Ibovespa fecha em queda pressionado por Vale e pacote econômico no radar

Publicado em 25/08/2020 17:10 e atualizado em 25/08/2020 21:43

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SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, após três sessões com sinal positivo, pressionado particularmente pelo recuo das ações da Vale, com agentes financeiros também cautelosos após o governo adiar o anúncio de pacote econômico.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa <.BVSP> caiu 0,42%, a 101.864,05 pontos, de acordo com dados preliminares. O volume financeiro da sessão somava 21,6 bilhões de reais.

Bolsa fecha em leve baixa de 0,18%, com foco na situação fiscal

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O Ibovespa interrompeu nesta terça-feira, 25, três sessões em que conseguiu se manter moderadamente em alta, ao fechar nesta terça-feira com leve perda de 0,18%, aos 102.117,64 pontos, tendo, assim como no dia anterior, permanecido em faixa de variação estreita, entre mínima de 101.623,31 e máxima de 102 708,36 pontos, com abertura a 102.292,87. O giro financeiro totalizou R$ 23,4 bilhões, assim como o anterior entre os mais fracos do mês, e agora o Ibovespa acumula perda de 0,77% em agosto e de 11,70% em 2020 - na semana, avança 0,59%.

Em Nova York esta terça-feira foi mista e de variações também contidas, com o Dow Jones em baixa de 0,21% no fechamento, refletindo a proximidade da retirada da Exxon Mobil do índice, a partir de segunda-feira, enquanto S&P 500 apontava alta de 0,36% e o Nasdaq, de 0,76%, ambos em novas máximas históricas de encerramento, em dia de fraca leitura sobre a confiança do consumidor americano, do Conference Board.

Aqui, o mercado tomou nota do adiamento do anúncio do programa Renda Brasil, o que foi visto de forma até positiva, na medida em que parece indicar que a equipe econômica permanece comprometida em entregar um valor mensal minimamente sustentável para as contas públicas. "Está todo mundo de olho no Renda Brasil e, a depender do valor que terá, o efeito sobre as contas públicas, sobre o Orçamento de 2021. O Guedes está nesta situação complicada, de prover recursos a partir de remanejamentos, porque não há espaço para mais impostos, o Congresso não aceitaria, nem a sociedade", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. "A rota de Guedes e Bolsonaro tem sentidos opostos, um pensando no fiscal e o outro nos votos que conseguirá, especialmente no Norte e Nordeste, com um auxílio superior ao Bolsa Família", acrescenta.

Neste contexto de incerteza, o Ibovespa tem se mantido ao longo da maior parte do mês em faixa curta, sem fôlego para se desvencilhar da estreita margem de 101 a 102 mil pontos que tem prevalecido nos fechamentos desde o último dia 11, quando o impasse nas negociações sobre novos estímulos nos EUA e as preocupações em torno da situação fiscal no Brasil se impuseram como fatores de cautela, interrompendo a progressão do índice.

"Os últimos dois dias foram até favoráveis no exterior, mas a expectativa pelo pacote do Guedes está contribuindo para segurar o Ibovespa, com os receios sobre a situação fiscal. Hoje, tivemos padrão semelhante ao de ontem: no começo da sessão, o Ibovespa buscou testar a região de 102,5 mil pontos, ontem nos primeiros 15 minutos, hoje na meia hora inicial", observa Rodrigo Barreto, analista gráfico da Necton. "Se passar para cima, tenderia a abrir caminho para que o Ibovespa busque os 103 mil pontos e, depois, resistência aos 104,4 mil pontos", acrescenta o analista. No lado oposto, ele observa suporte a 100,3 mil que, uma vez perdido, levaria o índice de volta à faixa de 99 mil pontos.

O fraco desempenho das ações de bancos em 2020 continua a limitar ganhos adicionais do índice, apontam analistas: no ano, as perdas acumuladas nas ações das grandes instituições do setor, o de maior peso no índice, estão agora entre 32,41% (Itaú) e 38,16% (Santander).

Nesta terça-feira, Itaú Unibanco PN fechou em baixa de 0,74% e a Unit do Santander, de 0,72%. Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Braskem (-3,51%), seguida por Cielo (-3,38%) e JBS (-3,02%). No lado oposto, Lojas Renner subiu 4,29%, Rumo, 3,48%, e Hering, 3,17%. Entre as commodities, destaque para queda de 2,13% em Vale ON, em dia no qual o preço do minério em Qingdao (China) caiu 1,79%, em meio à recuperação gradual da oferta. Petrobras teve quedas menores na sessão, de 0,44% na PN e de 0,47% na ON.

 

Juros fecham em alta com preocupações sobre quadro fiscal

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Os juros diminuíram a alta à tarde, depois que o dólar passou a cair, mas não a ponto de reduzirem a inclinação da curva, que continuou mais elevada em função dos riscos fiscais. O adiamento do anúncio do Plano Renda Brasil em função de divergências na definição dos valores do benefício do programa manteve o desconforto no mercado, que passou a pedir mais prêmio para ficar exposto em ativos prefixados. O alívio no segmento de câmbio foi acentuado na sessão vespertina, mas chegou apenas em parte nas taxas futuras. Um dos destaques da agenda, o IPCA-15 de agosto, veio alinhado à mediana das estimativas, com impacto neutro nas taxas, tampouco alterando o consenso de apostas em manutenção da Selic em 2%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 terminou praticamente estável, em 2,75%, de 2,742% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 3,93%, de 3,883% na segunda-feira. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 5,75%, de 5,714% na segunda, e o DI para janeiro de 2027 fechou com taxa em 6,76%, de 6,733%.

Após encerrar a manhã em alta, o dólar passou a cair à tarde, com mínimas até R$ 5,51, trazendo alívio limitado para a curva, até porque a melhora do câmbio decorreu de um fator técnico (fluxo de vendas atraído pelas cotações elevadas) e não de fundamentos.

O "fico" de Paulo Guedes e a vitória do governo na manutenção do veto ao reajuste do funcionalismo pelo Congresso haviam dado um alento aos mercados na semana passada, elevando a expectativa para o amplo pacote econômico que seria lançado nesta data - houve anúncio apenas do programa Casa Verde e Amarela, que vai substituir o Minha Casa Minha Vida, nesta terça-feira.

Na segunda, porém, o adiamento da divulgação já prenunciava que algo não ia bem, o que se confirmou com as informações de que o presidente Jair Bolsonaro defendeu um valor maior (R$ 300), do que os R$ 247 proposto pela equipe econômica para o Renda Brasil, que vai entrar no lugar do Bolsa Família. Guedes disse que para isso só com redução nas deduções do Imposto de Renda.

Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, a abertura das taxas reflete a percepção de clara falta de coordenação dentro do governo sobre as medidas a serem adotadas e a quais custos e, ainda, as chances de aprovação pelo Congresso. "A equipe econômica tenta mostrar que o cobertor é curto, mas o presidente avalia a questão com outros olhos, os dos votos, e a curva acaba abrindo mais em função dessa desconfiança", disse.

Nesse contexto, dado ainda o destaque que o próprio BC vem dando para o papel que a política fiscal passou a ter na condução da política monetária, a curva projeta chance zero de novos cortes da Selic.

O IPCA-15 de agosto subiu 0,23%, menos do que em julho (0,30%), e coincidiu com a mediana das estimativas. Os núcleos avançaram, mas ainda são considerados bem comportados, permitindo imaginar que a taxa de juros siga em níveis estimulativos nos próximos meses.

 

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Fonte:
Reuters/Estadão Conteúdo

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