País ainda não sentiu "coice externo" do coronavírus, diz Paulo Guedes

Publicado em 20/04/2020 22:48

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira que a corrente de comércio do país com o exterior ainda não sofreu o impacto da crise do coronavírus e que os "sinais vitais" da economia doméstica estão por ora preservados.

"Até o momento (o efeito sobre a corrente de comércio) foi zero. É verdade que perdemos em turismo, é verdade que perdemos em industrializados, mas a gente ganhou em exportações de agronegócio. Tem mineração, tem vários setores que estão expandindo as exportações", destacou o ministro.

Em videoconferência promovida pelo BTG Pactual, o titular da pasta econômica ressaltou que o país não sentiu, ainda, o "coice externo" da pandemia.

De acordo com ele, quedas de bens exportados para grandes parceiros comerciais, como Estados Unidos, Europa e Argentina, têm sido compensadas pelo aumento das exportações para a China.

"Quando começamos a acompanhar a dimensão da crise chinesa, não sabíamos que era uma pandemia. Acompanhamos a coisa como se fosse um problema de saúde chinês, que fosse atingir as cadeias produtivas integradas no mundo, mas que não fosse ter muito efeito sobre o Brasil, o que está se revelando uma hipótese razoável de trabalho", afirmou.

RECUPERAÇÃO DOMÉSTICA

Ao ser questionado sobre fatores que irão auxiliar em uma recuperação mais rápida da economia, o ministro disse "não querer vender sonhos", mas que os esforços devem estar alinhados mirando uma recuperação em "V".

"A tentativa tem que ser essa. Se nós tentarmos duramente, quem sabe a gente não saia em 'U'. Se a gente não fizer isso, não falar em 'V, a gente pode ficar no 'L' mesmo, em uma queda forte do PIB (Produto Interno Bruto) e estagnação mesmo, por muito tempo", afirmou.

O ministro disse que os "sinais vitais" da economia interna ainda estão "preservados", mas em razão das incertezas acerca da velocidade de contágio do vírus no Brasil, o grande questionamento é sobre a economia suportar por mais dois meses (maio e junho) o isolamento social --tendo como hipótese uma previsão de diminuição dos números de casos em julho, com o restabelecimento das atividades.

De acordo com Guedes, as ações do governo têm como objetivo proteger a população mais vulnerável e sustentar o fluxo de caixa das empresas "para dois, três meses difíceis".

"Não sabemos ainda, como disse, a profundidade da crise, mas não sentimos ainda que desorganizou a economia. Nós estamos sentindo que teve um impacto muito forte, mas ainda não é algo que impeça uma recuperação muito rápida, ainda não é isso. Temos que lutar para que isso não aconteça", ponderou.

Ao discorrer sobre a manutenção das cadeias produtivas, Guedes mencionou que o governo tem de usar "a inteligência do setor privado" para auxílio nas medidas tomadas.

REAJUSTES DE SERVIDORES

Sobre o do Projeto de Lei Complementar que concede auxílio da União a Estados e municípios para compensar queda de arrecadação com ICMS e ISS, aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado, Guedes afirmou que o governo não pode "cruzar o rio da irresponsabilidade fiscal".

"É uma irresponsabilidade fiscal com a União você assumir um compromisso como algo imprevisível. E se for uma depressão? E se o colapso fosse de 50%, 60%, 80%, 90% das receitas? E se degenerasse para um colapso total de pagamentos?", questionou o ministro.

Contra a proposta aprovada pela Câmara, a equipe econômica apresentou, na semana passada, uma transferência direta de recursos a Estados e municípios de 40 bilhões de reais por três meses.

Guedes, no entanto, afirmou que caso o governo federal, Estados e Municípios se comprometam a não conceder reajustes de salários ao funcionalismo público pelos próximos dois anos, é possível que haja um aumento do tamanho do auxílio.

"Essa é a contrapartida, que eu acho que o Senado compreende, tem a sensibilidade que, de certa forma, nos permite seguir adiante até com um pouco mais de recursos para combater essa luta", disse o ministro.

Bolsonaro está comprometido com a democracia, diz Guedes

BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu nesta segunda-feira o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), classificando-o como um "democrata", um dia após o chefe do Executivo ter participado, em Brasília, de uma passeata que defendia uma intervenção militar no país.

