Dólar tem maior queda desde outubro de 2018 com esforços de BCs globais para acalmar ânimos
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar registrou a maior queda diária no Brasil em 17 meses nesta quinta-feira, descendo à casa de 5,10 reais, com o Banco Central ativo em intervenções no mercado de câmbio, em um dia de trégua nas praças globais à medida que investidores analisaram ações de governos e BCs para garantir liquidez ao sistema financeiro.
O real figurou entre as moedas de melhor desempenho nesta sessão. Pela manhã, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou o estabelecimento de linhas de swap no valor de 60 bilhões de dólares com o BC brasileiro.
O Fed também informou que está disponibilizando essas linhas a BCs de outros países emergentes, num esforço para garantir liquidez num momento em que a busca por segurança tem feito o dólar disparar em todo o mundo.
Na Ásia, o BC da Austrália anunciou um programa de flexibilização quantitativa, enquanto na Europa o banco central do Reino Unido cortou os juros e reforçou seu programa de compras de ativos.
O BC da zona do euro informou na véspera um programa de compra de ativos de mais de 700 bilhões de euros. Todas essas medidas vêm na sequência de outras já anunciadas pelo Fed e outros bancos centrais, e a série de ações parece começar a acalmar os nervos dos mercados.
Notícias sobre maior urgência do governo norte-americano em aprovar remédios em teste contra o coronavírus também colaboraram para a trégua. O S&P 500, índice de referência da Bolsa de Nova York, subiu 0,47%.
No Brasil, o mercado avalia o tamanho das intervenções do BC no mercado de câmbio. A autoridade monetária vendeu nesta quinta, entre operações de dólar à vista e linhas com recompra, 2,635 bilhões de dólares, depois de na quarta injetar 2,860 bilhões de dólares nesses mesmos instrumentos. "O BC tem estado mais ativo", disse o Morgan Stanley em nota.
O BC tem atraído críticas de alguns agentes financeiros por, segundo eles, aparentar receio de utilização de instrumentos para atuar no câmbio e não demonstrar suficiente preocupação com a rápida valorização do dólar.
O dólar à vista fechou esta quinta em baixa de 1,83%, a 5,1041 reais na venda. É a maior desvalorização percentual diária desde 8 de outubro de 2018 (-2,35%).
No ano, o dólar ainda salta 27,19%.
No mercado de dólar futuro da B3, em que os negócios se encerram às 18h, o contrato de vencimento mais curto tinha desvalorização de 0,49%, a 5,0825 reais.
Arranjo do BC com o Fed faz dólar ter maior queda diária desde janeiro de 2019 (Estadão Conteúdo)
O dólar à vista fechou cotado em R$ 5,1023, a maior baixa porcentual desde 2 de janeiro de 2019, quando recuou 1,83%. A moeda americana abriu em alta e chegou a bater em R$ 5,21, mas a valorização perdeu força logo após o anúncio do Fed. Analistas de moedas e economistas acharam a medida positiva, mas insuficiente para conter a valorização do câmbio nos emergentes
"É mais um passo na direção certa, uma sinalização", avalia Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor do BC. Neste sentido, a linha de swap do Fed é mais um sinal de coordenação dos governos. "O mundo está tomando a direção de 'vamos fazer tudo o que precisar e mais um pouco'", afirma. "Os governos estão usando um enorme arsenal, um arsenal gigantesco, praticamente sem fazer a conta do impacto fiscal", ressalta Figueiredo. "Hoje foi uma boa indicação, com mercados oscilando pouco, não caindo 10%. Se ficar assim alguns dias vai ajudar muito."
Para o economista da consultoria inglesa Capital Economics, Oliver Allen, a linha de swap traz alívio para o mercado cambial brasileiro e de outras regiões, mas não será suficiente para segurar a tendência de fortalecimento do dólar na economia mundial, ao menos enquanto a turbulência no mercado financeiro mundial não passar.
O anúncio do Fed, ressalta Allen, já trouxe respiro para algumas moedas emergentes hoje, como o real, que ganhou força ante o dólar, mas o economista vê este movimento como temporário. Moedas como o real e o peso mexicano que vinham frequentando o topo da lista de piores desempenhos diários ante o dólar no mercado internacional deixaram estas posições hoje.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, ressalta que a saída de capital de emergentes se acelerou nos últimos dias, para níveis sem precedentes e aconteceu o movimento chamado "parada repentina". As saídas desde o final de janeiro já superam US$ 50 bilhões e os países mais pressionados são o México e o Brasil. Tanto que no ano o dólar acumula alta de 27% aqui e no México, os piores desempenhos em uma cesta de 34 moedas.
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