Açúcar: Otimismo pós-Covid diminui na China e demanda do adoçante em 2023 deve ficar praticamente estável, prevê Czarnikow
No início deste ano de 2023, a China anunciou ao mundo que eliminaria a quarentena para viajantes – o último grande passo para colocar fim na política "Covid-zero" depois de quase três anos –. Com o fim das restrições, aos viajantes e residentes, as expectativas econômicas para este ano foram revisadas positivamente no país.
O gigante asiático consume anualmente entre 15 a 16 milhões de toneladas de açúcar, mas produz somente cerca de 10 milhões de t e precisa importar o restante a cada safra, inclusive do Brasil.
"O entusiasmo do consumidor voltou depois que a China suspendeu os controles da Covid no final de 2022 e todos pareciam acreditar que a demanda em 2023 estaria de volta aos níveis pré-Covid, mas agora a confiança parece estar começando a desaparecer", destacou em relatório a analista Rosa Li, da trading inglesa Czarnikow.
RECEITA COM TURISMO DOMÉSTICO NOS FERIADOS
No "Ano Novo Chinês" deste ano de 2023, comemorado entre os dias 21 a 27 de janeiro, a receita do turismo doméstico chinês foi de 275,8 bilhões de iuanes (cerca de US$ 38,44 bilhões), cerca de 30% a mais do que no mesmo período do ano anterior, mas aquém dos níveis de 2019. Desde então, os preços do açúcar subiram no país à espera de bom consumo nos meses seguintes.
"Os altos preços do açúcar reduziram a demanda por açúcar cristalizado, que pode ser a mesma de 2022", destaca a analista.
Depois disso, o feriado do "Dia do Trabalho", entre os dias 29 de abril a 3 de maio na China, superou os níveis de 2019, com faturamento de 148,1 bilhões de iuanes (cerca de US$ 20,63 bilhões) animando ainda mais o mercado para este ano de 2023. Porém, a receita do último feriado, o "Barco do Dragão", em junho, voltou a ficar abaixo do nível de 2019.
O próximo grande feriado chinês é previsto para o final de setembro e início de outubro, o chamado "Mooncake e Dia Nacional", período em que o consumo de açúcar tende a se elevar no país por conta da preparação dos tradicionais bolinhos. Em junho, as temperaturas na China estiveram altas, o que ativou o consumo de bebidas frias, mas também há dúvidas de quanto o mercado está preparado para isso.
VENDAS DOMÉSTICAS EM MAIO ATÉ SUPERARAM EXPECTATIVAS
As vendas do adoçante no gigante asiático em maio surpreenderam o mercado, com os melhores resultados em uma década, mas ainda há dúvidas sobre a continuidade desse cenário. "Achamos que alguns dos estoques podem ter sido transferidos das usinas de açúcar para os comerciantes", disse Li no relatório sobre a situação do mercado chinês.
"Tanto os traders spot quanto os basis (a diferença entre os preços físicos e futuros) acumularam estoques em maio, com o preço estável e os prêmios subindo. Mas agora ambos estão hesitando diante dos preços altos e voltando-se para a venda de ações", complementou a analista.
Ao invés de compras imediatas, os grandes consumidores chineses de açúcar têm optado por períodos mais espaçados de aquisições das usinas, trimestrais ou semestrais. "Os traders, no entanto, estão começando a se preocupar porque acham que a demanda por açúcar branco não está crescendo como o esperado, e a demanda por pequenos e médios consumidores está diminuindo", afirma Li.
DADOS ECONÔMICOS DAS FAMÍLIAS NADA ANIMADORES
Outro dado que impacta nas perspectivas de demanda para o adoçante vem das famílias chinesas. "O otimismo pós-Covid diminuiu. As poupanças dos residentes continuaram a aumentar, refletindo o declínio da vontade de gastar dos residentes e a psicologia da poupança preventiva [ao invés do consumo imediato]", diz Rosa Li.
A situação dos negócios da indústria manufatureira também diminuiu. O PMI industrial caiu abaixo da linha de 50 pontos, que separa a expansão da contração. Em consequência, o desemprego entre jovens atingiu um novo recorde.
AÇÚCAR SENDO SUBSTITUÍDO NA INDÚSTRIA
O alto preço do açúcar já tem levado os chineses a apostarem em substitutos, algo que também impacta a demanda pelo adoçante. "As importações de açúcar líquido e premix em maio foram de 145,1 mil toneladas. Embora tenham caído da alta de abril, ainda estão em um nível alto", destacou no relatório a analista da Czarnikow.
As importações indianas de açúcar branco, que costumam ser usadas na produção de pré-misturas ou premix, também caíram desde o mês de abril. "Isso ocorre porque as exportações de açúcar da Índia atingiram seu limite de cota este ano", complementou. Nas indústrias de bebidas chinesas, o açúcar tem sido trocado – sem comprometer o sabor – por xarope de milho (HFCS), que tem preço menor.
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