"(...) Se tiver uma passeata com bandeira do Brasil, ele (Bolsonaro) sai atrás, entra, grita, abraça todo mundo, repete os gritos de guerra da campanha. Mas é um democrata, está comprometido com isso", disse Guedes durante videoconferência promovida pelo BTG Pactual Digital.

O ministro afirmou que Bolsonaro "é resiliente" e segue com os mesmos ideais.

No domingo, Bolsonaro afirmou a manifestantes que participavam de ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, que acabou a "época da patifaria" e da "velha política".

Discorrendo sobre o atual momento da conjuntura política-econômica, Guedes afirmou não estar "brigando com ninguém". "Não quero brigar com ninguém, estou sempre com a mão estendida para quem quer ajudar a resolver o problema", completou.

Campos Neto diz que BC pode anunciar mais medidas para crédito; sinaliza chance de uso de política monetária

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira que o BC continuará monitorando se o crédito está chegando na ponta e que se for preciso a instituição anunciará mais medidas para aperfeiçoar o direcionamento dos recursos.

Ele disse acreditar que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) conhecida como "Orçamento de Guerra" --que, entre outras ações, permite ao BC comprar títulos diretamente no mercado-- será aprovada pelo Congresso Nacional e ajudará a melhorar a fluidez do mercado de crédito.

O chefe do BC afirmou, ainda, que o cenário analisado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião --em 17 e 18 de março-- mudaram.

Na ocasião, o colegiado cortou a Selic em 0,50 ponto percentual e avaliou que tanto uma redução maior no juro quanto afrouxamentos monetários adicionais poderiam se tornar "contraproducentes" se resultarem em aperto das condições financeiras.

"Em nenhum momento dissemos que a política monetária não era efetiva, que tinha perdido efetividade e que não estávamos olhando para isso", afirmou Campos Neto na live promovida pelo Grupo Estado.

O presidente do BC foi questionado sobre a reação do mercado de juros a comentários feitos por ele mais cedo nesta segunda-feira em videoconferência fechada à imprensa. "O que falamos é que entendemos que as condições que tínhamos no Copom mudaram muito de lá para cá, inclusive as expectativas de inflação."

As taxas de DI tiveram fortes quedas, com o DI janeiro 2021 --que concentra apostas para o patamar da Selic ao fim de 2020-- fechando na casa de 2,8%. O juro básico está atualmente em 3,75% ao ano.

Perguntado sobre a reação do mercado nesta segunda ao noticiário político doméstico, Campos Neto disse que "não teve nenhum grande fator no mercado" que tenha chamado sua atenção.

"Nosso trabalho não é muito comentar o que está acontecendo (do lado político), mas entender o que isso significa para a nossa política." Para Campos Neto, há "pouca dúvida" de que a PEC será aprovada e não existem "grandes dificuldades" no Congresso para aprovar as medidas.

O dólar fechou na segunda maior cotação da história, e o Ibovespa ficou praticamente estável.

 

FLUIDEZ DO CRÉDITO

O presidente do BC foi perguntado várias vezes sobre como a autoridade monetária garantiria que o crédito chegue a quem mais precisa e a que preço.

Campos Neto respondeu que o que o BC pode fazer agora é monitorar se isso está acontecendo. Mas ressalvou que se for necessário mais medidas de direcionamento poderão ser anunciadas, sem dar mais detalhes.

"Entendemos que o Brasil fez mais cedo (medidas) e mais quantidade, fez mais direcionamento, então isso deve começar a fluir melhor", disse, admitindo, contudo, que isso não significa que o preço do crédito será o mesmo de antes, já que, argumentou, o prêmio de risco está maior.

Ele citou dados divulgados mais cedo pelo próprio BC sobre concessões de crédito em março, quando o país já sofria o baque do Covid-19. As concessões aumentaram, e, segundo o BC, esse desempenho está relacionado às medidas tomadas pela autarquia para promover o bom funcionamento do mercado financeiro.

Campos Neto citou que, da linha de 91 bilhões de reais criada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o Banco Central conceder empréstimos aos bancos com garantia de debêntures, já houve operações totalizando "mais ou menos" 9 bilhões de reais.

Mas tem havido "pouca demanda" do lado de operações com Depósito a Prazo com Garantia Especial --cujo garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi elevada para 40 bilhões de reais.

