Após pressão trazida por Trump, dólar cai abaixo de R$5,70 no Brasil com fiscal no foco
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após superar os 5,86 reais no início da sessão, na esteira da vitória de Donald Trump na disputa presidencial dos Estados Unidos, o dólar à vista perdeu força no Brasil e fechou a quarta-feira em queda firme, abaixo de 5,70 reais, com investidores à espera de medidas efetivas do governo Lula para conter gastos.
A disparada de ordens de “stop loss” (parada de perdas) no mercado durante o dia também favoreceu a queda do dólar ante o real, ainda que no exterior a moeda norte-americana sustentasse fortes altas ante as demais divisas.
O dólar à vista fechou o dia em baixa de 1,21%, cotado a 5,6774 reais. No ano, porém, a divisa acumula alta de 17,02%.
Às 17h33, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,47%, a 5,6820 reais na venda.
O início do dia foi de forte pressão para o dólar e as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil, em sintonia com a disparada da moeda norte-americana e dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
O movimento ocorria em meio à percepção de que várias políticas de Trump serão inflacionárias e, ao mesmo tempo, favoráveis à moeda norte-americana, entre elas a alta de tarifas de importação, o bloqueio a imigrantes e a redução de impostos.
Assim, o dólar à vista atingiu o pico de 5,8611 reais (+1,98%) às 9h08, logo após a abertura.
No entanto, a moeda norte-americana foi perdendo fôlego ante o real ainda durante a manhã, em meio à leitura de que, com Trump na Casa Branca, restará ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar medidas concretas de contenção de gastos para aliviar a pressão.
Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília contribuíram para a perda de força do dólar. Segundo ele, a rodada de reuniões entre ministros para tratar das medidas fiscais está concluída e o próximo passo de Lula provavelmente será pedir conversas com os presidentes das duas Casas do Congresso, para que se discuta o envio das medidas fiscais aos parlamentares.
“Os ministros todos estão muito conscientes da tarefa que temos pela frente de reforço do arcabouço fiscal, da previsibilidade e da sustentabilidade das finanças no médio e longo prazo. Penso que há um consenso em torno do princípio”, afirmou Haddad.
No mercado de câmbio, alguns agentes também aproveitaram as cotações mais elevadas pela manhã para vender divisas, o que contribuiu para as cotações cederem. No início da tarde o dólar já oscilava em baixa ante o real, na contramão do avanço forte da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes.
Segundo um operador ouvido pela Reuters, houve ainda disparada de ordens de stop de investidores comprados (posicionados na alta da moeda norte-americana) quando o dólar para dezembro tocou níveis abaixo dos 5,740 reais, amplificando a queda também no segmento à vista.
Neste cenário, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,6649 reais (-1,43%) às 15h18, para depois encerrar pouco acima disso. Da máxima para a mínima a moeda norte-americana oscilou 20 centavos de real, em um sinal de forte volatilidade no dia.
As atenções agora se voltam para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre juros, na noite desta quarta-feira. A expectativa majoritária do mercado é de alta de 50 pontos-base da Selic, para 11,25% ao ano, mas investidores estarão atentos ao comunicado da decisão.
A quinta-feira ainda promete ser um dia de volatilidade alta no câmbio, com os desdobramentos da eleição norte-americana, a decisão do Copom e o anúncio do Federal Reserve sobre juros fazendo preço. O Fed decide nesta quinta-feira sua nova taxa de juros.
Às 17h31, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 1,65%, a 105,070.
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