Estoque de crédito no Brasil acelera alta a 6,5% em 2019, puxado por crédito livre
O estoque total de crédito oferecido pelo sistema financeiro no Brasil acelerou em 2019 com crescimento de 6,5%, a 3,471 trilhões de reais, em alta real pelo segundo ano consecutivo e numa expansão guiada pelo crédito livre, divulgou o Banco Central nesta quarta-feira.
O dado veio um pouco abaixo da previsão mais recente do BC, de aumento de 6,9% no saldo geral de financiamentos, mas terminou acima da inflação medida pelo IPCA de 4,3% em 2019.
Em 2018, o crescimento do estoque geral havia sido de 5%.
O desempenho do ano foi puxado pelo crédito livre, que é concedido pelos bancos sem nenhum tipo de regulação nos juros pelo governo. A expansão nessa modalidade foi de 14,1%, ao passo que o crédito direcionado caiu 2,4% em 2019.
Segundo o BC, o aumento no crédito livre foi o maior desde 2011, quando a alta foi de 16,7%.
Desde que assumiu, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem falado em desestatizar o mercado de crédito, aumentando a participação do crédito livre sobre o direcionado. A forte diminuição de créditos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), de 13,9% no ano, é um dos vetores dessa orientação.
Em contrapartida, as empresas têm buscado outras formas de se financiar. Os títulos privados de dívida subiram 34,3% em 2019, numa mostra dessa troca de fonte.
Ao melhorar suas contas para o Produto Interno Bruto (PIB) a uma alta de 2,4% em 2020, a equipe econômica avaliou que a expansão do crédito livre será "combustível" para o crescimento da atividade econômica.
Na divisão entre pessoas físicas e jurídicas, foram as famílias que puxaram a elevação do crédito em 2019, com crescimento de 11,7% no estoque de financiamentos. Entre as empresas, essa alta foi de apenas 0,2%, mostraram os dados do BC.
Para 2020, o BC previu em dezembro uma alta de 8,1% no estoque de crédito, novamente impulsionada pelo apetite das famílias.
"Tendência do crescimento do crédito livre se mantém, e vai sobretudo ser assim se a economia crescer mais em 2020 do que em 2019, como tem sido previsto", afirmou o chefe adjunto do departamento de Estatísticas do BC, Renato Baldini.
Olhando apenas para o segmento de recursos livres, a inadimplência caiu 0,1 ponto em 2019, a 3,7%, menor nível da série histórica iniciada pelo BC em março de 2011.
Os juros médios no mesmo segmento caíram 1,6 ponto em 2019, a 34% ao ano em dezembro. A retração foi menor que a sofrida pela taxa básica de juros, que recuou 2 pontos no ano passado, à mínima histórica de 4,5%.
Há ampla expectativa de que a Selic seja novamente reduzida pelo BC na próxima semana, em meio a avaliações recentes do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, sobre o comportamento favorável da inflação.
O spread, que mede a diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada a seus clientes, subiu 0,7 ponto no acumulado de 2019 no segmento de recursos livres, a 28,5 pontos percentuais em dezembro.
Dentre as modalidades de crédito mais caras para as pessoas físicas, o rotativo do cartão de crédito ficou na dianteira, com alta de 33,5 pontos no ano, a uma taxa média de 318,9% ao ano em dezembro.
O custo do cheque especial caiu em 2019, embora tenha seguido bastante elevado. De acordo com os dados do BC, o recuo foi de 10,1 pontos, ao patamar de 302,5% ao ano. No fim do ano passado, o BC divulgou um teto para os juros cobrados pelo cheque especial, mas as regras só entraram em vigor em janeiro deste ano.
Baldini avaliou que essa diminuição será "importante numa modalidade de custo alto", mas ponderou que o saldo do cheque especial é pouco expressivo em relação ao todo, de modo que, sozinha, a medida não terá peso suficiente para mudar a figura geral do custo médio dos financiamentos no país.
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