Fala Produtor - Mensagem

  • Climaco Cézar de Souza Taguatinga - DF 05/05/2008 00:00

    Prezados amigos do Noticias Agrícolas.

    Respondendo as perguntas abaixo do amigo José Joaquim Francisco de Sousa de Guaraí-TO - acerca das seguidas quedas da renda agrícola efetiva e da evolução do endividamento e da quebradeira - informo que, ao meu ver e para debate, entendo que diversos fatores externos e internos estão contribuindo seguidamente para as quedas de renda e que os produtores deveriam procurar acompanhá-las bem.

    Como fatores externos ao imóvel rural e sobre os quais dificilmente os produtores, sobretudo os não organizados em bons grupos ou boas cooperativas, tem condições de influir, penso que sejam:

    a) baixo nível de concessão de credito rural e por prazos muito curtos e não compatíveis com as atividades (vide ao final);

    b) baixíssimo nível de proteção de preços (hedge) pelas cooperativas e produtores nas bolsas de mercadorias, externas ou internas; Também ocorre a não transferência dos resultados do hedge efetivado pelas trading e empresas de insumos para os produtores rurais e que deveriam/precisariam serem vistos como parceiros ou galos de ouro;

    c) elevadíssimos preços das máquinas agrícolas (com aço, borracha e tecnologias nacionais, chegando a valerem 30 vezes o valor de 01 carro popular), baixo nível de utilização, elevado nível de obsolescências e, praticamente, não haver incentivos para patrulhas mecanizadas e terceirização de cultivos como é comum nos EUA e Argentina; A desculpa, em geral, é a elevada tributação, mas só que esta vigora para todos e não há como muda-la em curto prazo;

    d) suspeitas de bloqueio fechadíssimo e sistemático de cerca de 1.000 novas e viáveis explorações de minas de fosfato, e mesmo 0 1 de potássio, no DNPM, e não é preciso de dizer por quem;

    e) preços elevadíssimos dos fertilizantes e agroquimicos, quando comparados com os de países vizinhos e mesmo distantes (A CNA e o IPEA mostram isto em diversos trabalhos);

    f) bloqueio crescente e sistemático dos portos e das ferrovias brasileiras pelas empresas que todos sabem, o que dificulta a livre competição, a redução dos custos e a menor remuneração. Incrivelmente, há uma lei de 1900 e tantos que impede que cargas privadas sejam carregadas em portos privados (construidos ou a construir), exigindo que seja em portos públicos. Hoje, modernos portos "off-shore" podem ser construidos a cerca de 10 km das praias e em quaiquer lugares do País (carregáveis por barcaças e em condições de receber quaiquer navios). Há muitos investidores e empresas interessados em construi-los, mas a lei - e muitissimos interesses contrarios - impedem-no sistematicamente

    g) baixo nível de armazenagem propria nos imóveis, obrigando os produtores a venderem a safra antecipadamente ou trocarem por baixos preços. A armazenagem pública até que existe, mas quase sempre está mau localizada, ou não é confiável ou tem baixa qualidade e muitas perdas. Os armazéns precisam receber reformas urgentes e uma administração mais voltada para resultados, inclusive com multas e ressarcimentos.

    h) Usos excessivo de alguns insumos caros e nos momentos e formas inadequadas, como mostram diversos estudos da Embrapa Campo Grande;

    I) falta de uma política agrícola de longo prazo e visando também o mercado internacional; junte-se ao elevado nivel de divergência existente, com relação ao agronegócio, nos diversos ministérios e secretarias, e até internamente.Isto demonstra aos países concorrentes não só desunião como fraquezas;

    J) altíssimo nível de especulação dos fundos de investimentos e de pensão nas bolsas externas, levando a preços irreais dos grãos, café, fertilizantes, petróleo etc..

    l) achar que os governos são os culpados de tudo e que, assim, só cabe a eles resolverem os problemas e dificuldades;

    m) elevadíssimo nível de especialistas que rodam o País palestrando e dizendo defender os produtores quando na verdade...;

    Para mim, o maior problema é o seqüente e baixo nível de concessão de credito rural no Brasil. O campo brasileiro - para se sustentar - precisaria de uns R$ 180,0 bilhões/ano com juros de 6,75% a 9,50% (com custo do hedge incluído) e com prazo safra de 2 anos nos custeios e carencia de 5 anos e prazos de até 20 anos nos investimentos, como nos EUA e alguns da U.E.

    Sem recursos suficientes (há quantos anos não se eleva adequadamente os limites dos cultivos), os produtores precisam se endividar em outras fontes não-rurais, muito mais caras e, pior, vinculadas às obrigatórias de produtos no pico da safra e por preços fixados, quase sempre, muito baixos. Hoje o Governo brasileiro só concede R$ 800,0 milhões ano de credito rural real (na forma de equalizações) e os R$ 60,0 bilhões anunciados nada mais são do que recursos da Poupança, do FAT e dos fundos de desenvolvimento, ou seja, recursos da população e administrados pelos bancos. Aliás a nossa Lei de credito rural é de 1965 e nossos deputados e senadores rurais deveriam lutar muito por mudá-la e quase que integralmente.

    Como o espaço é curto, pretendo abordar os demais itens, se de interesse, nos próximos comentários.

    Prof. Clímaco Cézar de Souza

    www.agrovision-df.com

    Brasilia-DF

    0