Raízen e KCC assinam contrato para transporte de açúcar e combustíveis
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A Raízen e a KCC Chartering, subsidiária da norueguesa Klaveness Combination Carriers (KCC), assinaram um contrato de três anos de afretamento de navios híbridos, que transportam cargas líquidas e secas, com foco na redução de emissões e em ganhos de eficiência.
Com a iniciativa, os navios da KCC poderão levar açúcar da Raízen para mercados estratégicos e retornar com combustíveis, permitindo que estejam constantemente carregados, disseram executivos de ambas as empresas à Reuters.
A Raízen –uma joint venture da Shell com a Cosan– também atua no suprimento de combustíveis na Argentina e no Uruguai, cujos mercados assim como o Brasil também são deficitários em relação a esses produtos e poderão ser abastecidos pelos navios híbridos.
A combinação de cargas, com mínimo de lastro e tempo de espera entre as viagens, poderá reduzir em até 40% as emissões de CO2 por tonelada transportada, dependendo da rota e em comparação a navios-tanque padrão e navios graneleiros realizando as mesmas atividades comerciais, afirmou.
“Não tem só a ver com a redução de emissões, tem a ver com fazer o melhor para o mundo, sendo competitivo e eficiente. Isso nos aproxima muito dos nossos clientes e amplia nossas relações, porque é um ganha, ganha, ganha”, afirmou à Reuters o vice-presidente de Trading da Raízen, Paulo Neves.
Normalmente, os navios podem ficar cerca de 40% de seu tempo viajando vazios e fazendo operações de embarque e desembarque. No acordo com a KCC, a expectativa é reduzir esse percentual a cerca de 5% a 10%.
“A lógica do navio é igual a do avião, não pode parar, tem que rodar o tempo inteiro”, frisou Neves.
Pelo negócio, a Raízen contará com oito navios híbridos da KCC a seu serviço, o equivalente a metade da atual frota da companhia afretadora. Cada embarcação pode transportar mais ou menos 75 mil toneladas de carga seca e 65 mil toneladas de carga líquida.
O número de navios do negócio é relativamente pequeno, considerando que a Raízen opera atualmente com cerca de 400 navios afretados. No entanto, Neves frisou a característica única do acordo, que tem ainda o potencial para crescer, trazendo mais resultado com o tempo.
“Esse caso é emblemático porque a gente é muito feliz de encontrar uma empresa com um DNA tão parecido com o nosso, construindo uma solução que é mais eficiente para todo mundo… e, além de tudo, o nosso cliente que já tem um açúcar vencedor da Raízen, terá esse açúcar com uma pegada de carbono menor”, disse Neves.
“Eu demorei até a acreditar que a gente ia conseguir colocar açúcar e líquidos no mesmo navio.”
A Raízen e a KCC planejam aumentar ainda mais as reduções de emissões ao estabelecer ambições para uma cooperação de longo prazo em iniciativas de eficiência operacional e energética, bem como possíveis testes de novos tipos de combustível.
O CEO da KCC, Engebret Dahm, destacou que a empresa unirá esforços com a Raízen para enfrentar ineficiências na área de transporte e cumprir compromissos conjuntos em relação à descarbonização.
Dahm destacou que a indústria marítima não está incluída no Acordo de Paris e que as iniciativas globais para a descarbonização dependem em grande parte de regulamentos que precisam ser acordados entre países, o que muitas vezes pode não ser muito eficiente.
“É preciso liderar, agir. Você não pode esperar que os governos ajam. Você precisa agir cedo… Essa é a filosofia da minha empresa e, pelo que aprendi sobre Raízen, também é a filosofia dela. E é por isso que eu acredito que essa é uma parceria muito boa”, disse Dahm.
A solução ocorre ainda em um momento em que as grandes distribuidoras de combustíveis no Brasil investiram alto em infraestrutura e logística para importar produtos como diesel e gasolina, depois que a Petrobras reduziu sua atribuição no abastecimento do país nos últimos anos, incluindo a venda de refinarias.
Neves destacou que o mercado brasileiro hoje depende também de outros players privados além da Petrobras. “Olhando do ponto de vista estrutural, de uma forma muito rápida, a gente imagina que o Brasil continua deficitário esse ano, continua precisando importar”, concluiu.
(Por Marta Nogueira)
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