Weg entrará em carros elétricos quando volumes crescerem no Brasil, diz presidente
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A Weg está trabalhando para o desenvolvimento de motores para carros elétricos, embora esse não seja o foco de vendas no momento da companhia, que prefere esperar uma evolução dos volumes para então entrar nesse segmento, disse o presidente-executivo do grupo, Harry Schmelzer Jr.
Ele afirmou que o desenvolvimento de veículos elétricos no mundo está ocorrendo com uma velocidade muito rápida e muitas empresas que atuam país estão trazendo neste momento as soluções do exterior.
"Nós vamos acompanhar isso e vamos evoluir com soluções... E vai aparecer, em algum momento, a oportunidade de esses volumes crescerem no Brasil e ser importante ser abastecido pelo país, que é quando a Weg vai entrar", afirmou o executivo em entrevista à Reuters.
As vendas de carros elétricos e híbridos no país têm passado por forte crescimento neste ano, embora os volumes ainda sejam minúsculos em comparação com o volume total do mercado. Segundo dados da associação de montadoras, Anfavea, de janeiro ao fim de outubro, as vendas de carros elétricos e híbridos somaram 38,7 mil unidades, alta de cerca de 44% sobre o mesmo período do ano passado.
O foco da Weg, por ora, está voltado para ônibus e caminhões, especificamente em trens de força (powertrains), em parceria com empresas fabricantes de carrocerias e caminhões com presença global, buscando construir um histórico no mercado brasileiro para então mirar o exterior.
Atualmente, a Weg é fornecedora dos caminhões elétricos de uso urbano lançados pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, unidade do grupo Traton.
"A nossa estratégia é essa, caminhões hoje é a prioridade, porque você não pode fazer tudo ao mesmo tempo", afirmou o presidente da Weg. O executivo acrescentou que estar na indústria automotiva é algo novo para empresa, que irá primeiro aprender com essa experiência no Brasil e, então, buscar a internacionalização.
Schmelzer não quis estimar uma velocidade em que esse movimento irá ocorrer, mas afirmou que há um movimento de pressão de descarbonização, com reflexos na demanda por esses produtos.
FÁBRICA
Em 2023, a Weg investirá em uma fábrica e uma equipe específica para se aprofundar a dominar a tecnologia de mobilidade elétrica, bem como trazer soluções mais adequadas para um negócio que Schmelzer vê com potencial de crescer sua participação dentro da companhia.
A Weg anunciou em setembro investimento de 660 milhões de reais, que incluem a nova fábrica que será dedicada principalmente a motores para o segmento de mobilidade elétrica. O cronograma prevê a conclusão da nova instalação, na cidade-sede da empresa, Jaraguá do Sul (SC), no primeiro trimestre de 2024.
"A mobilidade é um negócio que vai ser representativo na Weg, só não sei em que período", afirmou.
Para o analista Daniel Gasparete, do Itaú BBA, a mobilidade elétrica será a próxima fonte de receita de bilhões de dólares da companhia, embora, conforme sinalizado pelo presidente da companhia, a velocidade de crescimento da empresa no setor ainda seja incerta, conforme relatório enviado a clientes na semana passada.
Ainda no campo da eletrificação, outra estratégia da Weg envolve estações de carregamento para veículos elétricos, que a empresa está começando no Brasil, mas que, uma vez que não há demanda suficiente no país, também quer avançar para outros mercados, priorizando as Américas.
"O México deve ser o próximo passo, sem dúvida nenhuma", disse Schmelzer, citando a estrutura que a empresa tem no país que poderá ser usada eventualmente também para produzir estações de recarga de baterias de veículos elétricos.
TRANSFORMADORES
Mas enquanto a mobilidade elétrica ainda dá seus primeiros passos dentro do grupo, outras áreas miram além-mar depois de dominar o mercado latino. É o caso da produção de transformadores, que agora encontra ainda respaldo em um projeto trilionário de infraestrutura do governo dos Estados Unidos.
"Nós ainda somos muito pequenos (em transformadores nos EUA)", afirmou o executivo, explicando que hoje a companhia vende esses produtos para subestações de energia renovável, como parques eólicos e solares, mas que pretende oferecer um pacote maior, com outros componentes.
Nesse contexto, a Weg anunciou no ano passado a compra da Balteau, empresa de transformadores para instrumentos e conjuntos de medição, localizada em Minas Gerais, com produtos que a companhia não tinha em seu portfólio.
"Ainda temos muito mercado para conquistar", afirmou.
No Brasil, o executivo também foi enfático ao comentar que a Weg está preparada para um potencial aumento de demanda de transformadores na esteira de leilões grandes de linhas de transmissão previstos para 2023, que prevêem investimentos da ordem de 50 bilhões de reais.
"Isso não vai ser problema. Se nós tivermos encomenda, a Weg consegue erguer fábrica", afirmou. "No que diz respeito a transformadores (em que a Weg é líder no país), se eu não tiver, dá tempo de fazer", afirmou, ressaltando o perfil de longo prazo desse tipo de empreendimento.
EXPANSÃO INTERNACIONAL
Com operações industriais em 12 países e presença comercial em mais de 135 países, a Weg tem aumentado cada vez mais sua presença internacional, embora o Brasil ainda seja cerca de 50%da receita líquida da companhia, com investimentos recentes em países como Turquia, Índia e Portugal.
Schmelzer ressaltou que a Weg ainda tem um potencial grande de crescimento em regiões que já são relevantes na estratégia da companhia, como EUA, Europa e mesmo China, mas observou que há algumas regiões em que a empresa "ainda não deu os passos que tinha que dar".
Um deles é o Leste Europeu, o que explica o investimento na Turquia (de 2 milhões de dólares, em fábrica em Kocaeli). "Nós estamos fazendo linhas de produtos específicas para aquele mercado para poder ser mais competitivo naquele mercado."
Outra região é o Sudeste Asiático. "Nós ainda não demos o primeiro passo do jeito que a gente sempre dá", afirmou o executivo, explicando que a Weg já fez "algumas movimentações", mas "não acertou o pé ainda" com distribuidores locais, por exemplo.
A Rússia seria um novo foco de expansão da Weg, mas Schmelzer adiou planos para o país após o início da guerra com a Ucrânia. Segundo o executivo, a guerra provocará arrefecimento nos negócios na Europa, neste último trimestre e no primeiro trimestre do ano que vem. Por outro lado, ele enxerga que a Weg terá oportunidades com movimentos de busca por novos fornecedores e investimentos em energia renovável na região.
"Mas preocupa a Europa como um todo, e ninguém sabe ainda o que é que vai acontecer com toda essa situação."
BRASIL 2023
O presidente-executivo da Weg afirmou que ainda é cedo para opinar sobre as perspectivas político-econômicas do Brasil no próximo ano, quando Luiz Inácio Lula da Silva deverá voltar ao Palácio do Planalto após derrotar Jair Bolsonaro em eleição no final de outubro.
"Eu ainda tenho que ouvir um pouco mais....se você ver o passado não necessariamente o futuro vai ser igual a esse passado. É nisso que está a expectativa de todo mundo."
Mas Schmelzer ressaltou que o Brasil precisa voltar e investir efetivamente com mais intensidade na infraestrutura e reindustrializar o país. "Eu espero que essa seja uma das direções a serem implantadas por esse governo", acrescentou, elencando ainda ouras medidas como uma agenda de reformas.
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