Dólar barato tem seu lado positivo
A valorização do real frente ao dólar, que já chegou a 100,64%, desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a 32,7% somente este ano, de acordo com levantamento da consultoria Economática, não traz apenas prejuízos para o Brasil. O fortalecimento da moeda nacional também favorece os brasileiros porque contribui para o controle da inflação, permitindo que muitos produtos cheguem mais ao consumidor, reduz o valor da tarifa de energia em distribuidoras como a Cemig, que são obrigadas a comprar energia de Itaipu – cotada, obrigatoriamente, em dólar –, aumenta a renda real dos trabalhadores, permite à indústria a importação de bens de capital a preços mais em conta, e também valoriza o salário de altos executivos, contribuindo para reter talentos no Brasil.
De acordo com André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o dólar baixo contribui para o controle inflacionário porque torna algumas commodities importadas pelo Brasil mais baratas, como é o caso do trigo e dos derivados da soja. “Esses produtos têm os seus preços cotados internacionalmente e a moeda valorizada garante a compra da quantidade habitual com um gasto menor”, explica. O país só produz 30% do trigo que consome.
A expectativa é de que neste fim de ano, por exemplo, produtos que compõem a ceia de Natal, como nozes, castanhas, bacalhau, azeite e vinho, estejam mais baratos que no ano passado. “Todo mundo que importou gastou menos este ano. Os preços só não vão cair no mesmo patamar da desvalorização da moeda americana porque, à medida que os consumidores se sentem mais seguros, compram mais. Com o aumento da demanda, o comércio fica pouco estimulado a baixar os preços”, afirma Braz.
“Outra vantagem do câmbio valorizado é o aumento da renda real do trabalhador, que tem o seu consumo potencializado e acesso a bens de melhor qualidade a preços mais baixos”, afirma André Perfeito, economista da Gradual Investimento. O advogado Farley Augusto Ferreira de Araújo, vive em Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado. Ele acaba de comprar um Honda CRC por R$ 100 mil e acredita que, se tivesse feito o negócio num momento em que o dólar estivesse mais valorizado frente ao real, pagaria cerca de 20% a mais pelo carro japonês.
Outro ponto a favor é a chance que a indústria brasileira tem de importar bens de capital, como máquinas e equipamentos de alta tecnologia, que podem ajudar a modernizar a produção no país, a preços mais acessíveis. Na opinião de André Perfeito, a indústria brasileira deveria aproveitar a oportunidade para “ganhar musculatura”.
Sérgio Nogueira trabalha como headhunter – ou caçador de talentos – há 22 anos. Segundo ele, a valorização do real ajudou a aquecer novamente o mercado de trabalho, principalmente no que diz respeito às vagas para nível de gestão das empresas multinacionais. “Isso permite ao Brasil segurar os seus talentos. Com o dólar entre R$ 1,90 e R$ 2,40 sair do Brasil é muito tentador para esses profissionais”, diz. Há quatro meses, porém, Nogueira não faz nenhuma contratação em moeda americana. “Há cinco ou seis meses, quando aparecia uma posição em dólar, ela era preenchida em 15 dias”, informa. (Zulmira Furbino/Estado de Minas)
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