Soja 23/24: Mercado acompanha de perto plantio no BR, mas colheita da nova safra nos EUA ainda pesa

Publicado em 02/10/2023 14:55 e atualizado em 02/10/2023 15:37

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Embora a conclusão da safra 2023/24 dos Estados Unidos ainda esteja chamando a atenção, o plantio no Brasil ganha cada vez mais espaço no radar dos agentes do mercado, já que o início efetivo dos trabalhos de campo tem preocupado por condições de um clima ainda irregular nas principais regiões produtoras. "O início de safra no Brasil está, realmente, trazendo algumas preocupações. Temos um plantio que se iniciou muito rápido, porém, no atual momento, passado o mês de setembro, vimos que o ritmo semanal está caindo", aponta o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. 

Dados levantados pela consultoria apontam que a semeadura da nova temporada no país chega aos 4,64%, ligeiramente atrás do índice do ano passado, de 4,80%, e da média dos últimos cinco anos, de 4,81%. O estado mais adiantado nos trabalhos de campo é o Paraná, com 18,4% - contra 5,9% de 2022 e 3,2% de média - seguido pelo Mato Grosso, que tem 4,2% de área plantada, enquanto eram 6,3% no ano passado e 1,8% na média. 

Pátria - Gráfico Plantio

Ainda como explica Pereira, esta perda de ritmo se dá em função "da falta de reposição hídrica na região Centro-Norte do Brasil e temperaturas bem mais elevadas. E As previsões ainda não são muito animadoras para os próximos 10 a 15 dias, mostrando chuvas ainda esparsas, mal distribuídas, com exceção de Roraima e o noroeste de Mato Grosso". Dessa forma, a Pátria enxerga que nas próximas semanas possa haver registro de algum atraso nos trabalhos de campo em áreas de produção desta região. 

Caso este atraso vá se agravando e problemas forem se desenhando, o mercado da soja pode começar a refleti-los também de forma mais expressiva. 

"A safra do Brasil pode se desenhar com alguns problemas, em especial pelo El Niño, que está longe de desenhar uma safra regular e saudável para o país. Ainda tem muita coisa para acontecer de agora em diante. Vemos alguns meteorologistas negando a presença do fenômeno, enquanto outros alegam a presença e as dificuldades que podemos enfrentar daqui em diante. Nossos modelos, nossas fontes elas indicam que já estamos presenciando efeitos negativos do El Niño que podem se intensificar com a formação de um super fenômeno já a partir de de novembro", detalha Pereira.

A análise e as perspectivas da Pátria para o atual momento se assemelham as da Agrinvest Commodities. "Somente o Paraná está bem agora", diz o analista de mercado Eduardo Vanin. "O modelo europeu (de clima) não mostra muitas chuvas para os próximos dias. Até os dias 11, 12 não temos muito volume para o Mato Grosso, além de Tocantins, Bahia e o norte de Goiás. E há divergências entre os modelos, com o americano mostrando menos chuvas ainda para o Mato Grosso. Portanto, o plantio deve seguir atrasado", diz. 

Vanin destaca ainda as informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) que apontam que as chuvas foram insuficientes no último final de semana, "menos do que o modelo europeu estava prevendo".

O mesmo Inmet, em manchete no Notícias Agrícolas, aponta também que outubro deve ser marcado por chuvas abaixo da média no Matopiba, podendo promover também atraso no plantio 2023/24. "A falta de chuva vai manter baixos níveis de água no solo, levando a um possível atraso na semeadura dos cultivos de primeira safra", afirma a previsão. 

Para a região Central do país, o instituto destaca irregularidade das chuva na na faixa que se estende desde o Mato Grosso até o Espírito Santo, que manterá a umidade do solo baixa, podendo afetar a semeadura o início do desenvolvimento dos cultivos de primeira safra. "No entanto, em áreas de Mato Grosso do Sul, São Paulo e sul de Minas Gerais, a umidade no solo será suficiente para atender as fases iniciais da safra 2023/24". 

