'Dólar Soja' encerra período de vigência com venda de quase 40% da safra 2021/22 da Argentina

Publicado em 30/09/2022 16:24 e atualizado em 30/09/2022 17:33

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Se encerra nesta sexta-feira, 30 de setembro, a vigência do 'dólar soja' na Argentina com cerca de 15,8 milhões de toneladas comercializadas em 19 dias, de acordo com dados da Bolsa de Cereais de Buenos Aires apurados pelo portal local Agritotal. Somente nesta quinta-feira (29), os produtores argentinos venderam mais de 500 mil toneladas, buscando aproveitar as oportunidades do câmbio garantido pelo governo - que precisava urgentemente gerar divisas e foi buscar na sua 'galinha dos ovos de ouro - de 200 pesos por 1 dólar.  O volume comercializado responde por quase 40% da safra 2021/22 de soja do país. 

Além de novos contratos, grandes volumes de soja que já haviam sido vendidos no país usaram o momento para ter seu preço fixado. Em 12 de agosto, o Notícias Agrícolas noticiou que do total comprometido à épóca apenas metade estava precificado. 

Os dados fechados e contabilizados com o Programa de Incremento Exportador serão divulgados e comentados pelo ministro da Economia da Argentina, Sérgio Massa, nesta sexta-feira, às 18h. O câmbio diferenciado para os produtores argentinos começou a valer em 5 de setembro e gerou um frenesi no mercado local, trazendo um novo fôlego às vendas que estavam completamente paralisadas no país, superando largamente as expectativas da pasta. 

De acordo com informações que circulam pelo mercado, somente a China teria comprado mais de 70 barcos neste intervalo, aproveitando a elevada competitividade da soja argentina.

"A China cobriu todo o mês de outubro e para novembro falta o 1/3 final. Para dezembro, janeiro e fevereiro falta ainda uma boa parte. A Argentina começou a ofertar soja para novembro, mas ao contrário do embarque outubro, o Golfo está mais barato. Os prêmios nos EUA estão fazendo o trabalho", explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities. 

Agora, porém, com o baixo nível do rio Mississippi, a logística dos EUA preocupa e entra forte no radar do mercado. 

"Esse ano o nível do Rio Mississippi está em seu menor nível em mais de 30 anos. Fotos da Nasa mostram que há vários pontos já muito estreitos. As barcaças estão reduzindo a carga e os comboios estão menores. Os maiores barcos puxadores já estão encostados. O frete está subindo todos os dias. Por enquanto esse custo maior está sendo absorvido na margem de elevação. Se a situação não melhorar, e parece que não vai, o custo maior será absorvido pelo produtor ou pelo importador. Por enquanto, as tradings estão ofertando soja novembro e dezembro nos mesmos níveis da semana passada no CFR China", complementa Vanin. 

Em 2021, problemas logísticos, ainda como detalha o analista, empurraram a demanda para o mercado brasileiro para o intervalo de outubro a janeiro", complementa Vanin.  

O que se vê é que, aos poucos, os compradores vão acompanhando a montagem da cena da oferta para definir onde e quando farão suas compras. Fato é que há espaço para as três principais origens globais: Brasil, Estados Unidos e Argentina. 

Ainda de acordo com informações da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, na última semana do programa as vendas foram mais tímidas do que as das primeiras, com 10,8 milhões de toneladas tendo sido comercializadas tão logo a medida foi lançada. O recorde se deu no dia 6 de setembro, quando foram negociadas 1,07 milhão de toneladas, sendo mais de 682 mil toneladas em novos contratos e mais de 387 mil com fixação de preço, de acordo com números da Bolsa de Comércio de Rosário. 

Para a partir de agora, as expectativas no mercado local são de que as vendas percam força, voltando ao ritmo que se observava antes da medida, lembrando que os produtores seguem enfrentando o peso das elevadas retenciones de 33% - as quais se estendem também para farelo e óleo, comprometendo também a competitividade de ambos os derivados. 

A expectativa do mercado agora é de que Massa traga mais detalhes sobre mudanças no regime de importações sobre as quais falou nesta semana, afirmando ainda que o governo poderia trazer medidas que pudessem garantir ao menos alguma previsibilidade ao comércio e à economia de uma forma geral em 2023. O ministro afirmou que os objetivos, com isso, são o de cuidar da atividade produtiva e das reservas do Banco Central.

SAFRA 2022/23 DEVERÁ CONTRIBUIR MENOS COM ECONOMIA ARGENTINA

Nesta semana, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires trouxe algumas perspectivas sobre a nova safra de soja da Argentina apontando que a nova temporada deverá refletir, pelo terceiro ano consecutivo, os efeitos do La Niña. 

A instituição estima uma área de 16,07 milhões de hectares destinada ao cultivo da oleaginosa. Já para o milho, a BCBA estima uma redução de área de 200 mil hectares, para 7,5 milhões. A soja deverá registrar produção de 48 milhões de toneladas e o milho de 50 milhões. 

Assim, a produção total de grãos e cereais da Argentina na temporada 2022/23 deverá ser de 127,7 milhões de toneladas do grão, com incremento esperado apenas para a produção de soja, em cerca de 10,8% - e lembrando que a recuperação esperada é tão robusta depois de perdas muito agressivas na última safra. 

Além das questões climáticas, os elevados custos de produção desencorajaram o plantio de diversas culturas, com destaque para o trigo, que tem produção estimada 21,9% menor na comparação anual. 

Dessa forma, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires já adianta também que a economia argentina, portanto, deve ter um aporte menor vindo da agricultura nesta próxima temporada. As exportações, de acordom com a instituiçao, deverão apresentar uma baixa de 9,2% em seu fluxo de divisas - apesar dos altos preços internacionais - e a arrecadação fiscal podendo apresentar uma redução de 9,1%. 

O Produto Bruto Agrícola (PBA) da Argentina, portanto, ficaria em US$ 50,665 milhões, 11,8% menor do o da safra 2021/22. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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