Brasil destaca potencial do sul asiático para produção de etanol e mobilidade sustentável
No seminário Sustainable Mobility: Ethanol Talks, realizado nesta quarta-feira (10) em Hanói, capital do Vietnã, lideranças brasileiras destacaram o papel do etanol para a agenda global de descarbonização e mobilidade sustentável. Autoridades e especialistas fizeram relatos sobre a experiência de quase 50 anos de produção e uso do biocombustível, que resulta em avanços ambientais e econômicos importantes. Eles também se colocaram à disposição para o compartilhamento de conhecimentos que possam contribuir com o desenvolvimento do potencial de países do sul asiático na produção dos biocombustíveis. O evento contou com cerca de 100 participantes e presença de embaixadores e representantes de 25 países.
Com a décima edição realizada no Vietnã, o seminário Sustainable Mobility: Ethanol Talks foi lançado em 2020 pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (única), Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e Ministério das Relações Exteriores do Brasil, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Atualmente o projeto é realizado com apoio da Aliança Global para os Biocombustíveis (GBA) e tem o objetivo central de fortalecer a agenda de etanol no exterior.
Durante a abertura do evento, o ministro de Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, pontuou que a produção e utilização de biocombustíveis dependem fortemente de políticas públicas sólidas. Ele destacou a criação do RenovaBio, que criou no Brasil as condições para metas de redução de emissões e para a comercialização de créditos de carbono para mitigar as emissões no setor de transportes. O embaixador também disse que o governo brasileiro planeja expandir o programa para novos biocombustíveis, como combustíveis sustentáveis de aviação, biometano e biodiesel.
Mauro Vieira ainda ressaltou que o Brasil está engajado em iniciativas internacionais que podem contribuir para o compartilhamento de experiências sobre produção e uso de bioenergia. “O Brasil é membro ativo da Parceria Global de Bioenergia da FAO e da Plataforma Biofuturo. Somos também membro fundador da Aliança Global para Biocombustíveis, a GBA, lançada durante a Cimeira do G20 em Nova Deli no ano passado. Acreditamos que esta iniciativa pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de um mercado global de biocombustíveis, com uma contribuição especial do sul global. A presidência brasileira do G20 também trará a bioenergia para o centro do debate sobre a transição energética, pois é um excelente exemplo de como deve ser o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento”, disse o ministro.
O presidente da UNICA, Evandro Gussi, falou sobre a importância do compartilhamento da experiencia brasileira para que os países do sul asiático também possam avançar com metas de descarbonização. “Estamos aqui com um grande público, não só em números, mas em qualificação; um público altamente qualificado para a gente poder compartilhar essa bela experiência que o Brasil tem no uso da bioenergia e especificamente no uso do etanol. Essa iniciativa se junta a várias outras, a partir das quais a gente mostra como essa experiência brasileira de mais de 40 anos usando etanol, gerando economia para o consumidor e redução das emissões, pode acontecer também em outros países. Por isso, a indústria automotiva global passa cada vez mais a encarar o etanol que nos já conhecemos, já usamos e já gostamos no Brasil, como uma solução para inúmeros países do sul global”.
Conhecimento compartilhado
Desde 2020, já foram realizadas edições do seminário Sustainable Mobility: Ethanol Talks em diversas cidades, como Nova Déli (Índia), Bangkok (Tailândia), Islamabad (Paquistão), Buenos Aires (Argentina), San José (Costa Rica), cidade da Guatemala (Guatemala) e Jacarta (Indonésia). O evento chega agora à décima edição, em Hanói, onde contou com uma ampla programação com debates técnicos envolvendo especialistas do Brasil e da Ásia. Eles foram divididos em três painéis temáticos: políticas públicas; o uso do etanol e a indústria automotiva; e soluções tecnológicas para a descarbonização.
Flávio Castellari, diretor-executivo do APLA, fez um balanço positivo do evento: “Enxergamos grandes oportunidades aqui no Vietnã, já que o país tem uma indústria de cana-de-açúcar grande, com quase 200 mil hectares de cultivo e mais ou menos 30 usinas. Existem grandes oportunidades, não só para o Vietnã, mas para o Brasil também, nesse intercâmbio de informações e de negócios. A expectativa foi atingida, com a presença do governo e das indústrias automotiva, do petróleo e da cana-de-açúcar, e seguimos com os eventos bilaterais, buscando estreitar relações com o Vietnã, mostrando os benefícios da produção e uso de etanol, bioenergia e biocombustível”.
O embaixador do Brasil no Vietnã, Marco Farani, reforçou que, como é sabido, a transição energética é um dos maiores desafios da comunidade internacional. “O etanol não é uma commodity como as outras, ele tem um papel muito importante nessa transição em muitos setores, especialmente na mobilidade e transporte. O Brasil tem quase 50 anos de experiência no uso do etanol, e queremos compartilhar essa experiência”, disse na abertura do Ethanol Talks.
Sul asiático
Nos países asiáticos, assim como em outras partes do mundo, são diversos os desafios para a ampliação da mistura de etanol na gasolina a nível nacional, como infraestrutura, custo, disponibilidade do produto e questões regulatórias. Mas, os primeiros avanços já começam a surgir, especialmente na Índia, onde a mistura de etanol na gasolina passou de 2%, em 2014, para os atuais 10%.
Em 2022, a UNICA e a Associação Indiana dos Fabricantes dos Automóveis (SIAM) assinaram um Memorando de Entendimento, que prevê uma série de iniciativas focadas em políticas para reduzir os níveis de emissão de gases de efeito estufa a partir do uso de etanol. Também estabelece o intercâmbio de informações sobre biomassa e acesso ao mercado e sustentabilidade dos biocombustíveis, além do já criado Centro Virtual de Excelência em bioenergia.
"Índia e Brasil são países importantes do sul global, que podem trocar experiências em relação aos biocombustíveis. A Índia se inspira no modelo brasileiro de produção de etanol. Recentemente, em 2023, a Índia e o Brasil, ao lado de outros membros, uniram-se e lançaram a GBA, uma iniciativa muito importante pra promover os biocombustíveis globalmente", apontou Subhash Prasad Gupta, representante da Embaixada da Índia em Hanói.
No Vietnã, o uso de biocombustíveis faz parte da estratégia para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, em conformidade com os compromissos assumidos pelo país no âmbito do Acordo de Paris. O país asiático tem como meta reduzir até 2030 de 15.8% a 43,5% de suas emissões globais de CO2.
A proporção de mistura de biocombustíveis é regulada por decreto desde 2012. Embora a legislação permita a distribuição de diferentes percentuais de mistura no mercado vietnamita, está disponível atualmente nos postos locais apenas dois produtos, a gasolina sem mistura e a gasolina E5, com 5% de etanol.
Atualmente, mais de 70 países no mundo já possuem mandatos que estabelecem algum nível de mistura de etanol na gasolina. O biocombustível tem uma das menores pegadas de carbono, podendo reduzir em até 90% quando comparado à gasolina. No Brasil, desde que os carros flex foram lançados em 2003, o uso de etanol evitou a emissão de cerca de 660 milhões de toneladas de CO2. Além do hidratado (E100), é mandatório no país a mistura de 27% de etanol na gasolina.
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