China e a festa de soja sul-americana, por Enrique Erize
O efeito Trump e o fortalecimento do dólar e as ameaças chinesas de que em 2017 a área de soja foi aumentada no país, somam-se à terceira colheita recorde consecutiva nos Estados Unidos.
Os preços da soja, no entanto, não caem. Milagre? Não, demanda. Como se explica que os preços não se encontrem em queda após uma safra superlativa nos Estados Unidos e um nível de estoques inédito na Argentina? Fácil. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reconheceu que as exportações americanas do grão superam as expectativas e que o esmagamento bate recordes históricos.
A esta altura, o USDA já poderia ser acusado de "subestimador" da demanda. Mas o tema é algo mais complexo. É nossa opinião que a América do Sul mostrará uma diminuição da área de soja pela primeira vez na história e que essa circunstância não é casual. É só uma antecipação ao que virá.
A "festa produtiva" da soja sul-americana perde intensidade. O crescimento da área se tornará negativo ou, no melhor dos casos, se retardará. Os números no Brasil já não são alentadores e a Argentina deverá repensar a proporção de cada cultivo agrícola que vem sendo implantado nesta década.
Pelo bem ou pelo mal, a Argentina assistirá a um crescimento da área destinada ao milho, girassol e sorgo, em detrimento da soja.
É óbvio que a China já prevê esse resultado e é por isso que decidiu "chegar com tudo". Os chineses possuem duas maneiras de abastecer seu apetite insaciável de proteínas vegetais: divulgar ao mundo nas bolsas de Dalian ou Xangai que querem comprar soja e colocar os dólares em cotações FOB ou, caso isso falhe, posicionar-se na América do Sul fisicamente, comprando empresas, construindo portos ou investindo em navios.
Interessante desafio para as multinacionais que vêm liderando o ranking de exportadores de grãos da Argentina por décadas.
O artigo de Enrique Erize, presidente da Nóvitas SA, foi publicado na edição argentina do La Nación. Tradução por Izadora Pimenta, do Notícias Agrícolas.
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