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou 0,3 ponto percentual abaixo do período entre julho e setembro.

Entretanto, superou a leitura do quarto trimestre de 2013, quando a taxa de desocupação no país havia alcançado 6,2 por cento.

Com isso, a taxa média de desemprego no Brasil do ano passado ficou em 6,8 por cento, contra 7,1 por cento em 2013 e 7,4 por cento em 2012, quando começou a série do IBGE da Pnad Contínua.

A taxa média do ano também superou o resultado médio apurado pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) --que deve ser substituída pela Pnad Contínua-- de 4,8 por cento, menor nível histórico.[nL1N0V81GY]

Segundo a Pnad Contínua, o emprego formal no setor privado recuou 0,4 por cento no quarto trimestre sobre os três meses anteriores, quando havia caído na comparação com o período imediatamente anterior pela primeira vez desde o início da série histórica do levantamento, em janeiro de 2012. No quarto trimestre, 147 mil pessoas deixaram de ter carteira assinada, apontou o IBGE.

A pesquisa mostrou ainda que o nível de ocupação no país no quarto trimestre foi de 56,9 por cento, contra 56,8 por cento no terceiro trimestre e 57,3 por cento nos últimos três meses de 2013.

Entre outubro e dezembro, a população ocupada atingiu 92,875 milhões de pessoas, uma alta de 0,7 por cento sobre o terceiro trimestre. O total era composto por 69,5 por cento de empregados, 4,2 por cento de empregadores, 23,4 por cento de pessoas que trabalham por conta própria e 2,8 por cento de trabalhadores familiares auxiliares.

Também colaborou para o recuo na taxa de desemprego no quarto trimestre a queda de 3,8 por cento no número de desocupados sobre o terceiro trimestre, que agora são 6,452 milhões de pessoas no quarto trimestre de 2014.

Pelas regiões, a taxa mais alta de desocupação no quarto trimestre foi vista no Nordeste, com 8,3 por cento. Já a menor foi registrada no Sul, com 3,8 por cento.

O mercado de trabalho vem dando sinais recorrentes de esgotamento diante da economia frágil, da inflação alta e dos juros elevados, com redução da criação de vagas.

Buscando reconquistar a confiança de investidores e reverter o quadro econômico, a nova equipe econômica já anunciou uma série de medidas fiscais para colocar em ordem as contas públicas. Mas a visão predominante é de que uma piora no desemprego em 2015 seja invevitável.

A Pnad Contínua tem divulgação trimestral e maior abrangência nacional que a PME, que leva em consideração dados apurados apenas em seis regiões metropolitanas do país.

 

Em VEJA: Número de trabalhadores na indústria cai 3,2% em 2014

Segundo IBGE, foram oito meses seguidos de recuo no indicador, com um leve respiro em dezembro, quando houve aumento de 0,4%

Na comparação de dezembro de 2014 com 2013, o emprego industrial caiu 4%

Na comparação de dezembro de 2014 com 2013, o emprego industrial caiu 4% (Rodolfo Buhrer/Reuters/VEJA)

Depois de oito meses de queda, o indicador de emprego na indústria subiu 0,4% em dezembro. Contudo, a alta não foi suficiente para compensar o ano ruim do setor e o total do número de trabalhadores na indústria recuou 3,2% no acumulado de 2014, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o terceiro ano seguido que a taxa apresenta queda. Em 2013, a taxa anual havia caído também, mas menos,1,1%. Em 2012, a baixa foi de 1,4%.

Na comparação de dezembro passado com o de 2013, o emprego industrial caiu 4%. Este é o 39º resultado negativo consecutivo nesse tipo de comparação.

O principal impacto negativo sobre a média geral foi observado em São Paulo, onde o número de pessoal ocupado caiu 4,7%. Também ficaram no campo negativo as regiões Nordeste (queda de 4,4%), Minas Gerais (4,5%), Norte e Centro-Oeste (4,4%), Rio Grande do Sul (3,3%), Paraná (2,8%) e Rio de Janeiro (4,0%). 

Leia também: Taxa de desemprego cai para 6,8% em 2014, aponta Pnad Contínua 
O pilar do emprego começa a ruir — e as demissões batem à porta  
Criação de vagas de trabalho é a pior desde 2002

Ainda segundo o instituto, em dezembro, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria, já descontadas as influências sazonais, caiu 0,1% ante novembro. Na comparação com dezembro de 2013, o número de horas pagas recuou 5,3%, 19ª taxa negativa consecutiva neste tipo de confronto. No acumulado do ano, o indicador retraiu 3,9%.

Cenário ruim - A variação, contudo ainda não reflete bem o cenário de emprego no Brasil. As notícias de demissões, que começaram no fim do ano passado, são muitas. Só as montadoras demitiram 12,4 mil trabalhadores em 2014. No setor de autopeças foram 19 mil cortes. Os bancos também já dispensaram 5 mil postos de trabalho no ano passado, segundo pesquisa divulgada em meados de janeiro pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em parceria com o Dieese.

