Produtores do Centro-Norte de SP negociam cana no spot a até R$ 30,00/t sobre o ATR

Publicado em 16/10/2017 15:14
Seca ajudou derrubar produção, já em baixa, e estimulou o mercado livre, que deverá ser maior na próxima safra pelo impacto nos canaviais mais jovens

Com o ATR em queda acentuada desde junho, antes mesmo de chegar ao meio da safra de cana no Centro-Sul, produtores que costumam segurar parte de sua produção – ou toda ela - para venda no spot conseguiram fugir do valor estabelecido pelo Consecana. Em média, o Açúcar Total Recuperável veio pagando R$ 0,54 por quilo até o mês passado, somando em torno de R$ 71,00 a tonelada posta na esteira da usina, mas muitos canavieiros da macro-região de Ribeirão Preto levaram R$ 100,00 pela tonelada com a venda de balcão.

A queda na produção com a estiagem a partir de junho, sobre um total previsto já menor que no ciclo 16/17 – entre 585/588 milhões/t contra 607 milhões/t -, favoreceu a procura pelas indústrias por cana fora de contrato. E onde a concorrência é maior pela matéria-prima, fator fundamental para o canavieiro se manter no mercado livre, como no Centro-Norte e Norte paulistas, que concentram a maior quantidade de unidades, o negócio deu certo este ano.

José Roberto Ferreira Manduca, com propriedades em Jaboticabal e Ituverava, foi um dos que conseguiu o R$ 100,00 por tonelada e só lamenta ter reservado pouco fora de contrato fechado com usinas. “Me consultaram se eu tinha 10 mil toneladas nos últimos dias”, disse Manduca, sem revelar o nome da empresa para evitar represália na próxima safra.

Com aproximadamente 1.040 hectares de cana, deixando livre em torno de 50 para vender no spot, Manduca negociou 13 mil toneladas fora do preço fixado pelo Consecana, o colegiado da cadeia produtiva que mede o ATR levando em conta a qualidade do açúcar e os preços finais do açúcar e do etanol. “O ano passado foi até bom o ATR, mas esse ano começou a cair muito mais cedo e de forma acentuada com a baixa do açúcar no mercado internacional”, explicou o produtor.

Também na mesma região Centro-Norte de São Paulo, Anderson dos Santos fechou a colheita em setembro com tudo negociado no spot. Ele, porém, como tem menor área, 242 hectares, deixa toda a sua produção fora de contrato, que neste ano veio com uma produtividade de 230 toneladas por hectare.

“Eu até esperava que seria melhor nesta safra, mas não posso reclamar porque no finalzinho de minha colheita os compradores vieram”, sentenciou o agricultor, lembrando, contudo, que nem sempre o mercado spot é vantajoso. Neste mesmo período do ano passado, o ATR beirava os R$ 0,70 e não houve falta de cana.

Mais spot em 18/19

Tanto Manduca quanto Santos deverão dar um upgrade na cana livre para a safra 18/19, principalmente o primeiro que também negocia contratos com usinas e alguns que estão para vencer poderão não ser renovados.

A seca deste segundo semestre deverá impactar muita cana que estava em desenvolvimento para o próximo ciclo, além do que muita cana-soca foi perdida.

Como acentua Anderson dos Santos, em situação como essas, quando as usinas ficam ameaçadas de não cumprirem seus contratos internacionais, sai mais barato para elas correrem comprar cana no mercado disponível do que arcarem com as multas.

Sem estatísticas

O movimento desse tipo de comércio de cana não é mensurado, nem as usinas costumam abrir seus dados, tanto que não há registro de negócios divulgados nas estatísticas da Unica – União da Indústria de Cana de Açúcar, porque o crescimento da oferta no mercado spot poderia representar um golpe duro no setor. Mesmo com as usinas moendo considerável quantidade de cana própria, sem a oferta dos canavieiros independentes a produção final não fecha.

O ATR, afinal, sempre foi alvo de críticas da maior parte dos produtores rurais, para quem  nem sempre reflete os custos operacionais, embora não se coloque em dúvida a lisura da metodologia empregada, além do que a Orplana – entidade de rege as associações regionais de fornecedores – tem acento no Consecana.

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Por:
Giovanni Lorenzon
Fonte:
Notícias Agrícolas

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