Importado pelos ricos, coronavírus agora castiga os pobres no Brasil

Publicado em 01/05/2020 20:05 e atualizado em 02/05/2020 18:37

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO, 1 Maio (Reuters) - Importado pela elite brasileira em férias na Europa, o novo coronavírus está agora devastando os pobres do país, percorrendo bairros sobrecarregados onde a doença é mais difícil de ser controlada.

Dados de saúde pública analisados ​​pela Reuters para as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza mostram uma transferência nas últimas semanas dos bairros ricos onde o surto se iniciou para arredores urbanos mais pobres.

A mudança coincidiu com um aumento nas mortes confirmadas de coronavírus, que agora atingem 6.000 no Brasil. Muitos cientistas apontam o maior país da América Latina como o próximo local entre os mais afetados por Covid-19.

Pesquisadores do Imperial College London estimam que a taxa de transmissão no país nesta semana será a mais alta do mundo.

A tendência revelada pelos dados complica a batalha do Brasil contra o vírus. Muitas favelas sofrem com a falta de água corrente, sistemas sépticos e instalações de saúde.

Talvez ainda mais desafiador, o Estado é fraco nas favelas, com facções de traficantes frequentemente sendo a autoridade de fato. Isso torna as medidas de isolamento difíceis de aplicar -- mesmo se tivessem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, que repetidamente minimiza os temores sobre o coronavírus e descreve medidas estaduais e municipais para conter sua disseminação como extremas.

Moradores de Brasilândia, um bairro pobre no norte de São Paulo com o maior número de mortes por coronavírus na cidade, disseram à Reuters que os bares ainda estavam lotados e as festas ao ar livre atraíam milhares nos finais de semana.

Segundo dados da cidade, Brasilândia só teve um caso confirmado no final de março, quando a grande maioria dos casos estava agrupada nos bairros mais ricos. O relatório mais recente desta semana mostrou 67 mortes por Covid-19.

"Para aqueles que não passaram por isso, é como se a doença não existisse", disse Paulo dos Santos, de 43 anos, que perdeu o pai com o vírus na Brasilândia.

No Rio, os bairros do Leblon, Copacabana e Barra da Tijuca foram os primeiros a sofrer no início do surto no Brasil, registrando 190 casos confirmados até 27 de março.

Por outro lado, as áreas de baixa renda de Campo Grande, Bangu e Irajá haviam relatado apenas oito casos na época.

Isso mudou na semana passada, com os bairros mais pobres registrando 66 novos casos, enquanto o trio mais rico registrou 55. A Reuters observou a mesma tendência em Fortaleza, que tem mais de 25.000 casos.

Apesar do crescente número de mortos, estão aumentando as solicitações para que medidas de bloqueio sejam relaxadas. Bolsonaro pressionou para reiniciar a economia, descrevendo as políticas de abrigo no local como um "veneno" que poderia matar mais com o desemprego e a fome do que com o vírus.

Nos bairros pobres, onde a fome é uma ameaça aguda, poucos estão aderindo às medidas de quarentena.

William de Oliveira, líder comunitário do bairro pobre da Rocinha, no Rio, pode recitar os nomes de vários amigos mortos pelo vírus. No entanto, ficou claro na quarta-feira que a vida continuava mais ou menos como de costume, com lojas e bares movimentados, que ele lamentava.

CAPACIDADE MÁXIMA

O número de casos em áreas mais pobres é provavelmente muito maior do que o relatado, devido à falta de testes, disse Keny Colares, epidemiologista do hospital São José de Fortaleza. Alguns pacientes de baixa renda, ele disse, estavam aparecendo nos hospitais dias depois de terem procurado atendimento médico.

Os brasileiros pobres também são mais propensos a morrer se infectados, devido a níveis mais elevados de condições pré-existentes e menos acesso a cuidados de saúde.

No Leblon, por exemplo, apenas 2,4% dos casos confirmados resultaram em mortes --a grosso modo em linha com as tendências globais e sugerindo uma imagem relativamente precisa dos números de infecções. Em Irajá, a taxa de mortalidade é de 16%. Na Brasilândia de São Paulo, são surpreendentes 52%.

Hugo Simon, chefe da unidade de terapia intensiva para adultos do Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, disse que o serviço público de saúde estava no seu limite. Seu hospital teve que começar a tratar casos de Covid-19 porque não há mais espaço nos hospitais originalmente designados para lidar com esses pacientes.

O número de casos Covid-19 de Campo Grande está agora entre os maiores do Rio, com 146. Duas comunidades adjacentes de baixa renda, Realengo e Bangu, também estão entre os dez piores sucessos dos 160 distritos oficiais do Rio.

Brasil ultrapassa marca de 90 mil casos de coronavírus; total de mortos supera 6 mil

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O número de casos de coronavírus no Brasil registrou nesta sexta-feira um avanço de 6.209 em 24 horas, o que eleva o total de infecções no país para 91.589, informou o Ministério da Saúde em boletim.

Já a contagem de mortes em decorrência da Covid-19, a doença causada pelo vírus, avançou em 428 na comparação com quinta-feira, atingindo 6.329, de acordo com a pasta.

Na véspera, o país havia contabilizado um novo recorde diário no registro de casos de novo coronavírus, com 7.218 notificações, alcançando 85.380 registros de infecção pela doença e um total de 5.901 mortes.

São Paulo segue como o Estado do país mais afetado pela doença, com 30.374 casos e 2.511 óbitos.

Na sequência da contagem do Ministério da Saúde, vem o Rio de Janeiro, com 10.166 casos e 921 óbitos, seguido do Ceará (7.879 casos e 505 óbitos) e Pernambuco (7.334 casos e 603 óbitos).

Países devem flexibilizar isolamento de forma lenta e manter monitoramento, diz OMS

GENEVA/LONDRES(Reuters) - Os países precisam suspender os isolamentos gradualmente e continuar "atentos" à Covid-19 e prontos para restaurar as restrições se o vírus voltar com força, disse nesta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Pessoas vulneráveis ​​em instituições, incluindo aquelas de longa permanência, prisões e dormitórios de imigrantes, precisam ser protegidas, disse o principal especialista em emergências da entidade, Dr. Mike Ryan.

Mesmo que o vírus esteja sob controle, as comunidades devem seguir as medidas físicas de distanciamento e higiene, e os testes de casos suspeitos devem continuar, segundo ele.

"É realmente importante que, à medida que os países flexibilizem essas medidas, procurem analisar constantemente o aumento das infecções e, em particular, lidem com a transmissão em ambientes especiais", disse Ryan em entrevista coletiva.

O vírus se espalhou em instalações para idosos na Europa e América do Norte, enquanto em Cingapura infectou trabalhadores imigrantes em dormitórios, afirmou ele, acrescentando: "Porque uma faísca em uma situação como essa se transforma em um incêndio muito rapidamente".

A OMS reconhece a dificuldade dos governos em manter isolamentos durante a pandemia, "por razões sociais, psicológicas e econômicas", disse Ryan.

"Portanto, estamos muito ansiosos para que possamos mudar para uma situação em que a doença possa ser controlada com medidas menos severas", afirmou.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Reuters

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

1 comentário

  • dejair minotti jaboticabal - SP

    ..."Eu sou aquele pierrot que te abraçou, que te beijou, meu amor!!!"..., o pierrot-2020 é o covid 19 que os incompetentes governadores e interessados deixaram os turistas infectados passar para os brasileiros... 15 dias após terminada a orgia começou nosso drama..., esse vírus podia infectar somente políticos, daí sim poderíamos ter novos tempos.

    7