Sinais ainda baixistas mas não excessivamente negativos, por Rodrigo Costa
A alta rotatividade de colaboradores na administração do presidente Donald Trump traça inevitavelmente uma comparação com o seu “personagem” na série de televisão “The Apprentice” – no Brasil chamado de O Aprendiz e apresentado por Roberto Justus (nunca assisti nenhum dos dois).
A saída do seu secretário de estado trouxe mais insegurança aos mercados quanto a direção da maior economia do planeta, que tem sido mais protecionista com um efeito aparentemente programado de criar um ambiente mais inflacionário.
As bolsas de ações na Europa ficaram de lado e as americanas, assim como a brasileira, cederam entre 1% e 2.5% na semana, com o dólar americano firmando antes da reunião do FED que pode trazer um tom mais cauteloso sobre incremento de juros no país.
Os principais índices de commodities pouco mudaram e o café voltou a ceder com os fundos aumentando suas posições vendidas enquanto os principais agentes do mercado se reuniam em Nova Orleans, para o sempre excelente evento organizado para National Coffee Association.
Nas rodas de conversa e reuniões da conferência a narrativa foi similar: o Brasil tem uma safra grande chegando, com estoques disponíveis suficientes para fechar o atual ciclo e há a um grande volume de vendas que ainda precisa vir ao mercado tornando difícil uma apreciação do terminal.
A percepção do mercado não ter ainda atingido níveis que desestimulem a produção tendo dois superávits razoáveis nos próximos dois anos-safra, faz os agentes estar negativos para a bolsa de Nova Iorque, mas não excessivamente baixistas como se poderia imaginar.
Ao mesmo tempo percebi um otimismo quanto a demanda em geral, bem diferente do desânimo notado há um ano, o que se colocarmos em um contexto de oferta e demanda global não deveria permitir uma complacência tão grande com o risco assimétrico presente, favorecendo um potencial de alta maior do que de baixa.
Digo isto pois assumindo que em um exagero possamos ver o contrato “C” perto ou abaixo de US$ 100.00 centavos por libra-peso, ou mesmo que não caia e negocie a safra entre 110 e 120 centavos, naturalmente os preços vão ajustar os superávits futuros, começando pelos produtores de suaves até chegar nos naturais brasileiros.
Já olhando para o outro lado, a precificação da safra “grande” do Brasil, ou a antecipação da precificação pelos fundos, é uma notícia velha, que tem sido requentada constantemente. Vale notar que alguns participantes do mercado, incluindo os próprios fundos, já estão montando uma posição comprada, que pode rapidamente mudar o panorama causando uma cobertura de fundos vendidos no menor sinal de frio, ainda que não tenha risco de geada, a partir de maio.
Em outras palavras, os mais de 100 mil lotes bruto-vendidos dos especuladores, que encheram os tubos de ganhar dinheiro desde 2016, podem ser reduzidos, ainda mais em uma atmosfera mais inflacionária.
Parece prematuro, obviamente, falar em alta neste momento, mas acho interessante trazer os pontos acima para não ficarmos também depressivos demais com a performance enfadonha que temos vivido nos últimos meses.
Os torradores sabem bem destes riscos, e os que fazem um planejamento e proteções de longo prazo se interessam em comprar os contratos futuros mais longos, ou opções que no mínimo não venha a machucar muito suas finanças.
Um participante da convenção, tentando estimular uma discussão mais polemica, sugeriu que os produtores se unam e parem de vender a bolsa, permitindo assim que o terminal rompa a média-móvel de 200 dias (US$ 128.80 centavos por libra) e forçando uma boa parte de cobertura dos fundos – uma ilusão para quem não acompanha o dia a dia dos produtores e não vê a necessidade de caixa de quem está no campo tem para tocar os seus negócios, sem falar da irresponsabilidade de lutar contra as forças naturais de um livre-mercado. Já cansamos de ver o Brasil tentar reter café para ajudar seus competidores a ganhar market-share.
Não precisa nada disto, precisa sim de disciplina e paciência para passar este período de maior dificuldade na produção.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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