Melhora estrutural deve manter dólar em queda, dizem economistas
O dólar deve suavizar a queda frente ao real em 2010, influenciado pelo mercado externo, mas pode caminhar a níveis muito mais baixos com a melhora dos fundamentos da economia brasileira no longo prazo, disseram economistas nesta terça-feira.
"Taxas de câmbio e juros impensáveis hoje vão se manifestar no futuro", disse Gustavo Franco, sócio da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central em seminário sobre câmbio em São Paulo.
Segundo Franco, o comportamento do dólar responde no longo prazo a uma melhora estrutural da economia. O grau de investimento concedido nos últimos anos pelas principais agências de classificação de risco chancela as reformas realizadas pelo Brasil, que deve ver uma depreciação ainda maior do dólar caso a avaliação fique mais positiva no futuro.
"É impossível imaginar que, ao deixar de ser o país campeão mundial de juros, a moeda brasileira não vá se fortalecer", disse Franco a jornalistas após o evento. Em 2009, o dólar acumula queda de cerca de 25%, e tem sido cotado por volta de R$ 1,75.
Para o próximo ano, no entanto, a avaliação é a de que o dólar não deve fugir do atual patamar. Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, projeta R$ 1,75 para o fim do próximo ano, considerando a volatilidade que a retirada do estímulo monetário deve provocar nas principais economias e também uma piora do deficit em transações correntes.
Ela também destacou que a recente apreciação do real não foi um fenômeno exótico, relacionando a moeda brasileira a uma série de divisas de perfil semelhante --de países exportadores de commodities e com câmbio flutuante: Chile, África do Sul, Noruega, Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
Papel do governo
Outros economistas concordaram com Gustavo Franco de que a percepção de risco sobre o país é um dos principais fatores domésticos sobre a formação da taxa de câmbio.
Gustavo Loyola, sócio da Tendências e também ex-presidente do BC, chegou a dizer em tom de brincadeira que uma saída para o governo desvalorizar o real e incentivar a indústria seria piorar os fundamentos econômicos.
Os palestrantes, porém, discordaram sobre a conveniência de instrumentos de controle cambial. Franco disse que não se pode dizer que a alíquota de 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre a entrada de capital em ações e renda fixa não tenha surtido efeito, porque é impossível definir um cenário para a hipótese de o imposto não ter sido instituído em outubro.
O professor da PUC-Rio Marcio Garcia, no entanto, avalia que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não tem "base nenhuma" para defender o imposto, que também foi criticado por Ilan Goldfajn, economista do Itaú.
Segundo ele, a poupança externa será chave para sustentar o crescimento ao longo dos próximos anos, financiando o deficit cada vez maior nas contas correntes.
Os economistas também divergiram sobre o acúmulo de reservas pelo BC. Para Garcia, da PUC-Rio, as compras têm aumentado o peso de operações compromissadas de curtíssimo prazo sobre a dívida pública.
A operação realizada após a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) enxugou mais de R$ 300 bilhões do mercado, a maior parte usada pelo BC para comprar dólares.
Franco, no entanto, defendeu o "seguro anti-crise" que as reservas representam. Já Nathan Blanche, sócio da Tendências, apontou o custo das atuais intervenções no mercado à vista e defendeu a volta dos swaps cambiais reversos. "O que o Brasil faz com as reservas (de quase US$ 240 bilhões) é encher um copo d'água que já está cheio", disse. (Reuters)
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