Otimismo de 2021 deve dar lugar a cautela em 2022 por Fed e eleição, prevê BV
O otimismo em torno da atividade econômica do Brasil em 2021 deve dar lugar a cautela em 2022, em meio à perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos e à eleição presidencial, de acordo com o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
Para Padovani, esses dois fatores constituem desafios importantes para o ano que vem, com potencial de trazerem instabilidades para o país.
"A discussão é em que momento isso vai acontecer (aumento de juros nos EUA). Há uma leitura nossa de que, à medida que o tempo for passando, esse talvez seja o tema mais importante para 2022. A discussão será como isso vai bater em mercados emergentes", disse ele em teleconferência com jornalistas.
Juros mais elevados nos EUA tendem a diminuir a atratividade por ativos mais arriscados.
Na cena local, contribuindo para as incertezas está a perspectiva de uma eleição presidencial apertada no ano que vem, embora o palco de disputa ainda não tenha sido definido, o que reduz a previsibilidade.
"A discussão é a agenda econômica, num momento em que a dívida pública continua muito elevada", disse ele, explicando que três temas estarão sob os holofotes para discussão da agenda econômica do novo governo --regras fiscais, controle dos gastos e programas de concessão e privatização.
"Para estabilizar a dívida, tem que haver venda de ativos e redesenho de programas sociais. Essa discussão da agenda econômica deve trazer instabilidade no mercado", disse ele. "Vai aumentar nível de incertezas num cenário global de alta de juros."
Essa cautela levou Padovani a manter sua expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano em 3,5%, vendo taxa de 2,0% em 2022. Para ele, a característica de 2021 é a saída da recessão, com alguns movimentos claros que emprestam um clima otimista aos mercados em 2021.
O movimento global de saída da recessão é marcado principalmente por China e Estados Unidos em ritmo aquecido, o que puxa os preços das commodities. No Brasil, soma-se à alta desses preços internacionais o câmbio favorável e uma produção agrícola recorde.
O Brasil conta ainda com juros reais baixos, o que entre outras coisas viabiliza investimentos e estimula bancos a voltar ao mercado de crédito. Mesmo com o início do ciclo de aperto monetário iniciado em março pelo Banco Central --levando a Selic de 2,0% a 3,5%--, Padovani calcula que os juros reais ficarão em 3%.
Para ele, o BC deve seguir elevando a taxa básica de juros Selic até 6,25% no final deste ano, indo a 6,5% no começo de 2022.
A manutenção do ciclo de reformas e a vacinação contra a Covid-19, ainda que lenta, somam-se aos fatores positivos para a recuperação econômica neste ano.
"Tudo sugere que a economia vai reabrir nos próximos meses. Mesmo que tenha novas ondas, o interessante é que a economia no Brasil e no mundo aprendeu a conviver com a pandemia, todo mundo foi para o mundo online, houve mudança cultural e de hábitos. Isso faz com que haja maior resistência do ponto de vista econômico a novas ondas da pandemia", destacou ele.
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