Dólar fecha próximo a R$ 5,50 com ruídos políticos locais

Publicado em 17/08/2020 17:18 e atualizado em 17/08/2020 18:43

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SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta acentuada contra o real nesta segunda-feira, registrando uma máxima em quase três meses, refletindo ruídos domésticos em torno da agenda fiscal, com especulações sobre possível saída de Paulo Guedes do Ministério da Economia.

O dólar registrou ganho de 1,26%, a 5,4959 reais na venda, maior patamar para encerramento desde o dia 22 de maio, quando a divisa havia fechado em 5,5739 reais.

Na máxima intradia, o dólar saltou 1,61%, a 5,5150 reais, máxima desde 25 de maio, depois de ter registrado queda de 0,16% na mínima do dia, a 5,4098 reais.

Enquanto isso, na B3, onde os negócios vão até as 18h, o dólar futuro subia 1,52%, a 5,5090 reais.

Analistas citaram ruídos políticos locais como o principal fator de impulso para o dólar, com preocupações com o possível enfraquecimento de Guedes no governo e rumores sobre uma eventual saída sua do Ministério da Economia elevando a cautela e a volatilidade nos mercados.

"Há expectativas negativas sobre as pautas política e econômica", disse à Reuters João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos. "Os novos boatos de que o Guedes pode estar enfraquecido e a preocupação fiscal têm afetado bastante a moeda (real)."

Duas fontes da equipe econômica disseram à Reuters que a saída de Guedes do governo não está na mesa e negaram notícias publicadas no fim de semana citando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como provável substituto de Guedes no comando da Economia.

Ainda assim, os rumores elevaram a tensão no mercado local, que já sofreu este ano devido a incertezas políticas, principalmente depois da saída de Sergio Moro --considerado um pilar do governo Bolsonaro-- do cargo de ministro da Justiça. Em 2020, ainda em meio a um ambiente de juros extremamente baixos, o dólar acumula alta de mais de 37% contra o real.

Segundo Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do banco Ourinvest, outro fator que elevou a busca pela moeda norte-americana nesta segunda-feira foi "a discussão do pacote de estímulo fiscal nos Estados Unidos, que já dura semanas e ainda não chegou a um acordo".

Com o Senado e a Câmara norte-americanos em recesso e sem nenhuma nova negociação programada com os representantes do presidente Donald Trump, as perspectivas de um acordo no Congresso dos Estados Unidos para ajudar os norte-americanos em dificuldades devido à pandemia de coronavírus perdiam força, e os parlamentares não devem se reunir novamente até o mês que vem.

No exterior, diante desse cenário, o dólar perdia força contra uma cesta de moedas.

Na última sessão, na sexta-feira, o dólar à vista havia registrado alta de 1,12% contra o real, a 5,4274 reais na venda.

Nesta segunda-feira, o Banco Central realizou leilão de 12 mil contratos de swap cambial distribuídos entre os vencimentos 1º de março de 2021 e 1º de julho de 2021, em que vendeu o total da oferta.

A decisão sobre a rolagem de contratos de swap cambial tradicional com vencimento em outubro foi anunciada na quarta-feira, após o BC retomar ofertas líquidas desses ativos pela primeira vez em cerca de três meses.

"Quando a gente vê o BC entrando é para prover liquidez nos mercados", comentou Fernanda Consorte, destacando que, "em cenário de crise, o Banco Central não consegue segurar toda essa situação, levando o dólar de 5,40 para 5 reais, por exemplo, mas consegue controlar situações muito díspares."

Dólar à vista fecha a R$ 5,4971 em dia tenso com rumores sobre saída de Guedes (Estadão)

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O dólar iniciou a semana bastante pressionado e fechou a sessão de negócios em alta de 1,30%, a R$ 5,4971, nível que não se via desde 22 de maio passado (R$ 5,5797). Na máxima do dia, a divisa americana subiu a R$ 5,5141. O aumento da tensão no mercado financeiro local, que já havia amanhecido sob o signo da cautela, foi ligado por profissionais das mesas de operação ao aumento de rumores sobre a saída do ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Mas, por enquanto, são só rumores, uma vez que, se fosse verdade, as coisas no mercado estariam muito piores", afirmou Paulo Sabat, gestor da mesa de Derivativos da Necton Investimentos. "No entanto, o mercado aguarda algum pronunciamento seja do Bolsonaro, seja do próprio Guedes, como ele fez no início deste ano, quando ocorreu rumor semelhante", afirmou Sabat.

O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, termômetro do risco-País, acompanhou a apreensão e foi a 230 pontos - nível do fechamento de sexta-feira, de acordo com cotações da IHS Markit.

Fernanda Consorte, economista-chefe da Ouroinvest, afirma que o rumor sobre a saída do ministro estava forte já no final de semana e é agravado pela forma como o presidente Bolsonaro tem se comunicado, com vaivém constante nas declarações a respeito do seu comprometimento sobre o controle das contas públicas. "Cada hora tem declaração que faz pairar dúvidas. Parece mesmo que gostou de ver que a expansão fiscal deu resultado na sua popularidade, mesmo que isso possa levar a desfechos ruins mais à frente".

A economista-chefe da Ouroinvest ressaltou que, para além das questões de governo, é importante lembrar que estamos ainda em uma pandemia e sem vacina, o que mantém a tensão e a volatilidade dos mercados dadas as incertezas inerentes ao cenário. "Os dados mostram que a gente, de fato, ainda não venceu essa história. Ainda pode vir dar um soco a qualquer momento".

Fernanda Consorte ainda citou o cenário externo, que não segue tranquilo. No exterior, há mais de três semanas, ocorrem as discussões sobre o pacote de estímulos à economia americana. "E isso será importante na corrida eleitoral que, certamente, será monotemática", diz ela. Também, no sábado, complementa Consorte, haveria no fim de semana um encontro sobre a primeira fase do acordo dos Estados Unidos com a China, mas foi adiado por tempo indeterminado.

 

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Fonte:
Reuters

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