SUÍNOS: crise do milho coloca granjas em situação dramática. Preços de R$ 53 em Campinas (SP) inviabilizam a produção
A combinação de baixas no preço do suíno vivo e altas significativas na saca do milho têm deixado os suinocultores de todo o país em situação dramática.
Em São Paulo, a relação de troca arroba suína/milho alcançou um dos piores patamares da história. De acordo com levantamento da APCS (Associação Paulista dos Criadores de Suínos) atualmente é possível comprar com uma arroba suína apenas 1,4 sacas de milho, enquanto que tradicionalmente a relação era de 2,4 scs/@.
"Na região de Campinas (SP) a saca do cereal é comercializada a R$ 53,00, o farelo de soja em torno de R$ 1.300,00/t. Assim, o custo de produção chega a R$ 75,00 por arroba", explica o presidente da Associação Valdomiro Ferreira.
Na segunda-feira (16) a bolsa de suíno do estado informou a referência para essa semana em R$ 65,00/@ - equivalente a R$ 3,47/kg. E mesmo com a alta de R$ 0,32/kg em relação ao preço anterior, os suinocultores paulistas ainda amargam um prejuízo de R$ 53,00 por animal vivo comercializado no mercado independente.
Diante desse cenário, Ferreira afirma que muitas granjas já estão deixando de alocar e abatendo matrizes e, entregando animais mais leves, fatores que criando um desequilíbrio de oferta.
"Assim, projetamos para o segundo semestre uma redução no volume de carnes disponível no mercado interno. Porém, o consumo - em função da crise econômica - não deve impulsionar os preços", destaca Ferreira.
O presidente alerta também que o setor suinícola do país irá enfrentar mais uma fase de dificuldade. "Quando estávamos saindo da crise de 2012, com uma rentabilidade favorável em 2015, vem essa situação fazendo com que o produtor de suínos esteja totalmente descapitalizado", completa.
A alta no preço do cereal - principal componente da ração animal - é reflexo da baixa disponibilidade no mercado interno. "Em meados de junho/julho de 2015 nós já sinalizávamos preocupação quando as exportações de milho. Houve um abuso nas vendas externa que desequilibrou o mercado interno e, depois tivemos problemas climáticos que também comprometeram a safras do cereal", explica o presidente.
Em entrevista a Folha de S.Paulo, o novo Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou precisar resolver pendências administrativas ainda nesta semana para liberar milho estocado e aliviar a pressão sobre o setor granjeiro.
"Tem um comitê com Fazenda, Planejamento, Casa Civil, uns cinco para dar palpite numa área que não conhecem. As estruturas montadas têm atrapalhado o fluxo de decisões. Agora, [nova reunião] só em 60 dias", disse Blairo a Folha.
Enquanto que o governo não resolve os problemas de abastecimento, os granjeiros de todo o país tentam continuar a produzir, mesmo arcando com os prejuízos.
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Mateus Fernandes Londrina - PR
A situação inegavelmente é dramática para o setor de carnes. Prejuízos ocorrerão, a oferta se reduzirá, muitos quebrarão e a conta será repassada ao consumidor mais cedo ou mais tarde. Diante de tal calamidade, fica a brecha para repensar e reconfigurar o cenário de preços pago ao produtor do milho, uma vez que, não muito tempo atrás, o preço recebido pelo produtor no Estado de São Paulo girava em torno de R$ 18,00 a R$ 20,00, ou seja, uma piada. Nesses tempos, os produtores de proteína animal gozavam de enorme poder de barganha e negociação, ditando os preços do produto em questão. O jogo inverteu graças aos próprios compradores que almejavam pagar preços menores que o mercado internacional praticava.
O que devemos tirar de lição e aplicar na prática é que existe a necessidade de haver um equilíbrio entre produtor e consumidor do milho, visto que são cadeias complementares e dependentes, para que todos possam obter seus retornos significativos e que compense manter a inércia de suas respectivas atividades.