Remessas globais de containers devem cair 30% nos próximos meses

Os armazéns estão tão cheios de mercadorias, como geladeiras e máquinas de lavar, que os varejistas estão pedindo às empresas de transporte que adiem as entregas, o que pode levar as remessas globais de containers  até 30% nos próximos meses, segundo o chefe de um grupo do setor.

As remessas provavelmente caíram cerca de 15% até agora este ano em meio à pandemia de coronavírus, segundo Esben Poulsson, presidente da Câmara Internacional de Navegação. As quedas no segundo trimestre, em comparação com um ano atrás, dependerão de quanto os governos reabrem as economias, disse ele.

"Os estoques de mercadorias como vestuário, têxtil e linha branca estão cheios", disse Poulsson por telefone na semana passada. "Estamos ouvindo os receptores desses produtos perguntando às linhas de remessa se eles podem armazená-los por um período de tempo ou retardar seus navios ou atrasar a entrega."

A queda é um revés para gigantes do setor de transporte, como a Cosco Shipping Holdings Co. e a Ocean Network Express Holdings Ltd. , que começaram o ano com fortes volumes de comércio saudáveis, permitindo que o setor aumentasse as taxas. Esse otimismo agora se evaporou, pois o surto de vírus obrigou os compradores a ficar em casa, restringindo as vendas no varejo nos maiores mercados consumidores.

As encomendas de remessas da Ásia para a América do Norte e Europa desaceleraram em abril e maio, de acordo com o diretor executivo da Ocean Network Express, Jeremy Nixon. Os envios de produtos da América do Norte e Latina, Europa e Oceania para a Ásia ainda são fortes, disse Nixon, cuja empresa é a maior operadora de transporte de containers do Japão.

Além de volumes mais baixos, o setor foi atingido por restrições destinadas a conter o surto. Garantir que os marítimos possam embarcar e transferir para navios em meio ao meio-fio do porto e vôos cancelados continua sendo um grande desafio, disse Poulsson.

Os containers de entrada para o Porto de Los Angeles caíram 26% em março em relação ao ano anterior, enquanto a taxa de transferência de contêineres de Cingapura caiu para a pior leitura desde agosto e a medida de Hong Kong caiu abaixo da média novamente após uma breve pausa em fevereiro.

"Algumas empresas de containers operam com apenas 20% da capacidade e várias partidas foram canceladas", disse Tim Huxley, presidente da Mandarin Shipping Ltd., em entrevista. "Nossos cinco navios porta-containers certamente transportam menos e também tivemos que suportar algum tempo de espera entre o emprego".

As dores financeiras das principais economias estão fechando a cadeia de suprimentos, disse Lee Klaskow, analista sênior de logística da Bloomberg Intelligence. "As indústrias de granéis secos, ro-ro e liners de containers serão as mais impactadas, pois as indústrias de serviços param e a capacidade de fabricação fica ociosa".

Para reagir às exportações mais baixas da Ásia, a ONE reduziu as viagens regulares da região para o norte da Europa, o Mediterrâneo e a América do Norte, disse Nixon. Uma questão importante para o setor agora é quando a demanda poderá se recuperar e se o comércio global será permanentemente alterado pela pandemia.

"A longo prazo, ainda vemos fortes exigências comerciais para o comércio global e o transporte de containers", disse Nixon. "Mas o desafio será qual é o crescimento após o coronavírus".