Taxas futuras de juros no Brasil sobem com dados fortes do mercado de trabalho dos EUA
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira com forte alta no Brasil, superior a 10 pontos-base em alguns vencimentos, após dados fortes do mercado de trabalho norte-americano terem impulsionado os rendimentos dos Treasuries, em meio à percepção de que o Federal Reserve pode adiar o início do ciclo de corte de juros.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,005%, ante 9,953% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,055%, ante 9,945% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,375%, ante 10,26%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,705%, ante 10,6%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,2%, ante 11,122%.
No início da sessão, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) apresentavam leves altas, com investidores aguardando a divulgação do relatório de empregos payroll nos EUA.
Às 9h30, o payroll do Departamento do Trabalho indicou que a economia norte-americana abriu 303.000 vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês passado -- bem acima da projeção mediana de 200.000 novas vagas, conforme pesquisa da Reuters. As estimativas dos economistas variavam de 150.000 a 250.000 vagas, o que demonstra o quanto o resultado oficial surpreendeu.
Com os números das telas, os yields dos Treasuries começaram a subir de forma consistente nos EUA, enquanto as taxas dos DIs iniciaram uma escalada que durou até a metade da tarde. Às 14h52, a taxa do contrato para janeiro de 2027 estava no pico de 10,445%, alta de cerca de 19 pontos-base ante o ajuste anterior.
“Foi tudo por conta do payroll. As taxas estão subindo em todos os vencimentos, muito próximo do que ocorre em Nova York, porque os dados vieram bem acima do esperado”, comentou durante a tarde Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Por trás do movimento estava a percepção de que, com o mercado de trabalho aquecido, o Fed tende a adiar o corte de juros para junho ou depois disso, o que limitaria o espaço para que o Banco Central do Brasil siga cortando a taxa básica Selic em 50 pontos-base a cada reunião.
“Talvez tenha espaço para mais um corte de 50 pontos-base (em maio), mas depois viriam 25 pontos-base”, pontuou Lourenço.
Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, será preciso esperar pelos próximos dados de inflação nos EUA, em especial o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de março, previsto para 10 de abril, para avaliar o cenário norte-americano.
“Por ora, o entendimento dos mercados é que o Federal Reserve vai poder/querer esperar mais tempo antes de começar a cortar juros”, afirmou Olivares em comentário enviado a clientes.
Nas últimas horas antes do fechamento no Brasil, as taxas desaceleraram os ganhos, ainda que os Treasuries se mantivessem firmes.
Perto do fechamento a curva a termo brasileira precificava 86% de chances de o corte da taxa básica Selic em maio ser de 50 pontos-base, como vem sinalizando o Banco Central. As apostas em corte de apenas 25 pontos-base estão em 14%. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
Às 16h34, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 8 pontos-base, a 4,39%.
Pela manhã, sem efeitos maiores na curva de juros, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que não tem nenhum candidato para sua sucessão no comando da autoridade monetária, argumentando que essa escolha é uma prerrogativa do governo.
Em seminário sobre inovação promovido pela organização de executivos Lide, em São Paulo, o presidente do BC ainda classificou como “fake news” informações de que ele estaria avaliando abrir uma fintech nos Estados Unidos após o término de seu mandato no fim deste ano.
"Alguém falou que eu tinha um candidato para me suceder. Também é fake news, eu não tenho nenhum candidato. Eu não deveria opinar sobre nenhum tipo de candidato, isso é prerrogativa do governo, está na lei, e eu vou fazer a transição suave independente do candidato que for escolhido”, disse Campos Neto.
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