Soja: Preços estáveis no Brasil e em Chicago travam vendas da semana no mercado interno
O mercado da soja registrou um cenário de estabilidade nesta última semana, tanto na Bolsa de Chicago quanto no Brasil. A movimentação dos preços em ambos os quadros foi bastante limitada, refletindo, entre outros fatores, a postura do produtor brasileiro nesse momento: de cautela.
Segundo levantamento do consultor de mercado Flávio França Jr., da França Junior Consultoria, até o final de março, a comercialização da safra brasileira estava em 53% da safra e, nessas últimas duas semanas, pouco evoluiu. Na média dos últimos cinco anos, as vendas já estavam em 56%.
"O principal motivo foi, sem dúvida, o preço. Os valores perderam de R$ 4,00 a R$ 5,00 (nos portos e no interior do país) e isso mexe com a estrutura. Temos um recuo expressivo das vendas em relação ao observado no final de março", relatou França.
No porto de Rio Grande, a semana fechou com o preço da soja disponível subindo ligeiros 0,74% para R$ 68,50 por saca, contra os R$ 68,00 na última segunda-feira (13). Já para o valor em Paranaguá e também no terminal gaúcho, em ambos os casos com referência para o produto com entrega em maio/15, houve uma manutenção em R$ 67,00 e R$ 69,00, respectivamente. Em Santos, alta de 0,73% no acumulado semanal, para fechamento em R$ 9,00 por saca.
No interior do país, os preços também se mostraram mais pressionados, porém, ainda remuneradores em diversas praças de comercialização, segundo explicou Carlos Cogo, consultor de mercado Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. "As ofertas de preços que no Sul do país chegaram a R$ 67 / R$ 68 já estão longe disso, do Paraná ao Rio Grande do Sul", diz.
O momento, entretanto, é de estabilidade para as cotações nesse momento, de acordo com ambos os consultores. Cogo afirma que a junção de fatores como a pouca oscilação do mercado na Bolsa de Chicago e o dólar em baixa resultam em valores mais pressionados no país e, dessa forma, em menos negócios sendo efetivados.
"Os produtores não querem vender, estão retraídos e a palavra é insegurança", afirma o consultor. Além da já conhecida instabilidade das cenas política e econômica do Brasil, o agricultor está ainda na expectativa da divulgação para o novo Plano Safra - principalmente sobre as novas taxas de juros - e da atual falta de recursos para o custeio. Hoje, já se relata uma baixa de 15% nas vendas de defensivos e 8% nas de fertilizantes diante dessa falta de crédito, cenário que há muito não se via no país, ainda segundo Carlos Cogo.
Ao mesmo, a demanda internacional ainda se mostra muito forte. Há procura pela soja brasileira, pela argentina e norte-americana, mas as vendas não são efetivadas. Reflexo disso são os prêmios em alta nos portos brasileiros, o que surpreende em um ano de safra recorde e em época de conclusão da colheita. Nessa semana, os valores em Paranaguá, por exemplo, registraram alta de 17,78% para a posição abril, que passou de 45 para 53 cents de dólar, enquanto o ganho para maio foi de 18,18%, de 44 para 52 centavos sobre os valores praticados em Chicago.
Com esse quadro, ainda de acordo com Carlos Cogo, essa postura do produtor brasileiro acaba sendo bastante coerente no momento, já que, ao menos por hora, as mudanças devem continuar sendo limitadas para os preços no Brasil. E isso pode ser justificado também pela perspectiva de pouca movimentação também no mercado do dólar. Na semana, a moeda norte-americana fechou com queda de mais de 2,5% - caindo de R$ 3,12 para R$ 3,04 - e isso é mais um fator de pressão das cotações ou, ao menos, limitação do avanço.
"As pequenas altas que foram registradas nessa semana não compensaram a movimentação do câmbio. O dólar perdeu R$ 3,10 / R$ 3,05 e pode cair mais, perder a barreira dos R$ 3,00. Os fundamentos de alta para o dólar, nesse momento, já se esgotaram", explica Cogo.
Na Bolsa de Chicago
A semana também foi bem pouco movimentada para as cotações da soja praticadas na Bolsa de Chicago. O contrato maio/15 acumulou uma alta de 2,11% passando de US$ 9,48 para US$ 9,68; enquanto o agosto/15 subiu 1,68% de US$ 9,52 para também US$ 9,68 por bushel.
O foco do mercado internacional nesse momento é o clima nos Estados Unidos e o desenvolvimento da nova safra de grãos do país. O plantio da soja deve começar em poucos dias e, nesse momento, as perspectivas do cenário climático se mostraram bastante favoráveis.
No entanto, ainda há bastante indefinição sobre os resultados da nova safra, já que ainda é muito cedo. Fato é que, por enquanto, o mercado ainda não tem nenhum fato novo para motivar as cotações, explica Carlos Cogo. "O mercado não está caindo, apesar disso, e essa é uma notícia positiva. Os preços seguem variando entre US$ 9,50 e US$ 9,70. Mas ainda não dá para contar com um evento climático que possa mudar o quadro".
E o comportamento do clima poderia também, segundo explicam analistas internacionais, impactar no futuro da área de plantio dessa nova safra. "Se a área de plantio não aumentar nesta primavera em relação às primeiras projeções divulgadas pelo USDA, os estoques de soja poderiam alcançar um volume entre 9,25 milhões e 11,97 milhões de toneladas (340 milhões e 440 milhões de bushels). Essa é a diferença entre um mercado de US$ 10 e um mercado de US$ 9 por bushel que está sendo debatido pelos traders agora", acredita Bryce Knorr, analista de mercado do site internacional Farm Futures.
Veja como fecharam as cotações nesta sexta-feira:
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