ANÁLISE DE CAFÉ E AÇÚCAR DA ARCHER CONSULTING
Mercado de café: COMMODITIES SOBEM COM QUEDA DO DÓLAR AMERICANO
Rodrigo Costa*
Os constantes adiamentos da Grécia em apresentar as medidas necessárias para garantir acesso aos fundos do Banco Central Europeu e do FMI parecem estar terminando, entretanto com um alto risco de um desfecho negativo, diferente do que o mercado esperava.
Gregos e Alemães estão se preparando para um eventual default que possa desencadear uma saída do país da zona do Euro, e com isto as bolsas europeias perderam de 2% a 5% nos últimos cinco pregões. Os títulos da dívida grega apontam para um calote, afetando também os papéis dos países periféricos da moeda comum.
Nos Estados Unidos os múltiplos inchados das ações juntamente com indicadores econômicos que deixam em dúvida de quando os juros podem aumentar provocaram a retração dos principais índices de bolsa. A queda das bolsas chinesas foram parcialmente ajudadas pela autorização de fundos poderem agora emprestar ações para investidores vender papéis à descoberto.
Com este pano de fundo nem mesmo o dólar americano se salvou, perdendo para Euro (me escapa a razão), e o Real firmando com o arrefecimento da crise política brasileira. As commodities se beneficiaram de um dólar mais fraco tendo o complexo de energia (gasolina, petróleo, óleo de aquecimento e gás natural) liderado entre as matérias-primas ganhadoras, seguido pelo café e o suco de laranja.
O contrato de julho de 2015 em Nova Iorque encerrou no meio do intervalo entre US$ 130 e US$ 150 centavos por libra-peso que tem negociado desde o fim de fevereiro. A atividade foi concentrada nos spreads dada a proximidade do período de entrega do contrato de maio. Por sinal a volatilidade do spread nas últimas duas semanas machucou quem esperava um comportamento parecido ao acontecia quando os fundos estavam vendidos, há um ano. Pelo jeito muitos foram pegos de surpresa já que o maio/julho oscilou entre US$ -3.30 cts e US$ -1.10 cents desde o dia 1º de abril, uma montanha-russa.
Os estoques americanos do GCA tiveram queda de 116,443 sacas em março, mês que entre 1989 e 2014 em média tem um incremento de 150,732 sacas. Aparentemente alguns fundos leram como positivo o dado, pois as importações acumuladas no país cresceram 1.75% e os estoques totais estão em 5,035,109 sacas, apenas levemente mais altos do que as 4,958,411 sacas que estava nos armazéns há um ano. No Japão os estoques caíram 8.7 mil sacas em fevereiro para 3,01 milhões de sacas.
O começo da colheita do conilon no Brasil em breve deve disponibilizar mais café para as indústrias locais, assim como em maio a safra se inicia na Indonésia, ambos tem um mercado consumidor grande. Alguns lotes de arábica da safra 15/16 começaram aparecer, nada representativo e com bastante grãos verdes ainda. Os participantes do mercado esperam com ansiedade o resultado inicial da renda, que será o primeiro indicador a confirmar se a colheita deste ano pode mesmo ser igual ou maior do que em 14/15.
Um dos principais exportadores brasileiros divulgou sua estimativa de produção para o ciclo de 15/16 entre 45.85 e 48.55 milhões de sacas, com o arábica ficando entre 30.95 e 32.90, e o conilon entre 14.9 e 15.65 produção abaixo de seu número do ano passado que foi de 47.95 milhões de sacas (30.85 + 17.10).
A ABIC divulgou que o consumo brasileiro deve ser de 20.33 milhões de sacas em doze meses contados até outubro próximo, o que coloca o Brasil acima do consumo per capta dos Estados Unidos. Como de costume alguns analistas questionam se bebemos mesmo mais café do que os gringos.
As exportações vietnamitas têm mantido um ritmo mais lento totalizando em março 2.18 milhões de sacas, e o volume acumulado desde outubro é de 10.83 milhões de sacas, 25.4% a menos do que no mesmo período anterior. Os produtores por lá estão irrigando suas lavouras, receosos quanto ao retorno das chuvas que podem preocupar caso atrasem por outro mês. Por outro lado se o clima ajudar a produção pode recuperar, eventualmente batendo um novo recorde de alta.
O fechamento do terminal na sexta-feira foi em cima da média-móvel de 40 dias, patamar que se respeitado pode ajudar a forçar mais liquidações de fundos que venderam recentemente como apareceu no relatório do COT (posicionamento dos traders). Uma continuação do enfraquecimento do dólar pode também ser um componente importante para o mercado romper os US$ 150.00 centavos, expandindo um pouco o intervalo mencionado acima. Resta saber se o movimento da moeda americana é apenas de tomada de lucro ou não (eu particularmente acho que sim).
