Ibovespa fecha em queda com Bolsonaro criando barulho em mercado já tenso
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, renovando mínimas da sessão na parte da tarde, após a coligação do presidente Jair Bolsonaro entrar com representação no TSE pedindo uma "verificação extraordinária" do resultado da eleição deste ano.
A notícia adicionou mais barulho a um mercado já tenso com as perspectivas fiscais do país para o próximo ano e a ausência de definições sobre a equipe ministerial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes disso, o Ibovespa vinha pressionado particularmente pela queda das ações da Petrobras em meio a crescentes receios sobre a estratégia da petrolífera de controle estatal a partir do próximo ano.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,65%, a 109.036,54 pontos. Na mínima, chegou a 107.867,47 pontos, distante da máxima, quando subiu a 110.223,73 pontos. O volume financeiro somou 28 bilhões de reais.
A coligação de Bolsonaro ingressou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo uma verificação extraordinária do segundo turno da eleição de outubro, com base em relatório que aponta suposto mau funcionamento das urnas eletrônicas.
De acordo com a representação, obtida pela Reuters, uma auditoria solicitada pelo PL, partido de Bolsonaro, teria encontrado "evidências contundentes do mau funcionamento de urnas eletrônicas".
Na visão de Ricardo Campos, diretor de Investimentos da Reach Capital, não é uma boa notícia e abre espaço para "novas confusões" por parte daqueles que não aceitam a vitória de Lula no final de outubro. Ele ponderou, contudo, que ainda é preciso aguardar qual será a decisão do TSE.
Pouco depois do anúncio sobre a representação, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou que o PL apresente em 24 horas uma auditoria referente aos dois turnos da eleição, não apenas do segundo, sob pena de indeferimento da ação apresentada.
Para Campos, apesar do ruído, o Ibovespa continua praticamente no mesmo patamar de três, quatro dias atrás.
"Não há novidades, não se sabe exatamente como será o novo governo... E até que ocorram definições, principalmente da nova equipe ministerial, a bolsa deve continuar sofrendo", avaliou.
Além disso, acrescentou, no caso da PEC da Transição, "mesmo com a percepção de que o Congresso deve segurar um pouco a onda na gastança, o cenário ainda não é bom no que diz respeito às perspectivas para as contas públicas".
Parte do suporte da bolsa paulista continua sendo atribuída a investidores estrangeiros, com o saldo positivo acumulado no mês ainda positivo até o dia 18, enquanto o CDI alto mina a atratividade das ações.
Os imbróglios locais voltaram a descolar o Ibovespa de Wall Street, onde o S&P 500 fechou em alta de mais de 1%, com perspectivas de vendas da Best Buy atenuando preocupações sobre o efeito da inflação na temporada de compras de fim de ano.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN caiu 0,81%, a 23,33 reais, a despeito da alta dos preços do petróleo no exterior, já que segue pressionada por preocupações sobre o rumo da empresa a partir de 2023. O UBS cortou a recomendação das ações de "compra" para "venda" e reduziu o preço-alvo para 22 reais, avaliando que a estratégia da empresa, principalmente em preços e alocação de capital, vai se deteriorar. Um cenário para a estatal pode ficar um pouco mais claro no começo do próximo mês, quando Lula deve decidir o novo presidente da Petrobras. Por ora, a equipe de transição pediu ao atual ministro de Minas e Energia que processos de venda de ativos da empresa sejam suspensos até a escolha do novo titular do ministério pelo governo eleito.
- PRIO ON valorizou-se 2,84%, a 35,47 reais, beneficiada pela alta do petróleo no exterior, onde o Brent subiu 1%, a 88,36 dólares o barril, enquanto 3R PETROLEUM ON terminou com variação negativa de 1,89%, a 36,94 reais.
- CSN ON avançou 3,52%, a 14,42 reais, em dia positivo para siderúrgicas e mineradoras na bolsa e após anunciar dividendos intermediários aos acionistas, bem como reorganização societária na holding. No setor, VALE ON subiu apenas 0,28%, a 80,14 reais, diante de nova queda dos preços do minério na China, na esteira do aumento de casos de Covid no país asiático.
- HAPVIDA ON caiu 3,57%, a 5,4 reais, após renúncia do copresidente da companhia Irlau Machado Filho, deixando Jorge Pinheiro como o único executivo à frente do grupo de serviços de saúde. Machado foi presidente da NotreDame Intermédica de 2014 ao início deste ano e comandou a transação que levou à incorporação da empresa pela rival, presidida por Pinheiro desde 2001. Analistas do Bradesco BBI consideraram a notícia um pouco negativa, uma vez que ele deixará todos os cargos na empresa um ano antes do prazo inicial, sem qualquer indicação prévia.
- COPEL PNB reverteu os ganhos e encerrou em baixa de 1,28%, a 8,32 reais, após renovar máximas históricas, ainda na esteira de planos de privatização da companhia elétrica controlada pelo Estado do Paraná. Nesta terça-feira, em evento com analistas e investidores, executivos da Copel afirmaram ver o "timing" da privatização associado à renovação da concessão da hidrelétrica Foz do Areia. Na véspera, o papel já havia subido mais de 20%.
- MAGAZINE LUIZA ON fechou em queda de 1,18%, a 3,34 reais, após ensaiar uma recuperação, assim como VIA ON, que encerrou com declínio de 0,44%. O pior desempenho foi o de AMERICANAS ON, que cedeu 3,8%.
- AZUL PN recuou 4,87%, a 12,69 reais, e GOL PN perdeu 4,04%, a 8,32 reais, conforme o dólar acelerou a alta ante o real.
- ULTRAPAR ON subiu 2,5%, a 13,55 reais, após anunciar na segunda-feira assinatura de compra da totalidade da transportadora de gás natural comprimido (GNC) NEOgás por 165 milhões de reais. Para a equipe do Safra, a operação não tem um valor tão significativo pelo seu tamanho, mas traz sinergias com Ultragaz.
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