Segundo especialistas, seca na Argentina terá sete efeitos econômicos diretos

Publicado em 01/03/2018 09:45

A metáfora do cisne negro foi desenvolvida por Nassim Nicholas Taleb para se referir a fenômenos difíceis de prever. São eventos estranhos, que estão fora do âmbito das expectativas e que, assim, produzem um grande impacto. A atual seca que a Argentina vem sofrendo nos últimos quatro meses, a pior dos últimos 44 anos, se trata de uma espécie de cisne negro para o Governo de Maurício Macri.

Um recente estudo da Consultoria de Climatologia Aplicada (CCA) mostra que, nos últimos quatro meses, foram registrados entre 100 a 400mm a menos em relação ao normal para a média de chuvas desde 1973. "Neste período, chave para o plantio e o desenvolvimento do milho e da soja, as chuva estão entre os 450mm e os 550mm e estamos diante de um problema grave e uma anomalia muito generalizada", sinaliza o estudo.

O concreto, segundo analistas econômicos consultados pelo Infobae, é que a seca produziu perdas irrecuperáveis nos cultivos de verão, como é o caso da soja e do milho.

Segundo os especialistas consultados, a falta de chuvas gera os seguintes efeitos:


1 - Impacto direto sobre os custos de produção, já que será mais caro produzir lácteos, carnes e frango, pois o milho é um dos principais insumos deste tipo de produção. Estes maiores custos de produção também devem refletir nos preços internos, provocando um aumento da inflação estimada pelo Governo e pelas principais consultorias econômicas.

2 - Uma grande parte das consultorias argentinas calculam que o custo para a Argentina representará de 0,5% a 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Por este motivo, muitas delas já começaram a reduzir suas expectativas de crescimento para este ano. O economista Fausto Spotorno, da Ferreres & Associados, disse para o Infobae que o efeito será de 0,5%, incluindo as atividades vinculadas. "É o pior cenário e restará apenas o crescimento nas exportações, mas haverá uma compensação pela alta do preço internacional da soja", sinalizou. Um estudo da consultoria LCG já considera que o efeito será "marginal", de 0,2%. As estimativas de crescimento do PIB para essa consultoria estão em 2%, enquanto o Governo argentino projeta 3,5%.

3 - Uma redução da produção de soja significa também uma menor oferta para abastecer a indústria de óleos. "Neste caso, o principal produto afetado, é, sem dúvidas, o farelo de soja, com um rendimento de 79% na extração se consideramos 12 milhões de toneladas a menos de grão de soja, o volume de farelo de soja resultante é de 9,5 milhões de toneladas", explicou o especialista Pablo Adreani.

4 - Esta menor produção também irá resultar em uma queda das exportações de soja em grão, já que a redução estimada de farelo afetará o saldo exportável deste produto.

5 - Segundo os cálculos de Adreani, a redução da produção de soja e de milho equivale a reduzir a carga de transporte em mais de 500.000 caminhões, o que poderia provocar uma perda superior aos US$700 para o setor.

6 - A queda na produção estimada de soja e milho também irá resultar em uma queda no consumo de diesel - 50 milhões de litros a menos, ou US$65 milhões.

7 - Os pecuaristas de corte e de leite também serão afetados, já que estes terão de competir para se abastecer de farelo de soja com os exportadores. Os cálculos dos especialistas mostram que são consumidas 4,5 a 5 milhões de toneladas de farelo de soja no mercado interno. Além disso, esse fator pode levar a um aumento de US$1 bilhão para o custo de produção de carnes e lácteos, implicando no aumento do preço desses produtos no mercado interno. O ministro da Agroindústria do país, Luis Miguel Etchevere, manifestou que "é antecipado fazer uma avaliação sobre o impacto econômico da seca, que afeta fundamentalmente a soja e o milho da safra 2017/18, mas que as perdas são importantes".


Tradução: Izadora Pimenta

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Fonte:
Infobae

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