Com aumento de exportações do agronegócio, o maior beneficiado é o abastecimento interno
No Conexão Campo Cidade desta semana, o mercado do feijão esteve em destaque, com a presenta de Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe). Durante a conversa, foi levantada a possibilidade de romper a barreira do mercado internacional como uma alternativa para estabilizar os preços do feijão. O exemplo de sucesso de outras cadeias produtivas, como a carne brasileira, que é bem posicionada no mercado de exportação, foi citado para ilustrar o potencial do feijão brasileiro no cenário global.
"Ao observarmos essas outras cadeias produtivas, concluímos que sim, o caminho é incentivar a produção e abrir alternativas para o produtor. O produtor precisa se sentir seguro de que, caso o mercado interno não absorva sua produção, ele não terá problemas de liquidez, o que é um grande incentivador para produzir mais," destacou Lüders.
Como ele contou, desde 2005 foram iniciadas iniciativas para explorar o mercado mundial de feijão. Feiras internacionais revelaram que países como a Argentina estavam consolidando suas presenças em eventos na Alemanha, França e Dubai, enquanto o Brasil ainda estava ausente desses mercados. O Brasil, conhecido principalmente pela produção de feijão carioca e feijão preto, começou a explorar outras variedades como o feijão calpi.
"No início, enfrentamos a falta de cultivares adequadas para exportação, mas começamos a trabalhar com instituições de pesquisa como a Embrapa, o IAC de Campinas e o então IAPAR, hoje IDR do Paraná, para desenvolver novas sementes," explicou o presidente do Ibrafe. Esse esforço resultou em um aumento significativo nas exportações em 2021, atingindo 70 países e 200 mil toneladas.
As exportações incluem variedades como feijão fradinho e feijão mungo, que são populares em mercados asiáticos e árabes. "Quando conversamos com produtores, a primeira pergunta é sobre a liquidez: 'Você tem quem compre?' Somente depois vem a preocupação com a viabilidade econômica," disse o representante.
Para promover o feijão brasileiro no exterior, a associação está investindo cerca de 2 milhões de reais entre 2023 e 2025 em projetos com a Apex, focando especialmente no mercado indiano para o feijão carioca. Essa iniciativa é apoiada pelo governo do Mato Grosso.
A tributação também é um fator crítico. No passado, altas alíquotas de ICMS no Rio Grande do Sul reduziram drasticamente a produção local. "Conseguimos reduzir a alíquota para 1%, o que aumentou a arrecadação mais do que com a alíquota original de 12%," relembrou o representante. A reforma tributária em andamento pode impactar ainda mais o setor, e há um debate sobre a inclusão do feijão na cesta básica com isenção tributária.
Em conclusão, expandir o mercado internacional para o feijão brasileiro não só estabiliza os preços, mas também oferece segurança ao produtor, incentivando a produção e contribuindo para a economia nacional. A associação continua trabalhando ativamente para abrir novos mercados e promover o feijão brasileiro globalmente.
Exportação e estabilidade do abastecimento interno
O economista Antônio da Luz destacou que a exportação é frequentemente vista como uma maneira de tirar comida do prato do consumidor interno para vendê-la a preços mais altos no mercado internacional. No entanto, essa visão é equivocada e desconsidera os benefícios que as exportações podem trazer para a produção e o consumo doméstico. Quando um produto tem mercado internacional, como o feijão, a produção tende a aumentar, beneficiando diretamente o consumidor interno.
Segundo ele, exportar significa garantir o abastecimento interno. Quanto mais exportamos, mais produzimos, e maior é a disponibilidade interna. Vender para quem está do outro lado da rua é sempre mais fácil do que vender para quem está do outro lado do mundo. Isso se aplica ao feijão, que, embora tenha um volume de produção pequeno em comparação com grandes culturas brasileiras como a soja e o milho, ainda desempenha um papel crucial na segurança alimentar.
Tributação e os impactos para a produção
A tributação é um fator crítico que pode afetar a produção e a competitividade do feijão no mercado interno e externo, como apontou Antônio da Luz. Ele compartilhou uma experiência do Rio Grande do Sul, onde a alta alíquota interestadual do ICMS reduziu drasticamente a produção local.
Em 2007, enquanto alguns estados baixaram a alíquota para 1%, o Rio Grande do Sul mantinha uma alíquota de 12%. "Com muito sacrifício, conseguimos que a governante da época baixasse para 7%. Mas dizíamos, não vai adiantar nada", relembrou da Luz. E, de fato, a produção caiu de 220 mil hectares para 60 mil hectares, limitando-se ao consumo interno.
Hoje, alguns estados ainda mantêm alíquotas altas, como a Bahia, que aplica 12% sobre o feijão. Isso trava o desenvolvimento da cultura e levanta dúvidas sobre como é feita a comercialização nesses estados. O economista defende uma reforma tributária que torne a tributação mais justa, eliminando barreiras que impedem o crescimento da produção de feijão no Brasil.
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