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
Mercado de açúcar: CABO DE GUERRA
por Arnaldo Luiz Correa
O mercado de açúcar em NY encerrou o pregão de sexta-feira com alta expressiva na semana de 41 pontos no vencimento maio/2015 e 40 pontos no vencimento julho/2015, cotados respectivamente a 13.24 e 13.18 centavos de dólar por libra-peso. A inversão de maio/2015 em relação ao julho/2015 no início da moagem no Centro-Sul quando, em tese, mais açúcar estaria disponível para o mercado, demonstra a percepção de que a história não é bem essa. Os detentores de posições vendidas a descoberto tiveram que recomprá-las fortalecendo o spread maio/julho. A maior demanda por etanol nesse primeiro trimestre do ano faz com que as usinas priorizem a produção de etanol e diminuam a disponibilidade de açúcar, cujo retorno é menor. O mercado internacional reage com o fortalecimento do spread. Vai persistir? Depende. Muito se fala sobre uma volumosa entrega de açúcar em NY contra o vencimento maio/2015 que ocorre d ia 30 de abril. Vamos ver como se comporta o mercado até lá.
Os fundos cobriram aproximadamente 26.000 contratos dos mais de 110.000 que estavam vendidos a descoberto. Devem ter embolsado alguma coisa ao redor de US$ 100 milhões. Volume expressivo de cobertura considerando que o mercado subiu menos de 100 pontos. Para haver um pânico que estimulasse os fundos a liquidar suas posições haveria necessidade do mercado ultrapassar os 14 centavos de dólar por libra-peso base maio/2015, pelo menos. Não há nada no horizonte para isso.
A CONAB divulgou a estimativa de safra de cana no Centro-Sul como sendo de 592.7 milhões de toneladas, com uma produção de 33.7 milhões de toneladas de açúcar e 26.9 bilhões de litros de etanol. Um número extremamente baixista. A estimativa da Archer divulgada em fevereiro é de 573.7 milhões de toneladas de cana, divididas em 32.2 milhões de toneladas de açúcar e 26.3 bilhões de litros de etanol. As notícias vindas da Índia indicam que aquele país deve produzir 27 milhões de toneladas de açúcar na safra 2015/2016 que se inicia em outubro. Nada animador para o mercado.
Em recente documento divulgado pelo Ministério das Minas e Energia (MME), o governo estima que o consumo de combustíveis Ciclo Otto, em 2023 será de 85 bilhões de litros. O número é abaixo do estudo da Archer de 2014, que apontava um consumo estimado de 90 bilhões de litros. Talvez o MME seja mais conservador para não mostrar o tamanho real do buraco que temos nesse setor. Segundo o MME, em 2023 a oferta de etanol será de 30 bilhões de litros, praticamente inalterada levando em consideração os números de hoje, mesmo porque o investimento no setor está próximo de zero. O MME estima também que a oferta de gasolina nacional fique estancada em 29 bilhões de litros. Logo, deduz-se que se a demanda for de 85 bilhões como eles divulgam e a oferta doméstica de etanol e gasolina somadas é de 59 bilhões de litros, temos um déficit de oferta 26 bilhões de litros. De onde virão? Da produção de etanol domesticamente (mais investimentos necessários) ou da importação de etanol de milho e/ou de gasolina?
Para nós da Archer, a demanda potencial interna por gasolina A, em 2023, será de 48.4 bilhões de litros e a de etanol 41.8 bilhões de litros. O tamanho do buraco, usando a oferta publicada pelo MME, é de 31 bilhões de litros que, na nossa conta, representam 19 bilhões de litros de gasolina e 12 bilhões de litros de etanol.
O fechamento do mercado de sexta-feira aponta que o açúcar em NY convertido em reais chegou a pouco mais de 925 reais por tonelada. Os meses seguintes de vencimento, julho e outubro de 2015, fecharam respetivamente a R$ 918 e 942 por tonelada, a valor presente descontado o custo do dinheiro. Pelas movimentações internas de etanol e a percepção de melhora na demanda interna pelo combustível, acreditamos que o açúcar pode negociar próximo dos R$ 970 por tonelada no segundo semestre do ano. Se o dólar voltar a 2,9000 isso representa hoje o outubro/2015 negociando em NY a 14.75 centavos de dólar por libra-peso; se o dólar negociar a 3,2000 significa NY a 13.25 centavos de dólar por libra-peso.
Duas correntes fortes nesse mercado. Gente que acredita que ele vai quebrar os 11 centavos de dólar por libra-peso e que ainda não negociou suas mínimas; que as coisas vão piorar muito antes de melhorar e, aqueles que acreditam que as mínimas já foram vistas e o mercado tem espaço para subir. De um lado, aqueles que acreditam que a Tailândia vai despejar grande quantidade de açúcar no mercado internacional, independentemente do seu custo alto de produção e que também, antecipando a entrada do açúcar europeu no mundo a partir de 2017, tudo será um caos. Do outro, aqueles que olham a falta de investimentos no setor do mais importante produtor de açúcar do mundo, cujo mercado interno de combustível continua demandando uma quantidade de cana que a produção não será capaz de suprir a menos que tire mais açúcar do sistema. É um cabo de guerra.
Bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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