Dólar tem maior alta em 10 meses com aversão global a risco
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou nesta segunda-feira, registrando a maior valorização diária em dez meses e fechando muito perto de 5,25 reais, nas máximas em mais de uma semana. O mercado de câmbio ficou sob intensa pressão vinda do exterior, onde moedas e outros ativos de risco foram alvejados por temores econômicos decorrentes de novos saltos de casos de Covid-19 em alguns países.
O dólar à vista fechou em alta de 2,59%, a 5,2494 reais na venda, maior patamar desde 8 de julho (5,2549 reais). O ganho percentual diário é o mais forte desde 18 de setembro de 2020 (+2,77%). Nesta segunda, a cotação variou de 5,11209 reais (-0,10%) a 5,2595 reais (+2,78%).
Lá fora, o índice do dólar chegou a bater máximas em três meses e meio, mas amenizou os ganhos conforme iene e franco suíço --moedas que se valorizam em tempos de instabilidade-- eram as únicas numa lista de 33 divisas a ganhar terreno.
O receio de agentes financeiros está no aumento constante de novos registros de Covid-19 em vários países do mundo que até então vinham com a epidemia mais contida e em seus potenciais desdobramentos para a atividade.
O possível impacto econômico de novos lockdowns nesses locais e alguma perda de força nas projeções mais otimistas para o EUA pegam investidores já em dúvida sobre como o banco central norte-americano (Fed) lida com inflação mais alta em paralelo a uma robusta concessão de estímulos. No pior dos cenários do mercado está uma estagflação --baixo crescimento econômico com preços mais altos.
"Embora continuemos esperando que o dólar passe a cair nos próximos meses, a incerteza de curto prazo em torno do crescimento global e das perspectivas da política monetária argumenta contra novas vendas por enquanto, em nossa opinião", disseram estrategistas do Goldman Sachs em nota.
No Brasil, o desempenho do real foi particularmente mais fraco, com a moeda liderando as perdas globais. O sol peruano --que tem sofrido com instabilidade política-- era o vice-lanterna, mas com queda bem menor, de cerca de 1,4%. O dólar subia ante 31 numa lista de 33 pares.
O real segue como a moeda emergente relevante mais volátil, superando até mesmo a combalida lira turca.
"O Brasil tem desempenho pior porque há uma percepção de que a estabilidade macropolítica não é suficiente para segurar o investidor", disse João Leal, economista da gestora Rio Bravo. "Quando investidores vão decidir de onde tirar dinheiro, eles escolhem o Brasil."
No mercado, comenta-se ainda que a forte alta local do dólar esteve relacionada à ideia de que o Banco Central pode acabar sendo menos agressivo nas altas de juros devido ao clima global mais arisco que pode arrefecer o crescimento econômico.
A próxima reunião de política monetária do Copom está marcada para 3 e 4 de agosto. Parte da queda de quase 17% do dólar futuro entre a máxima de março e a mínima de junho é atribuída ao maior custo de carregamento de posições contrárias ao real, na esteira dos aumentos de juros pelo BC.
A Selic saiu da mínima histórica de 2% em curso até meados de março para 4,25% atualmente --e há expectativa de que possa chegar a 7% ao fim do ano. Isso ajudou a elevar apostas favoráveis ao real nos mercados futuros dos Estados Unidos a níveis perto de recordes.
Mas, para estrategistas do Morgan Stanley, o posicionamento mais forte pode sugerir um caminho mais tortuoso para a moeda brasileira.
"Embora o ciclo de alta dos juros em curso deva continuar a fornecer suporte para o real, achamos que o posicionamento comprado (em real) mais pesado deve ampliar a sensibilidade da moeda a ruído político em alta e a um dólar mais forte", disseram estrategistas do banco em relatório.
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