Dólar oscila após disparada da véspera, com fiscal e política monetária no radar
O dólar passava a cair nesta quarta-feira, abandonando ganhos iniciais em sessão volátil conforme investidores aguardavam os próximos passos de política monetária dos principais bancos centrais do mundo e avaliavam as perspectivas fiscais do Brasil.
Às 10:36 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,22%, a 4,8633 reais na venda. Na máxima do dia, a divisa chegou a avançar 0,72%, a 4,9090 reais, mas perdeu fôlego ao longo das primeiras horas de negociação e foi a 4,8478 reais na mínima, queda de 0,54%.
Na B3, às 10:36 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,16%, a 4,8960 reais.
A instabilidade desta manhã vêm depois de o dólar ter avançado 1,63% na última sessão, a 4,8741 reais na venda, maior valorização diária desde 5 de maio passado (+2,34%) e maior patamar de encerramento desde o último dia 19 (4,9194 reais).
Kaue Franklin, especialista em renda variável da Aplix Investimentos, disse que a disparada "repentina" do dólar na véspera foi provocada principalmente pelo desconforto dos investidores com a situação fiscal do Brasil, e disse que a incerteza se estendia para este pregão, podendo elevar a volatilidade.
O governo do presidente Jair Bolsonaro propôs nesta semana zerar o ICMS sobre gasolina, gás, etanol e diesel em troca de uma redução da carga cobrada pelos entes federativos, que seriam ressarcidos pelo governo federal, medida vista como eleitoreira.
O que mais pesa é o temor de que a compensação paga aos Estados leve o governo a desrespeitar o teto de gastos da União, disse Franklin, o que abalaria a já frágil credibilidade fiscal do país, podendo levar a saídas de capital estrangeiro dos mercados locais.
O teto de gastos, considerado âncora das contas públicas, já foi motivo de angústia para investidores no final do ano passado, quando teve suas regras alteradas sob a PEC dos Precatórios de forma a ampliar o espaço fiscal do governo.
"O dinheiro estrangeiro gosta da estabilidade", disse Franklin. "Se eu vou arriscar (investir num país emergente), preciso arriscar com alguns pontos de segurança, e, com o aumento das incertezas fiscais, (agentes externos) começam a tirar dinheiro novamente. Principalmente com a possibilidade de eventual juro real positivo nos Estados Unidos; o dinheiro vai para lá."
O banco central norte-americano, o Federal Reserve, já elevou os custos dos empréstimos em 0,75 ponto percentual desde março, e indicou que deve aumentar os juros em 0,50 ponto em cada uma de suas próximas duas reuniões, pelo menos. Isso tende a tornar a dívida do país --a mais segura do mundo-- mais rentável, o que, no geral, é visto como fator de impulso para o dólar.
Na sexta-feira, dados de inflação dos Estados Unidos serão avaliados em busca de pistas sobre os próximos passos de política monetária do Fed, que se encontrará na semana que vem para nova fixação dos juros. Franklin disse que a expectativa tanto pelos dados quanto pela reunião do banco central deve manter a volatilidade nos mercados de câmbio elevada.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) se encontra na quinta para definir sua política monetária, com expectativa de que abra a porta para aumentos nos custos dos empréstimos já no mês que vem.
Com o desempenho desta manhã, o dólar acumula queda de 12,6% até agora em 2022, embora ainda esteja quase 6% acima da mínima de encerramento deste ano, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.
Franklin disse enxergar espaço para eventual arrefecimento do dólar ante os patamares atuais passada a turbulência fiscal recente. Ele afirmou que há chances de haver recuperação no preço das ações de várias empresas domésticas caso a inflação brasileira não volte a acelerar, e uma retomada do Ibovespa poderia levar a maior demanda pelo real.
Na quinta-feira, o IBGE divulgará os dados do IPCA referentes a maio.
Ao longo do restante do ano, o dólar tende a oscilar entre 4,80-4,70 e 5,20 reais, disse Franklin, devendo se aproximar do teto dessa previsão conforme os receios eleitorais ganharem mais destaque nos mercados financeiros.
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