Prêmios da soja recuam no Brasil após G20, mas não define tendência
Donald Trump e Xi Jinping se reuniram, jantaram juntos no sábado à noite da reunião do G20, que aconteceu na capital argentina Buenos Aires, informaram uma trégua na guerra comercial que já dá seus primeiros sinais desde o início do ano e o primeiro resultado foi o seguinte: altas tímidas e ainda frágeis para os preços da soja na Bolsa de Chicago. No Brasil, prêmios praticamente mantidos.
"É uma trégua que já estava alinhada. Muda pouco, mas já aponta para um caminho de solução, embora ainda esteja distante", explica o diretor e consultor do SIMConsult, Liones Severo.
O mercado, segundo especialistas, apenas tratam com mais otimismo as negociações que vêm pela frente, especialmente nestes 90 dias de um "cessar fogo" momentâneo. Sem acordo, a China não deverá a voltar, ao menos nesse momento, a voltar a comprar grandes volumes de soja dos EUA e refazer o ritmo da dinâmica do comércio global de soja antes da guerra comercial.
Os presidentes americano e chinês se propuseram a pausar as imposições de tarifas e, consequentemente, as retaliações por três meses e os efeitos práticos dessa medida ainda não puderam ser completamente absorvidos, compreendidos e refletidos. As especulações continuam, principalmente, sobre os prêmios pagos pela soja brasileira quando da ótica do produtor brasileiro.
Nesta segunda-feira, as posições mais curtas de entrega - dezembro e janeiro - no porto de Paranaguá recuaram 11,54% para US$ 1,15 sobre os valores praticados na Bolsa de Chicago. Na contramão, o fevereiro/19 foi aos mesmos US$ 1,15, mas subindo 15%, enquanto o março/19 se manteve estável nos US$ 0,70 sobre a CBOT.
No entanto, o recuo dos prêmios chega mesmo com a taxação dos 25% da China sobre a soja americana ainda mantida. "Assim, o prêmio para a soja braisleira está defasado. Atenção!", diz.
E complementando, o diretor da LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto detalha ainda mais a situação atual da relação China x EUA e como poderia impactar sobre a formação dos prêmios no Brasil.
"Continuará vigente a tarifa de 25% sobre a soja americana, além dos 3% de imposto de importação que vigoram para nós, ou seja, serão 28% que precisarão ser pagos sobre o preço CIF da soja que é composto de: 1) Preço na porta da fazenda (Ex-works), considerando que o produto esteja padronizado para exportação + 2) frete até o Porto + 3) despesas portuárias (fobbing) + 4) frete internacional + 5) seguro = Preço CIF", explica Porto.
Assim, mais do que isso, "os prêmios precisam, de certa forma, refletir esse acréscimo de custo da paridade de preços com a soja americana, ficando um pouco abaixo para que valha a pena para o comprador", completa o executivo.
Imagem da Reuters mostra que ainda é intenso o fluxo de navios do Brasil em direção à Ásia
Dessa forma, analistas e consultores não acreditam - ainda sem o acordo firmado e formalizado - em uma continuidade e uma intensficação dessa queda dos prêmios brasileiro ao menos por agora.
"Acredito que Chicago ainda caminha lentamente, os prêmios recuam pouco, porque essa trégua mostra que se trata muito mais do que uma guerra comercial, é uma busca por hegemonia geopolítica. Então, nesses próximos 90 dias ainda teremos muita tensão e volatilidade para os preços na Bolsa de Chicago, o que pode trazer oportunidades fantásticas de venda para o produtor brasileiro", explica o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios.
Além disso, Fernandes lembra ainda que a demanda pela soja segue bastante intensa, o que se estende por todo o complexo soja, e chega até às proteínas animais, o que ajuda a manter preços e prêmios também equilibrados.
Como explica o consultor, que divide a opinião com o analista de mercado Marlos Correa, da Insoy Commodities, o recuo dos prêmios é 'natural' para este momento, principalmente no disponível, onde já não há quase soja para ser comercializada no Brasil. Os estoques estão, praticamente, zerados. "Não há grandes tomadores de prêmios neste momento", diz Correa.
Ao mesmo tempo, os compradores também já vêm no horizonte uma boa safra se desenvolvendo no Brasil, podendo alcançar um volume recorde e chegando até 15 dias mais cedo nesta temporada. E essa é uma oferta, inclusive, com a qual a China já conta. Uma projeção da INTL FCSonte reportada nesta segunda-feira trouxe a colheita brasileira estimada em 120,21 milhões de toneladas, contra a anterior de 120,19 milhões.
