Mercado de carne vermelha tem cortes esquecidos e penaliza pecuarista que investe mais na produção

Publicado em 04/03/2024 18:41 e atualizado em 13/03/2024 12:34
Conexão campo cidade
O Conexão Campo Cidade desta semana focou no pecuária brasileira e destacou possibilidade para o setor valorizar seu produtor por meio de um marketing melhor trabalhado

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O mercado de pecuária foi o tema central do Conexão Campo Cidade desta semana, com a participação especial de Rodrigo Paniago, sócio-proprietário da Boviplan. Entre os assuntos abordados, os participantes destacaram um esquecimento de cortes menos nobres da carne bovina, o que afeta negativamente a rentabilidade do produtor.

Conforme ponderou Paniago, o produtor brasileiro tem facilidade para se adaptar às inovações e novas práticas de produção. Um exemplo disso ocorreu em Minas Gerais, onde um pecuarista tornou-se o primeiro no Brasil a abater um animal com certificação Global G.A.P. Apesar da repercussão significativa, o retorno financeiro não correspondeu ao esforço diferenciado, revelando uma lacuna no reconhecimento e valorização do trabalho inovador na pecuária.

Outro exemplo está na região Sul, onde pecuaristas investem na criação de animais de raça inglesa, conhecidos por sua qualidade supe rior. Contudo, o ágio obtido com esses animais diferenciados acaba beneficiando majoritariamente os frigoríficos, em detrimento dos produtores que dedicam tempo e recursos para elevar o padrão de sua produção.

 

Procura por carnes nobres e valorização dos demais cortes bovinos

Marcelo Prado, destacando a crescente procura por restaurantes especializados em cortes de carne de alta qualidade, aponta para uma disposição do consumidor brasileiro em pagar mais por produtos diferenciados. Essa tendência poderia, teoricamente, beneficiar os pecuaristas que investem em qualidade, mas a realidade mostra um cenário diferente.

Entretanto, Tejon, por outro lado, rememorando sua infância, observa uma mudança cultural no consumo de carne no Brasil. Cortes nobres, como a picanha, não faziam parte do cotidiano alimentar, que valorizava mais a carne de terceira categoria. Hoje, percebe-se uma falta de apresentação popular da carne vermelha, indicando uma desconexão com as raízes culturais do consumo de carne no país.

 

Valorização da carne no mercado brasileiro se concentra em poucos cortes

Antônio da Luz chama atenção para a disparidade entre os cortes de carne bovina e de frango disponíveis no mercado. Produtores gaúchos, por exemplo, produzem carne de excelente qualidade, mas enfrentam dificuldades para diferenciar seus produtos no ponto de venda. A falta de comunicação eficaz ao consumidor sobre as qualidades dos diferentes cortes resulta na predominância da escolha por opções mais baratas.

De acordo com Paniago, a valorização da carne no mercado brasileiro se concentra em poucos cortes, deixando de lado a potencialidade de valor agregado em uma ampla variedade de cortes. O desafio reside na capacidade de agregar valor a uma maior porção do animal, transformando cortes menos nobres em produtos desejáveis. Alguns produtores nacionais buscam superar essa barreira através do treinamento de açougueiros, ensinando técnicas de venda e preparo que maximizem o valor da carne.

 

Momento delicado da pecuária nacional

Rodrigo Paniago  descreve o atual cenário como um período de "baixo astral" para os pecuaristas, marcado por preços que estão "batendo o piso" e um desânimo generalizado entre os produtores.

A expectativa de uma inversão na tendência de preços, anteriormente prevista para o momento atual, agora se estende para o final do ano ou possivelmente para o primeiro semestre de 2025. Este adiamento reflete as dificuldades enfrentadas pelo setor, incluindo o descarte de fêmeas durante a entressafra, um período caracterizado por poucas chuvas e, consequentemente, escassez de pastagem.

"É um momento passageiro", afirma Paniago, apontando para a sazonalidade do mercado como um fator crítico. A oferta aumentada de gado para abate, especialmente fêmeas, tende a pressionar os preços para baixo nos próximos meses, uma dinâmica bem conhecida pelos pecuaristas.

 

Ciclo negativo da pecuária mostra sinais de inversão?

Antônio da Luz, outra voz respeitada no agronegócio, questiona se o ciclo da pecuária já começou a mostrar sinais de reversão e se a retomada dos preços pode estar desvinculada da fraqueza do mercado interno. "A problemática não estaria mais atrelada à falta de dinamismo no mercado interno?", indaga Luz.

Respondendo, Rodrigo Paniago destaca que fevereiro apresentou o melhor spread, indicando uma grande oferta de gado que permite aos frigoríficos manter os preços em cheque. No entanto, ele ressalta que o verdadeiro motor dos preços é o mercado interno. "Quem manda nos preços é o consumidor", afirma Paniago, sugerindo que qualquer melhoria salarial ou na economia pode influenciar positivamente o setor.

Apesar dos desafios imediatos, há um otimismo cauteloso de que o ciclo está revertendo. Contudo, a recuperação plena ainda é impedida por fatores internos que afetam a demanda e, por extensão, os preços praticados no mercado.

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Por:
Igor Batista
Fonte:
Notícias Agrícolas

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