Macro e chuvas pressionam o café com fundos muito vendidos, por Rodrigo Costa
O senado americano votou favoravelmente uma resolução ao orçamento do governo de 2018 que permitirá à Donald Trump implementar seus planos de reduzir impostos, como prometido em sua campanha.
Com o prognóstico benéfico ao investimento nos Estados Unidos, incluindo uma eventual troca no comando do FED, o S&P500, o Dow Jones, o Russel3000, o..., enfim todos os índices norte-americanos fizeram novas máximas históricas – está fácil, não é? Por ora...
A recuperação forte do índice do dólar na semana, principalmente a reversão na sexta-feira, fez o CRB cair e fechar o gap deixado na semana anterior.
O café em Nova Iorque negociou no nível mais baixo desde o fim de junho com os fundos pressionando as cotações e encontrando bom interesse de compra dos comerciais. Londres também caiu na quarta-feira, mas subiu novamente com o spread entre os contratos de novembro e janeiro pulando para um prêmio de US$ 54 por tonelada. A arbitragem do primeiro mês, entre as duas bolsas, encerrou a US$ 33 centavos por libra na semana – mais barato que grinders.
Pelo que parece o mercado aguardava uma confirmação do retorno das chuvas no cinturão de café brasileiro para encorajar os fundos a adicionarem mais vendas às suas posições. Prenúncios mais assertivos de institutos meteorológicos foram o suficiente, indicando uma normalização das precipitações.
Isto não significa que necessariamente os agentes naturais estejam certos sobre o quanto será produzido no ano que vem, já que muitos produtores, agrônomos e exportadores tem alertado para um grau de incerteza crescente em função da desfolha em diversas áreas do arábica.
O nosso querido amigo, o experiente e respeitado profissional do mercado, Jayme Neto, lembrou um ponto muitíssimo importante que muitos esquecem ou as vezes relevam: “a concentração de pés de café por hectare atual (entre 4 e 4,500 árvores) demanda bastante água e fertilização” para manter os elevados níveis de produtividade. Neto lembrou o efeito das chuvas abaixo da média entre janeiro e março deste ano que causaram a diminuição no volume de peneiras e possivelmente do tamanho da safra 17/18.
É bom termos cuidado. Excesso de otimismo no potencial produtivo do ano que vem, com os fundos estando vendidos em um novo recorde (considerando o movimento entre quarta e sexta-feira), pressionam a mola deixando menos espaço de quedas para o terminal – assumindo como temporária a desvalorização do Real.
Se já está precificada uma safra acima de 60 milhões de sacas, restam os ajustes da expectativa, mas estes podem demorar outros dois ou três meses, com a confirmação do que vingou da florada.
O argumento de que Brasil perdeu participação de mercado para outras origens vale temporariamente, pois isto se deu quando o país mantinha as exportações elevadas (fruto de participantes terem um livro comprado em diferenciais baratos) e com os estoques de naturais no spot (no destino) confortáveis. Não podemos esquecer que próximo de um terço das exportações mundiais saem de nosso país, e não há quem substitua todo o volume.
A entrada atrasada da safra de Honduras e mesmo de Vietnã podem também favorecer uma alta no curto prazo. Além disso tem a questão de limitações de espaços em navios, dado os problemas da profundidade e limite de calado no Porto de Santos.
A sustentação de ganhos da bolsa é o que sempre vira o “X” da questão, ainda mais em um mercado que há um ano aguarda um rally significativo.
Para não abordar apenas assuntos altistas em um comentário, há o raciocínio baixista para o arábica com uma recuperação forte da safra de conilon no Brasil em 18/19. Todos sabemos que a história do conilon impacta o arábica, pois um aumento da produção da variedade vai devolver mais arábica para o mercado. No mercado físico o preço do conilon já começou a descolar, muito cedo ainda já que tem muito tempo até abril/maio de 2018.
O cenário macroeconômico pode dar um empurrão para as commodities, menos por estarem baratas absolutamente e muito mais por estarem relativamente baixas comparadas ao mercado acionário. Com múltiplos inchados nas ações americanas e europeias, os emergentes também podem continuar se beneficiando, afinal o excesso de liquidez no mundo leva dinheiro para as mesas de operações, e os operadores de fundo tem que colocar o dinheiro para trabalhar. Traduzindo pode ser renovado o interesse de compra em commodities e de compra de Reais para nova entradas de capitais no IBOVESPA, por exemplo.
Tecnicamente o contrato de dezembro precisa se manter acima de US$ 123.00 centavos por libra para gradativamente trazer as médias-móveis para baixo e começar a eleger uma recompra dos fundos, que sem muita dificuldade podem levar Nova Iorque para pelo menos próximo de US$ 135.00 centavos por libra.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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