Soja tem sessão volátil em Chicago, fecha no vermelho, mas preços no BR têm suporte no dólar nesta 3ª
Depois de boas e expressivas altas durante quase todo o pregão desta terça-feira (27), no que parecia ser um dia de recuperação para as commodities das baixas intensas da sessão anterior, os preços da soja passaram para o campo negativo e concluíram o dia com baixas de 1,25 a 3,25 pontos nos principais vencimentos negociados na Bolsa de Chicago.
O mercado vinha subindo diante de menos temor no financeiro, dando espaço para a retomada das cotações, porém, voltou a se sentir pressionado com os vazamentos em dois gasodutos russos no Mar Báltico que atingiram o gasoduto. A possibilidade de uma sabotagem tem sido bastante ventilada e, caso seja confirmada, sinalizaria uma preocupante escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia.
O acontecimento voltou a intensificar a aversão ao risco, as commodities passaram a recuar, o dólar voltou a subir - incluindo o dólar index - ajundando nesta pressão, e as atenções voltaram a se dar para o financeiro, a macroeoconomia e a geopolítica. Afinal, ainda nesta terça o referendo na Rússia foi concluído sobre a anexação de áreas ucranianas, bem como seu presidente emitiu um novo acordo nuclear.
"Os preços da soja falharam ao tentar garantir os ganhos registrados mais cedo e fecharam o dia com pequenas baixa, também refletindo algumas vendas técnicas nesta terça-feira", explicaram os analistas de mercado do portal norte-americano The Farm Futures. Entretanto, temendo os próximos desdobramentos com a guerra, milho e trigo fecharam em alta na CBOT, liderados pelo trigo, que encerrou a sessão com altas de dois dígitos.
Mais do que isso, como alerta o diretor comercial da Agrosoya e da Novo Rumo Commodities, a atenção se redobra sobre este "ataque às moedas", que pode tirar força das commodities, em especial as agrícolas, com uma redução no poder de compra dos grandes clientes - da soja, por exemplo - e poderiam também ser mais um fator de baixa sobre as cotações. Frente ao real, a moeda americana voltou a se aproximar dos R$ 5,40, apesar de voltar a recuar no final do pregão.
Todavia, o mercado da soja tem alguns fatores entre seus fundamentos que também trazem alguma pressão sobre as cotações neste momento. Entre eles, está o avanço da colheita americana - apesar de estar ligeiramente atrasada em relação à media e ao ano passado - e do plantio nos EUA - que também sente o excesso de chuvas em algumas áreas neste momento, como é o caso de partes do Paraná.
Ainda assim, de acordo com dados de consultorias privadas, a semeadura da soja 2022/23 já estaria concluída em cerca de 2% da área estimada para esta temporada.
"No Brasil, os estados do sul e sudeste já começaram a realizar a semeadura, mas as chuvas que impulsionaram o plantio de soja no Paraná neste início do ciclo agora prejudicam os trabalhos, que tendem a ficar mais lentos nesta semana por conta da elevada umidade que dificulta a entrada das máquinas nos campos", explica o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa.
Ainda segundo a apuração da consultoria, o Brasil deverá sofrer com o clima ainda seco na região do MATOPIBA, norte do Goiás, grande parte de Mato Grosso e sul do Rio Grande do Sul. Já para o norte do estado gaúcho, Santa Catarina, Paraná e sul mato-grossense deverão registrar chuvas leves, segundo o mapa do modelo GFS.
Além do plantio brasileiro e da colheita americana, a comercialização argentina também tem bastante espaço no radar dos traders. Com o estímulo do 'dólar soja' - que vale até 30 de setembro - o país já vendeu, de acordo com dados levantados pela Agrinvest Commodities, mais de 12 milhões de toneladas do grão, com forte presença da China nas compras diante de toda a competitividade que se registrou pelo produto argentino neste mês.
"A China continua comprando soja na Argentina. Já falam em mais de 70 barcos. A China cobriu todo o mês de outubro e para novembro falta o 1/3 final. Para dezembro, janeiro e fevereiro falta ainda uma boa parte. A Argentina começou a ofertar soja para novembro, mas ao contrário do embarque outubro, o Golfo está mais barato", afirma o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
Atenção também à chegada do furacão Ian que se desloca para a Flórida, nos EUA, já tendo atingido Cuba nesta terça.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, de acordo com o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, os preços testaram até R$ 2,00 no mercado de balcão nesta terça-feira, com mais interesse de compra sendo observado. Já no mercado de lotes, nos portos, os preços ainda confirmam bons indicativos, tentando se equilibrar entre as baixas em Chicago e a alta do dólar.
A semana no mercado brasileiro da soja, mais uma vez, começa com negócios focados na exportação, uma vez que as indústrias, ainda como explica Brandalizze, se dizem abastecidas.
"Os produtores seguem com o plantio a todo vapor e desta forma aproveitando as chuvas que estão caindo e plantando cedo, buscando fugir do risco de corte de chuvas em janeiro, que estará com soja em maturação se plantada agora. Atenção às chuvas sobre boa parte do Paraná, que estava com plantio localizado devido ao excesso de chuvas nestes últimos dias", diz o consultor.
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