Os próprios dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostraram que não foi um bom ano para o mercado de trabalho. Foram criadas apenas 396.993 vagas de emprego, queda de 65% em relação a 2013, quando o saldo líquido foi de 1.138.562 postos de trabalho, e o menor saldo líquido desde 2002. 

Os principais pilares que seguravam a economia brasileira se deterioraram fortemente em 2014: os investimentos, o consumo e as exportações. O único remanescente era o emprego, do qual os governos petistas sempre se gabaram para justificar suas políticas econômicas heterodoxas. Mas, tudo indica, o cenário mudou. Ocorre que a taxa de desemprego, que terminou 2014 em sua mínima histórica de 4,3%, vinha sendo sustentada não só pela criação de vagas, mas também pela grande quantidade de brasileiros em idade ativa que não procurava trabalho. Com o aperto nas regras do seguro-desemprego anunciado no apagar das luzes de 2014, muitos devem voltar à procura. Contudo, dados coletados pela Fundação Getulio Vargas a pedido do site de VEJA mostram que esses brasileiros não encontrarão boas notícias. O indicador de ‘emprego futuro’ de janeiro de 2015, que apura a confiança da população em relação ao trabalho, atingiu seu pior nível desde o início de 2009. Em um ano, acumula queda de 24%.” 

 

Mercado de trabalho

O pilar do emprego começa a ruir — e as demissões batem à porta

Em ano de ajuste fiscal, a menor abertura de vagas aliada à fraqueza econômica e inflação elevada ameaçam a estabilidade do mercado de trabalho

Luís Lima e Naiara Infante Bertão
Rafael César, de 31 anos, busca emprego desde dezembro e tem encontrado dificuldades.

Rafael César, de 31 anos, busca emprego desde dezembro e tem encontrado dificuldades. "Muitas empresas estão fechando vagas", diz (Lucas Lacaz/VEJA)

Os principais pilares que seguravam a economia brasileira se deterioraram fortemente em 2014: os investimentos, o consumo e as exportações. O único remanescente era o emprego, do qual os governos petistas sempre se gabaram para justificar suas políticas econômicas heterodoxas. Mas, tudo indica, o cenário mudou. Ocorre que a taxa de desemprego, que terminou 2014 em sua mínima histórica de 4,3%, vinha sendo sustentada não só pela criação de vagas, mas também pela grande quantidade de brasileiros em idade ativa que não procurava trabalho. Com o aperto nas regras do seguro-desemprego anunciado no apagar das luzes de 2014, muitos devem voltar à procura. Contudo, dados coletados pela Fundação Getulio Vargas a pedido do site de VEJA mostram que esses brasileiros não encontrarão boas notícias. O indicador de ‘emprego futuro’ de janeiro de 2015, que apura a confiança da população em relação ao trabalho, atingiu seu pior nível desde o início de 2009. Em um ano, acumula queda de 24%. 

Demitido em dezembro do ano passado, o relações públicas Rafael César, de 31 anos, não tem poupado esforços para se recolocar no mercado de trabalho. "Chego a mandar 20 currículos por dia, incluindo carta de apresentação, até para áreas fora da comunicação, como a comercial", afirmou o paulista de Taubaté, que atuou durante quatro anos numa grande empresa de telecomunicações. "Com a queda nas vendas, o departamento comercial inteiro da companhia foi mandado embora", conta. A justificativa para os desligamentos, segundo ele, foi a de corte de gastos e baixos resultados financeiros. 

A situação de Rafael é emblemática e reflete como a desaceleração do consumo, motivada por inflação alta e a atividade econômica fraca, impacta o mercado de trabalho. Em 2015, ano que em que o próprio governo espera um crescimento zero e a  inflação já supera os 7% - bem acima do teto da meta oficial, de 6,5% - a expectativa é de que o emprego seja penalizado. O levantamento feito pela FGV mostra ainda que o indicador que mede a expectativa de contratação dos empregadores da indústria, do setor de serviços, da construção civil e do comércio despencou abaixo dos 100 pontos, ante os 110 pontos verificados um ano atrás, e os 140 de janeiro de 2010. "Em 2015, a geração de empregos formais tende a ficar anêmica, já que também é um ano de ajustes pesados e necessários na economia", diz o professor José Pastore, da Universidade de São Paulo (USP), um dos maiores especialistas em mercado de trabalho do país.

VEJA

Resultado dessa deterioração de expectativas é a desaceleração no ritmo de criação de vagas. Em 2014, o país criou 396.933 postos, o pior resultado desde 1999. Por setor, a indústria de transformação foi a que mais demitiu: cortou 163.817 empregos. Já o setores de serviços e comércio abriram, respectivamente, 13% e 40% vagas a menos na comparação com 2013. "Em setores em que as demissões superam as contratações, como indústria e construção, os números devem continuar no terreno negativo. Já nos setores em que as contratações superam as demissões, como comércio e serviços, a tendência é de um menor ritmo de admissões", afirma Aloisio Campelo, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). 

