ESG: O desafio e a oportunidade para o agronegócio, por Maurício Moraes e Fabio Pereira
Nos últimos anos, a crescente conscientização da sociedade sobre os riscos relacionados à temática ambiental, social e de governança (da sigla em inglês, ESG) e o surgimento de uma geração de investidores que priorizam impactos não financeiros ao lado de fatores financeiros puxaram o crescimento e a importância do tema. Com isso, o debate sobre as iniciativas de ESG ganha cada vez mais espaço na mídia e promove uma mobilização no mundo empresarial.
O agronegócio, por tudo o que representa no Brasil e por estar ligado diretamente com as questões sociais e ao meio ambiente, precisa envolver-se nas discussões desse tema.
O cenário atual, acelerado pela pandemia, é de mudanças nos hábitos dos consumidores finais, com maior preocupação em relação à maneira que os alimentos são produzidos, maiores exigências ambientais, buscando mais visibilidade e transparência nas cadeias de valor do agro.
Tudo isso diante de uma perspectiva de que até 2030 devemos ter aumento da demanda global por energia de 40% e da produção de alimentos em 35%, segundo a Embrapa.
Como o Brasil deverá ser responsável por atender boa parte dessa demanda, será fundamental que o agronegócio amplie sua produção, utilizando áreas à disposição do setor e promovendo o uso mais racional de insumos, ou seja, preservando recursos naturais e reduzindo os impactos ao meio ambiente.
Nesse sentido, as tecnologias digitais (Internet das Coisas, blockchain, sensores, drones etc.), os produtos biológicos e práticas de manejo (como a integração lavoura-pecuária-floresta -ILPF- e a rotação de culturas) serão fundamentais para permitir que o agronegócio dê o salto necessário na produção, com sustentabilidade.
No entanto, a adoção de novas tecnologias e de práticas de manejo mais sustentáveis representa apenas parte do que precisa ser feito. Como nos últimos anos houve aumento significativo da pressão sobre o agro brasileiro por maior sustentabilidade, em especial pelo mercado internacional, será essencial mensurar e comunicar tudo o que tem sido desenvolvido nessa temática, gerando confiança nos stakeholders e na sociedade.
A definição do modelo de divulgação de informações ESG exige avaliação criteriosa por parte das organizações. As particularidades de cada segmento do agronegócio, bem como a localização geográfica e as demandas e pressões dos diversos stakeholders, são elementos a serem considerados.
No Brasil, percebemos que as empresas estão em diferentes estágios de maturidade em relação ao tema.
Algumas já são signatárias de acordos e pactos nacionais e globais, além de buscarem certificações ou reconhecimentos, como o Selo Agro + Integridade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Entretanto, em diversos segmentos do agro, o que vemos são empresas engatinhando no tema. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) em 2020 junto a diferentes stakeholders do agronegócio identificou governança e gestão como o 2º principal gargalo do agronegócio, atrás somente de infraestrutura. Os stakeholders querem cada vez mais transparência sobre os esforços das empresas relacionados ao tema de ESG, para entender como as organizações geram e compartilham valor de forma sustentável.
Essa transparência, aliada à medição e comunicação dos planos de criação de valor e seus avanços, será tão importante às organizações quanto gerar resultados econômicos. Segundo pesquisa da PwC realizada em 2020, ter acesso às informações de ESG é tão importante quanto as informações financeiras da empresa, segundo 47% dos respondentes.
Tudo isso permite às organizações aumentar a credibilidade e engajamento com seus stakeholders, potencializando seu acesso a novas fontes de financiamento, criando mais valor para acionistas no longo prazo, mostrando maior resiliência nas crises, assegurando a licença social para operar e fidelizando clientes.
Aproveitar a janela de oportunidades requer mudança cultural e envolve acionistas e executivos de todas as áreas da organização. As empresas do agro que adotarem estratégias e modelos de negócios alinhadas às melhores práticas de ESG se diferenciarão no mercado e criarão as bases para seu crescimento e perpetuidade.
E, quanto mais cedo se prepararem para enfrentar esse desafio, maiores as chances de sucesso.
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