Leia a notícia de Virgínia Alves na íntegra:

Um levantamento do Grupo Labhoro traz as previsões tanto do modelo GFS, quanto do modelo europeu para o tempo no Brasil nos próximos sete e dez dias. 

"O modelo GFS, gerado na manhã desta segunda-feira, indica para os próximos dez dias, clima predominantemente seco para grande parte das regiões produtoras do Brasil. Com acumulados leves pontuais no sudeste de MT, centro de GO, sul de MG, norte e centro de SP e oeste do PR. Precipitações moderadas a fortes esperadas para o sul de SP, centro e leste do PR. Acumulados fortes a extremamente fortes apontados para SC e norte do RS. Já o Modelo Europeu, gerado nesta madrugada, indica precipitações também para o estado do MS. Além de maior volume de chuva em MG, GO, SP, PR e SC", informa a Labhoro.

Mapas Labhoro

E apesar de todas estas preocupações com o  clima, nesta segunda-feira a StoneX reforçou suas perspectivas de um novo recorde na produção brasileira de soja, estimando a safra em 164,1 milhões de toneladas, 0,3% maior do que a anterior. A área é estimada em 45,3 milhões de hectares, incremento de 2,7% em relação à temporada 2022/23. 

“O clima pode trazer surpresas ao longo do ciclo, e a gente não pode deixar de considerar a possibilidade de um El Niño de forte intensidade em períodos importantes para o desenvolvimento das lavouras”, pondera a especialista de inteligência de mercado do grupo, Ana Luiza Lodi.

Enquanto isso, o mercado segue atento e acompanhando dia a dia como se desenvolve a nova safra no maior produtor de soja do mundo, apesar da maior parte da safra 2023/24 ainda precisar ser colhida e com o novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA estar no horizonte para a próxima semana. "O mercado está tentando enxergar o Brasil, mas sabe que a safra norte-americana ainda é o principal peso", afirma o diretor da Pátria. 

À espera destas informações sobre a conclusão da safra americana e o caminhar da brasileira, o mercado mantém seu suporte - na Bolsa de Chicago - nos US$ 12,50 por bushel tanto no spot, quanto no segundo mês - novembro e janeiro - e precisa de novas notícias para voltar a subir, explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. "O mercado está só sob fatores técnicos, e vai trabalhar nesse briga, com o suporte nos US$ 12,50", diz. 

Desta forma, para esta semana o que se espera são apenas negócios pontuais, a conta-gotas, ainda segundo o consultor. "Tudo aponta que esta primeira semana de outubro deve caminhar a passos lentos, com vendas pontuais de produtores que necessitam de caixa e poucas chances de grandes negócios. Até mesmo na safra nova não se espera por grandes novidades neste curto prazo. Nestes próximos dias os produtores estarão mais interessados no plantio do que nos negócios, o que faz com que se espere uma fase de calmaria", complementa Brandalizze.

Nesta segunda-feira (2), os futuros da oleaginosa terminaram o dia com estabilidade, subindo entre 1,25 e 4 pontos nos principais contratos, depois de ter testado o lado negativo da tabela. Assim, o novembro concluiu o pregão com US$ 12,76 e o maio, referência para a safra brasileira, a US$ 13,26 por bushel. 

Do mesmo modo, no final da tarde, o dólar subia 0,94% frente ao real para ser cotado a R$ 5,07, caminhando para o encerramento dos negócios desta primeira sessão da semana. E sobre isso, Brandalizze traz o alerta. "Hoje, o fator chuvas no Brasil não é tão importante para o mercado como o dólar. O dólar em alta afeta e limita as altas em Chicago. Então, dá para ver que as cotações internas estão caindo, mas não caindo muito em função do tombo de sexta-feira (em Chicago) e o mercado sabe que a soja vai ser plantada, mais cedo ou mais tarde. O que é um problema é atrasar plantio de soja e comprometer plantio de safrinha de milho, isso sim pode ser um fator negativo para a produção. Por enquanto, tudo dentro do normal". 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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