Taxas dos DIs despencam com notícia de que governo prepara pacote para conter gastos
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em queda firme no Brasil, superior a 20 pontos-base em alguns vencimentos, com investidores realizando parte dos lucros recentes após reportagem da Reuters informar que o governo se prepara para apresentar medidas de contenção de gastos após as eleições municipais.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,132%, ante 11,146% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,545%, ante o ajuste de 12,656%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,655%, ante 12,85%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,58%, ante 12,783%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,51%, ante 12,695%.
Nas três sessões anteriores as taxas dos DIs haviam registrado ganhos fortes em meio a preocupações com a capacidade do governo Lula de equilibrar as contas públicas. Algumas taxas chegaram a tocar os 12,90% na sexta-feira, o que deixava espaço para uma realização de lucros caso surgissem gatilhos para isso nesta segunda-feira.
Durante a manhã as taxas dos DIs já cediam na esteira de comentários do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que reforçou o compromisso da autarquia com a meta de inflação de 3%.
Em sua primeira fala pública após ter tido sua indicação para assumir a presidência do BC em 2025 aprovada pelo Senado, Galípolo também reiterou que a desancoragem das expectativas de inflação segue preocupando.
"A taxa de juros básica aqui está se movendo basicamente observando o que está acontecendo do ponto de vista da atividade e olhando para as projeções da inflação dentro do horizonte relevante", disse, em evento promovido pelo Itaú BBA.
Mas o principal gatilho para a queda das taxas dos DIs surgiu no início da tarde, em matéria da Reuters informando que o governo prepara medidas de contenção de gastos obrigatórios, a serem apresentadas após a realização do segundo turno das eleições municipais, no fim deste mês.
Segundo duas autoridades do Ministério da Fazenda, o tema é tratado com mais prioridade dentro da pasta do que o aumento da isenção do Imposto de Renda (IR) para os trabalhadores que ganham até 5.000 reais mensais.
Um primeiro pacote buscará tratar pontualmente de gastos específicos, iniciativa que deve ser acompanhada de um segundo eixo com propostas mais estruturais e “mais duras”.
“As taxas já estavam cedendo um pouco, mas o movimento ganhou tração com a matéria, com o real indo bem também”, comentou durante a tarde o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
A taxa do DI para janeiro de 2031 -- um dos mais líquidos -- atingiu a mínima de 12,58% às 15h56 e oscilou perto deste nível até o fechamento, em baixa de 20 pontos-base ante o ajuste da sexta-feira, com investidores eliminando prêmios da curva na esteira da notícia sobre o pacote de cortes.
A redução de prêmios foi maior na ponta longa da curva, justamente o trecho mais afetado pelo risco fiscal. Na ponta curta, porém, também houve redução de prêmios, o que se refletiu em apostas um pouco menores de que o Banco Central poderá subir a taxa básica Selic em 75 pontos-base em novembro.
Perto do fechamento desta segunda-feira a curva precificava 98% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em novembro, contra apenas 2% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na sexta-feira os percentuais eram de 91% e 9%, respectivamente. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
Pela manhã, também no evento do Itaú BBA, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo ainda está na etapa de análise para elaboração do projeto de reforma do Imposto de Renda, com estudos que incluem avaliação sobre a eficácia das deduções atuais, além da análise de modelos internacionais de tributação de dividendos.
Haddad pontuou ainda que o governo pode rever mais uma vez a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto em 2024. Em setembro o governo elevou sua projeção de alta para o PIB de 2,5% para 3,2%.
Também pela manhã, o Banco Central informou que o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado um sinalizador do PIB, avançou 0,2% em agosto sobre o mês anterior, em dado dessazonalizado. A leitura foi um pouco melhor do que a expectativa de estabilidade em pesquisa da Reuters, marcando uma retomada ante a queda de 0,6% de julho, em dado revisado.
O recuo forte das taxas dos DIs nesta segunda-feira contrastava com o movimento dos rendimentos dos Treasuries no exterior, que oscilavam próximos da estabilidade. Às 16h39, o rendimento do Treasuries de 10 anos estava em alta, a 4,0963%, ante 4,073% no pregão anterior.
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