Entre as operações compromissadas com títulos em moeda estrangeira, "mais ou menos 15%" do total esperado já foram realizados, disse o chefe do BC. E já existem empréstimos aprovados com lastro em letras financeiras garantidas.

"De certa forma, o potencial de 1,2 trilhão (de reais nas medidas), estamos caminhando nele."

Campos Neto classificou como "falta de conhecimento" propostas de venda de dólares das reservas a fim de levantar recursos para investimento em infraestrutura, por exemplo. Segundo ele, dado o histórico da formação das reservas no país, vendê-las com esse fim seria o mesmo que emitir dívida, o que elevaria a dívida líquida.

 

ATUAÇÃO COM TESOURO

O chefe do BC disse que não há ideia de "competir" com o Tesouro Nacional no mercado de títulos públicos, mas "complementar", e que a intenção é atuar no mercado de juros quanto se perceber disfuncionalidades.

"O Tesouro pode entrar. Ele vai ter as limitações, e a gente vai estar sempre agindo em coordenação", afirmou. Campos Neto frisou que o objetivo não seria "forçar" a curva longa de juros para baixo em momentos de estresse, mas "evitar que ela suba de forma disfuncional".

Campos Neto disse que o Tesouro tem limitações de caixa --o qual, segundo ele, atualmente atende a seis meses de vencimentos--, enquanto o BC tem um balanço com "espaço bastante grande".

O BC pode atuar no mercado secundário de títulos via leilão e "hoje" não há "nenhuma" dificuldade de financiamento para o governo, também porque as taxas de juros caíram.

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Vladimir zacharias Indaiatuba - SP

    PENSEM COMO SERIA... "Ao olhar as atitudes da formidável equipe de governo não posso deixar de admirar a eficiência e o entrosamento nunca vistos "na história desse país"... só pra lembrar como falava o presidiário corrupto que se vangloriava de ter construídos estádios e não hospitais.

    Fico aqui imaginando como estariam o dolar, a especulação com mercadorias, os mercados financeiros, os caminhoneiros, e a instabilidade social se os agentes econômicos e sociais não sentissem profunda firmeza na equipe de ministros e seus assessores.

    Guedes, Moro, Tereza Cristina, Tarcísio, Marcos Pontes, Braga, Ramos, Salles, Damares....... Presidentes da Caixa, BC, BB, Petrobrás, Mansueto ....

    Que formidável mobilização para trazer um pouco de alento à milhões de famílias que de uma hora para outra se viram sem qualquer tipo de renda.

    14 milhões de beneficiários do bolsa família, 38 milhões de autônomos, muitos sem CPF, antecipações para aposentados..... Ajuda na folha de pagamentos de pequenas e médias empresas.

    IMAGINE ISSO NA MÃO DE GOVERNOS LOTEADOS por políticos como tínhamos até 16 meses atrás.

    Reflitam amigos produtores como estariam agitando os Stediles, Rainhas e outros espécimes dos MSTs da vida, hoje praticamente extintos, pondo a culpa de tudo no agronegócio.

    Agora, sem medo da mídia funerária, das viúvas da boquinha, e dos pessimistas de plantão não temo em afirmar alto e em bom tom: Apesar de alguma divergência pontual GRAÇAS A DEUS O BOLSONARO ESTÁ NO COMANDO!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Excelente Sr, Zacarias, e ajunto ao seu comentário 100 % correto..., a sujeira que os deputados fizeram ao jogar a conta da terra parada no governo federal, nas nossas costas..., se essa quarentena se prolongar muito, o país vai entrar em depressão... e pela nova lei aprovada, o governo federal terá que cobrir toda a perda de impostos que eles mesmos geraram..., querem arrebentar com as contas publicas, que o presidente Bolsonaro e sua equipe a muito custo estavam conseguindo administrar muito bem, e fazendo muita obras e coisas boas para o país, aí as nulidades, os mequetrefes, fazem essa sujeira e mandam a limpeza para o povo brasileiro. Não podemos aceitar isso. E agora o nhonho maia quer trocar a aceitação do impeachement impetrado pela esquerda pela reeleição a presidencia da camara, o que é inconstitucional e eu fico pensando...será que o povo brasileiro vai dobrar a cerviz e aceitar calado ou vai reagir a altura?

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