Fato é que ainda não há um acordo e se mantém o compasso de espera no mercado mundial da soja. "E o mercado estará ainda completamente focado nos próximos passos de China e Estados Unidos nestes próximos 90 dias. Ainda não saímos do limbo", diz Camilo Motter, economista e analista da Granoeste Corretora de Cereais. "Mas, claro, com a efetivação de um acordo, os prêmios podem sim cair um pouco mais no Brasil", completa.
Ambiente incerto
Neste ambiente ainda incerto, o entendimento das reais intenções de Trump e Xi com o anúncio dessa trégua virá somente com o conhecimento dos detalhes. Ambos são líderes duros e que têm tratado o assunto sem ceder às pressões do oponente.
"Trump gosta de sair desses eventos em grande estilo dizendo que costurou um excelente acordo, mas apenas postergou sua decisão. Ainda acho que os chineses podem comprar mais dos EUA, mas evitar a transferência de tecnologia e parar com o alegado roubo de propriedade intelectual, se ocorrer, não vai acontecer em 90 dias", acredita o economista e professor do Insper, especialista em China, Roberto Dumas Damas.
EUA esperam ação imediata da China em compromissos comerciais
WASHINGTON (Reuters) - Os Estados Unidos esperam uma ação imediata da China em questões comerciais após um acordo alcançado pelos líderes dos países, incluindo tarifas reduzidas sobre automóveis e medidas contra roubo de propriedade intelectual e transferências forçadas de tecnologia, afirmou uma autoridade da Casa Branca nesta segunda-feira.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, concordaram em não impor novas tarifas por 90 dias durante conversas na Argentina no sábado, declarando uma trégua após meses de crescentes tensões sobre comércio e outros assuntos.
Esse período de 90 dias começará em 1º de janeiro, afirmou o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, a repórteres.
Os chineses ofereceram mais de 1,2 trilhão de dólares em novos compromissos comerciais, afirmou o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, nesta segunda-feira. Kudlow disse que esse número era um amplo valor de referência e se referia a transações privadas de compra de bens dos EUA, sujeito a condições de mercado.
A China também se comprometeu a imediatamente começar a retirar tarifas e barreiras não-tarifárias, incluindo uma redução à sua tarifa de 40 por cento sobre automóveis, disse Kudlow.
"Esperamos que essas tarifas caiam a zero", disse ele a repórteres.
Norte-americanos ganharão um controle majoritário em companhias na China pela primeira vez, o que deve ajudar a endereçar grandes preocupações dos EUA sobre roubo de propriedade intelectual e transferências forçadas de tecnologia.
Nenhum dos compromissos foram acordados por escrito e os detalhes ainda serão acertados.
Mnuchin disse que houve uma mudança de tom em Buenos Aires na comparação com discussões anteriores, com Xi oferecendo um claro compromisso a abrir o mercado chinês a companhias dos EUA.
"Essa é a primeira vez em que temos um compromisso deles de que esse será um acordo real", disse Mnuchin à CNBC.
Kudlow, diretor do Conselho Econômico Nacional, disse que ele, Mnuchin e o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, tiveram duas reuniões particulares com o vice-primeiro-ministro da China, Liu He, na Argentina e que ele disse a eles que Pequim iria agir imediatamente sob os novos compromissos.
"O histórico aqui com promessas chinesas não é muito bom. E sabemos disso", disse Kudlow. "No entanto, eu vou dizer isso: o presidente Xi nunca esteve tão envolvido como agora."
Kudlow disse: "Eles não podem desacelerar isso, interromper isso, vaguear isso. Palavra deles: 'imediatamente'."
A trégua impulsionou mercados globais nesta segunda-feira, com ações mundiais subindo aos maiores níveis em cerca de três semanas. Em Wall Street, o S&P 500 <.SPX> avançou quase 1 por cento, embora o índice tenha recuado de suas máximas de sessão alcançadas mais cedo.
Kudlow disse que autoridades dos EUA monitorarão de perto o progresso chinês no cumprimento das promessas.
Trump nomeou Lighthizer, um dos críticos mais vocais da China dentro do governo, para supervisionar a nova rodada de negociações comerciais com a China, disseram autoridades.
