Fala Produtor - Mensagem

  • Silvio Marcos Altrão Nisizaki Coromandel - MG 11/12/2010 23:00

    CAFEICULTURA BRASILEIRA, “CACHORRO MORDIDO POR COBRA, NÃO COME LINGÜIÇA” -- amigos cafeicultores de todo o Brasil, hoje (domingo) ao ligar a TV como fazem quase todos os Agricultores Brasileiros para assistir ao programa GLOBO RURAL, deparei-me com uma matéria que me deixou muito preocupado e com a obrigação de pelo menos tentar alertar aos cafeicultores de todo o Brasil que a crise destes últimos 10 anos ainda não passou, está presente no nosso dia-a-dia e não passará tão cedo, principalmente se continuarmos a nos iludir, ou, deixarmos nos iludir com falsas informações.

    Existe um velho ditado, dos antigos, que diz, “CACHORRO MORDIDO POR COBRA, NÃO COME LINGÜIÇA”, e o amigo cafeicultor pode estar se perguntando o que pretendo com estas palavras..., assim, vamos aos fatos.

    Enfim, os mais antigos ou até os mais jovens e com boa memória, vão se lembrar que na última crise de abastecimento de café no mundo ocorrido entre as décadas de 80 e 90..., o governo Brasileiro veio a público incentivar e pedir que os cafeicultores do Brasil plantassem mais café pois era necessário aumentar o parque cafeeiro para não perdermos o mercado e a posição de maior produtor e maior exportador do mundo. O resultado todos nós sabemos e estamos sofrendo até os dias de hoje.

    Em minhas andanças por Brasília, dentro do Ministério da Agricultura com os responsáveis pela política de café no Brasil, cheguei a conclusão irrefutável e de consenso entre todos (produtores e técnicos do mapa), que o Brasil não levou em consideração que esta política de aumento de área (aumento de produção), somada às políticas de incentivo de produção de grandes forças que surgiam no cenário internacional de café (Colômbia, Vietnã, Indonésia, etc...) levariam a um excedente do produto em relação ao consumo, levando a cafeicultura nacional (Brasileira) a esta crise financeira que perdura por mais de uma década.

    Entretanto, um questionamento é levantado pela área financeira do governo (Ministério da fazenda) e até mesmo pelos próprios cafeicultores. “COMO ESTES PAÍSES CONSEGUIRAM CRESCER NA CRISE , ENQUANTO A CAFEICULTURA BRASILEIRA SE ARRASTAVA PARA MANTER O SEU PARQUE CAFEEIRO”.

    Algumas respostas simples e diretas:

    1- O cafeicultor buscou o aumento de sua área plantada sem nenhum tipo de incentivo federal, utilizando de recursos próprios ou comprometendo safras futuras (CPRs). Entretanto, nossos concorrentes (Colômbia e Vietnã) receberam incentivos de seus governos e até mesmo de governos estrangeiros como é o caso dos EUA em relação à Colômbia, e, França em relação ao Vietnã.

    2- Política de marketing totalmente esquecida no Brasil, enquanto nossos concorrentes dominavam o mundo da mídia com seus cafés.

    3- Legislação trabalhista Brasileira infinitamente mais rígida em relação com nossos concorrentes, o que nos tornou menos competitivos em custo de produção.

    Enfim, poderíamos ficar por horas citando os erros que cometemos como Produtores, como Brasileiros, como profissionais e como políticos (aqui incluo a todos que estão envolvidos na cadeia café Brasileira -- produtor, exportador, indústria, políticos, técnicos, cooperativas --, pois como dizem, somos um dependente do outro). Portanto, TEMOS QUE ASSUMIR: ERRAMOS E ERRAMOS MUITO FEIO, NOS FALTOU ESTRATÉGIA, INTELIGÊNCIA, E SOBROU NEGLIGÊNCIA E FALTA DE RESPONSABILIDADE COM NOSSA ATIVIDADE!

    Agora não podemos errar novamente, pois a crise não acabou e novos erros poderão acabar de comprometer o que temos de mais importante dentro da cafeicultura Brasileira, e, engana-se quem acredita que o que temos de mais importante seja o parque cafeeiro nacional. A maior riqueza da cafeicultura nacional é o CAFEICULTOR, não somente o proprietário, mas também os funcionários que são uma mão de obra extremamente especializada, e que está minguando a cada ano que passa.

    Esta crise provocou uma migração tanto de proprietários como de funcionários para outras atividades, exemplo:

    Cafeicultores antigos (tradicionais) aposentaram-se da atividade, seus filhos e netos buscaram novas atividades em grandes centros, estudaram, e, conseqüentemente a única saída foi vender a propriedade ou arrendá-la. Esta situação é muito comum na maior região produtora de café do mundo, o Sul de Minas, onde usinas de cana de açúcar tomam o lugar dos antigos cafezais.

    Os funcionários se engajam em novas atividades dentro do agronegócio como no caso da cana de açúcar e nas áreas de grãos (soja, milho) como é o caso aqui do Cerrado Mineiro. Para se ter uma idéia do estrago desta crise tomemos como exemplo, a minha cidade, Coromandel-MG (alto Paranaíba) que chegou a ter 15 mil hectares de café e hoje encontramos míseros 5 a 6 mil hectares...

    Desta forma, voltemos ao tema do Globo Rural de hoje: “CAFEICULTORES PROVOCAM CORRIDA DESENFREADA EM BUSCA DE MUDAS DE CAFÉ, DEVIDO AS MELHORIAS DE PREÇO”.

    Senhores produtores, sabemos que muitos estão aproveitando este momento de recuperação parcial dos preços para renovar as áreas velhas, que foram abandonadas, ou que já não possuem o mesmo potencial produtivo. Desta forma, deveríamos alertar aos produtores deste programa GLOBO RURAL e de outros que possam estar passando uma imagem diferente da realidade, que suas atitudes podem nos remeter não a uma nova crise, pois nem saímos desta que nos encontramos, pode sim acabar de enterrar a cafeicultura nacional.

    CAFEICULTORES DE TODO O BRASIL, NÃO SAÍMOS DA CRISE!!!, FICA, ENTÃO, O ALERTA PARA TODOS QUE ASSISTIRAM AO GLOBO RURAL: DEVEMOS ESTAR BEM INFORMADOS SOBRE A REALIDADE DA SITUAÇÃO DE NOSSA ATIVIDADE, E SABER INTERPRETAR AS INFORMAÇÕES PARA QUE NÃO NOS TORNEMOS OS “BOBOS RURAIS”.

    OBS: A CRISE NÃO ACABOU, POIS:

    DE CADA 100 SACAS PRODUZIDAS EM SUA PROPRIEDADE, QUANTAS TEM A QUALIDADE PARA ATINGIR OS PREÇOS ALARDEADOS DE R$ 350,00 REAIS?

    VOCE JÁ CALCULOU OS CAFÉS DE VARREÇÃO?

    QUAL FOI SUA MÉDIA DE PREÇOS, ENTRE OS CAFÉS DE PANO E VARREÇÃO?

    Silvio marcos altrão nisizaki

    Cafeicultor – Coromandel MG

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