Trump pode endurecer posição sobre petróleo com Irã, mas aumentar irritação da China, dizem analistas
Por Timothy Gardner
WASHINGTON (Reuters) - O retorno do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca pode significar uma aplicação mais rígida de sanções norte-americanas contra o Irã relacionadas ao petróleo, o que pode reduzir os suprimentos globais, mas também acarretar riscos geopolíticos, incluindo a ira de seu principal cliente, a China, de acordo com analistas.
A repressão ao Irã, membro da Opep, daria suporte aos preços globais do petróleo, mas o efeito também poderia ser compensado por outras políticas de Trump, como medidas para expandir a perfuração doméstica, a imposição de tarifas sobre a China, que poderia deprimir a atividade econômica, ou uma flexibilização das relações com a Rússia, o que poderia liberar suas remessas de petróleo sob sanções.
"Trump é uma faca de dois gumes em relação aos preços do petróleo", disse Clay Seigle, membro do conselho do Comitê de Relações Exteriores de Houston e presidente de seu Comitê de Finanças.
As exportações de petróleo bruto do Irã atingiram o nível mais alto em anos em 2024 porque o país encontrou maneiras de contornar as sanções punitivas que visam sua receita. Trump reimpôs as sanções durante seu primeiro mandato como presidente após retirar unilateralmente os EUA de um acordo nuclear ocidental com Teerã em 2018.
O republicano Trump disse durante sua campanha que a política do presidente norte-americano, Joe Biden, de não aplicar rigorosamente as sanções à exportação de petróleo enfraqueceu Washington e encorajou Teerã, permitindo que ele vendesse petróleo, acumulasse dinheiro vivo e expandisse suas atividades nucleares e influência por meio de milícias armadas.
Jesse Jones, diretor de upstream da América do Norte na Energy Aspects, disse que o retorno do governo Trump a uma campanha de pressão máxima sobre o Irã poderia levar a uma redução de um milhão de barris por dia (bpd) das exportações iranianas de petróleo bruto.
"Isso poderia ser feito com relativa rapidez sem legislação adicional, apenas aplicando as sanções que já estão em vigor", disse.
O grupo de pesquisas ClearView Energy Partners estimou que cerca de 500.000 bpd a 900.000 bpd poderiam ser retirados do mercado.
"A PERGUNTA DE UM MILHÃO DE DÓLARES"
No entanto, uma postura mais rígida em relação ao Irã também significa reprimir a China, que não reconhece as sanções dos EUA e é o maior cliente de petróleo da República Islâmica.
"A pergunta de um milhão de dólares é quanta pressão financeira significativa você está disposto a exercer sobre as instituições financeiras chinesas", disse Richard Nephew, professor da Universidade de Columbia e ex-enviado especial adjunto dos EUA para o Irã.
Nephew disse que a China poderia retaliar fortalecendo o trabalho no grupo Brics de economias emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros, inclusive reduzindo a dependência do dólar em negócios com petróleo e outros produtos.
Trump falou no Clube Econômico de Nova York em setembro sobre os riscos que as sanções podem trazer para o domínio do dólar.
"Eu usava sanções, mas eu as aplicava e as retirava o mais rápido possível, porque, em última análise, elas acabam com o dólar e com tudo o que o dólar representa", disse Trump na ocasião.
(Reportagem de Timothy Gardner em Washington, Georgina McCartney em Houston, Liz Hampton em Denver)
0 comentário
Dólar tem leve alta na abertura em meio à escalada de tensões entre Ucrânia e Rússia
China anuncia medidas para impulsionar comércio em meio a preocupações com tarifas de Trump
Expectativa é de que redação do pacote fiscal seja finalizada nesta semana, diz Rui Costa
Presidente do Fed de Richmond diz que EUA estão mais vulneráveis a choques de inflação, informa FT
Minério de ferro sobe enquanto traders avaliam demanda ante estoques portuários elevados
Conselheiros da China pedem meta de crescimento de 5% para 2025 e estímulo mais forte