A nomeação de Lighthizer, que acaba de selar um novo acordo com o Canadá e o México, pode significar uma linha mais dura nas negociações com Pequim e representa uma mudança em relação às conversas anteriores, nas quais Mnuchin tinha um papel central.
"Ele é o negociador mais duro que tivemos no cargo dele e ele irá preparado e retirar as tarifas, as barreiras não-tarifárias e encerrará todas essas práticas estruturais que impedem acesso ao mercado", disse o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, à National Public Radio mais cedo nesta segunda-feira.
Kudlow disse que ele e Mnuchin estarão fortemente envolvidos também, com o secretário do Tesouro lidando com questões financeiras e cambiais.
A Casa Branca está intensificando esforços para levar outros países a produzirem mais veículos nos Estados Unidos. Lighthizer e outras autoridades, incluindo Kudlow, devem se encontrar com montadoras alemãs na terça-feira, incluindo os executivos principais da Volkswagen e Daimler , afirmaram pessoas com conhecimento do tema.
Kudlow disse que a reunião não tem o objetivo de focar em possíveis tarifas comerciais sobre automóveis, embora Trump ainda mantenha essa opinião, e as montadoras serão encorajadas a construir motores nos EUA.
Reguladores chineses não responderam a pedidos de comentário sobre o tuíte de Trump relacionado a tarifas sobre automóveis. Nenhum dos dois países tinha mencionado tarifas sobre carros em seus comunicados da reunião Trump-Xi.
No domingo, Trump tuitou que a China havia concordado em cortar tributos de importação sobre carros de fabricação norte-americana.
Setor de soja do Brasil se prepara para possível fim de guerra comercial EUA-China
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores brasileiros de soja antecipam uma queda nos preços se a China suspender tarifas sobre a soja norte-americana em março, quando novos termos de comércio entre as duas maiores economias do mundo podem ser divulgados, e as nações sul-americanas estarão colhendo suas safras.
Se a tarifa de 25 por cento da China sobre a soja dos EUA fosse retirada em março, o produto norte-americano poderia inundar o mercado, assim como os grãos do Brasil e da Argentina, disse o diretor-executivo da associação de produtores Aprosoja-MT, Wellington Andrade.
No caso de a tarifa ser suspensa em março, a decisão poderia coincidir com o período em que a colheita do Brasil estará avançada.
"Se (as tarifas forem eliminadas) a partir de março, você pega bem no final da colheita da soja. No momento você está escoando grãos. Como faz para vender a soja? O mercado interno não absorve toda ela", afirmou Andrade.
Washington e Pequim selaram uma trégua de 90 dias em relação à imposição de novas tarifas na reunião de sábado do G20, impulsionando os contratos futuros de soja nos EUA ao maior nível desde agosto.
O presidente da China, Xi Jinping, também prometeu comprar mais produtos agrícolas de produtores dos EUA.
Mesmo que os futuros tenham subido em Chicago, os prêmios no porto de Paranaguá caíram 0,10 de dólar por bushel e a moeda brasileira caiu, tornando os preços da soja em reais menos atraentes para os agricultores, disse o presidente-executivo da AgriBrasil, Frederico Humberg.
À medida que os preços do Brasil se aproximam dos preços americanos, ele disse que mesmo que a China elimine as tarifas, as exportações do rival brasileiro para a China tenderão a ser limitadas no curto prazo, já que o Brasil está perto de iniciar a colheita, na segunda metade de dezembro.
A guerra comercial pode ter criado oportunidades de curto prazo, mas é ruim no longo prazo, destacou o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.
"Se a China abre todas a comportas para a soja americana, é claro que não poderemos exportar nos níveis recordes deste ano", disse Mendes.
As exportações de soja do Brasil devem fechar 2018 em um recorde de cerca de 82,5 milhões de toneladas, ante aproximadamente 68 milhões no ano passado, projetou nesta segunda-feira a Anec, destacando o apetite chinês como importante fator por trás desse salto.
No acumulado dos 11 primeiros meses do ano, as vendas ao exterior alcançaram 80,1 milhões de toneladas, alta de 22,6 por cento ante igual intervalo de 2017. Do total, 82 por cento foi para a China.
Mendes acredita que, sejam quais forem os termos de um possível acordo, os preços da soja podem cair de qualquer maneira em março, porque a grande safra do Brasil já estará disponível.
"Para a China, o Brasil sempre será fornecedor muito difícil de ser substituído."
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