 

 

As notícias de demissões, que começaram no ano passado, são muitas. Só as montadoras demitiram 12,4 mil trabalhadores em 2014. No setor de autopeças foram 19 mil cortes. Os bancos também já dispensaram 5 mil postos de trabalho no ano passado, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). Para este ano, o cenário que se desenha não é animador. A associação dos fabricantes de veículos, Anfavea, relatou que mais de 12 mil vagas já foram extintas no setor apenas no primeiro mês do ano.

 

 

Sara Palma em São Bernardo do Campo

"Percebo que houve um aperto no mercado de trabalho, que tem a ver com momento econômico", diz a pedagoga Sara Palma, de 30 anos Ivan Pacheco/VEJA.com

Segundo especialistas, a taxa de desemprego deve começar a sentir o impacto da crise já nos primeiros meses deste ano, já que muitas pessoas que desistiram de procurar emprego devem tentar voltar a um mercado desaquecido e sem tantas oportunidades. Com isso, o indicador deve subir para um patamar acima de 6%, no caso da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), e de 8% considerando a Pnad Contínua, que foi recentemente adotada pelo IBGE para medir a temperatura do mercado de trabalho. A professora e pedagoga paulistana Sara Palma, de 30 anos, já contribui para esta elevação. Demitida de uma distribuidora de petróleo em dezembro, onde trabalhava na área de vendas, ela tenta voltar a atuar na área, mas ainda não conseguiu se recolocar devido às dificuldades do mercado. "Percebo que houve um aperto nas contas, que tem tudo a ver com o momento delicado da economia. Muitas universidades e colégios particulares se reestruturaram e estão reaproveitando o pessoal interno, para produzir mais com menos", diz.

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O pessimismo em relação à economia é reforçado pelos baixos índices de confiança, de empresários a consumidores, que atingem mínimas recordes. Dados do Ibre/FGV mostram que a confiança do consumidor atingiu em janeiro o menor patamar da série histórica, que começou em 2005. Na mesma linha, os índices de confiança do comércio e de serviços também alcançaram os menores patamares históricos no primeiro mês do ano. "Na cabeça de empresas e consumidores, a percepção é de continuidade do cenário de atividade fraca. E o 'mais do mesmo' causa um desapontamento, já que não se vislumbra uma luz no fim do túnel", afirma Aloisio Campelo, economista da FGV. 

Da perspectiva das empresas, a estratégia tem sido aumentar o rigor na hora da contratação. "Como as coisas estão mais difíceis, as companhias não podem errar no processo de seleção. Cada recurso é um investimento, então as empresas querem fazer a admissão certeira, já que não há mais margem para investir tanto na qualificação do funcionário", ressalta Leonardo de Souza, diretor-executivo da Michael Page. "Não terá muito espaço no mercado para profissionais menos qualificados. As contratações estão mais direcionadas para uma posição-chave", acrescenta Alessandra Zambroni, consultora da DM Executivos, do grupo Cia. de Talentos.   

Água e energia - A crise hídrica, que afeta especialmente a região Sudeste, pode respingar no mercado de trabalho. Entre os setores mais vulneráveis, segundo José Pastore, estão o comércio e as indústrias de alimentos, têxtil, de cimento e papel e celulose, que podem sofrer um aumento de custos. Deve-se considerar, no entanto, que grandes empresas podem estar menos expostas à falta d'água. Isso porque muitas delas já investiram em alternativas, como o abastecimento privado e reuso de água, para evitar um impacto maior. Além disso, muitas têm plantas em diversos Estados do país, e não dependem exclusivamente do Sistema Cantareira, que fornece água para São Paulo e quase metade de região metropolitana. Irineu Carvalho, do Itaú BBA, também cita os setores de hortifrúti, restaurantes e hotéis. "Para um restaurante, um poço artesiano sai caro, então ele vai depender de caminhões pipa", diz. 

No caso da crise energética, o impacto é generalizado e ameaça todos os setores econômicos. Carvalho pondera, no entanto, que as consequências podem ser mais amenas do que as vistas no apagão de 2001, quando houve um corte de fornecimento na casa dos 20%. Para este ano, a previsão do banco é de que ocorra uma redução de até 10%, resultado, sobretudo, dos investimentos em interligação dos sistemas.

Petrobras - Os analistas também manifestaram preocupações em relação a prestadoras de serviços da Petrobras, em meio às denúncias de desvios de recursos investigadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). No conjunto, estima-se que apenas em novembro do ano passado, foram fechados 10 mil postos de trabalho entre fornecedoras e companhias contratadas em empreendimentos como as refinarias do Comperj, no Rio de Janeiro, e de Abreu e Lima, em Pernambuco. "As denúncias de corrupção e o risco de insolvência afeta diversas empresas, que podem continuar reduzindo seu quadro de funcionários. Isso deve acelerar de forma significativa em 2015", prevê Pastore. 

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Fonte:
Reuters + VEJA

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