Dólar tem maior queda em um mês com apostas de novo corte de juros nos EUA

Publicado em 03/10/2019 17:25

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SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou com a maior queda em um mês nesta quinta-feira, na casa de 4,08 reais, em meio à fraqueza global da moeda norte-americana conforme investidores turbinaram apostas de novos cortes de juros nos Estados Unidos.

A percepção de que o dólar pode já ter atingido no exterior picos do atual ciclo de alta se soma no Brasil à ideia de que o fluxo cambial deve melhorar nos próximos meses e a dados sinalizando melhora da economia em relação ao restante do mundo.

"Acho que (a reforma da) Previdência está precificada. [...] O que não está precificado é o efeito disso na confiança, diminuição do represamento de consumo e investimento, melhora do PIB" e de balanços", disse Renoir Vieira, gestor do family office Pacific Investimentos.

Na avaliação de profissionais do mercado, esse "combo" tem levantado dúvidas sobre a vantagem de se continuar apostando no fortalecimento da divisa dos EUA, o que tem levado alguns operadores a desmontar parte de posições de proteção para outros mercados, como o de bolsa.

Pelo segundo dia consecutivo, o real teve um desempenho superior ao Ibovespa. A moeda brasileira esteve entre os destaques positivos nos mercados globais de câmbio nesta sessão, depois de semanas figurando recorrentemente entre as divisas de pior desempenho.

O dólar à vista caiu 1,09% nesta quinta-feira, a 4,0894 reais na venda.

É a maior baixa diária desde 4 de setembro (-1,79%) e o menor patamar para um encerramento desde 17 de setembro (4,078 reais na venda).

Na B3, o dólar futuro de maior liquidez perdia 1,00%, a 4,0955 reais.

Na semana, o dólar spot recua 1,61%, a caminho de registrar a maior queda semanal desde julho.

No exterior, o índice do dólar cedia 0,11%.

O foco do mercado se volta agora para dados mais amplos do mercado de trabalho norte-americanos, que serão divulgados na sexta-feira. Se vierem aquém do esperado, investidores deverão aumentar ainda mais apostas de corte de juros nos EUA, o que tende a amparar a continuação do ajuste de baixa no dólar.

Mercado vende dólar com desmonte de "hedge" para bolsa, de olho em fluxo e corte de juro nos EUA

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía forte ante o real pelo segundo pregão consecutivo nesta quinta-feira, e cada vez mais analistas têm atribuído o movimento a um desmonte de posições no câmbio que visavam proteger aplicações em bolsa.

Na véspera, enquanto o Ibovespa recuou quase 3%, o dólar caiu 0,67%, na maior baixa em três semanas. Nesta quinta, a moeda norte-americana perdia 1,3%, abaixo de 4,08 reais na venda, nos menores patamares desde 18 de setembro. O real liderava o desempenho entre as principais moedas globais nesta sessão.

Dados da B3 mostram que, desde o começo de setembro, fundos locais reduziram posições líquidas compradas em dólar em 3,68 bilhões de dólares, para 7,46 bilhões de dólares na quarta-feira, segundo números mais atuais disponibilizados. Os dados consideram posições em contratos de dólar futuro, cupom cambial e swap cambial.

Desde o começo do ano o real tem tido performance mais fraca que a bolsa ou a renda fixa. Segundo analistas, isso vinha ocorrendo porque investidores tomaram dólar para proteger aplicações nos mercados de ações e renda fixa.

De fato, o real acumula depreciação de 6,3% ante o dólar em 2019, enquanto o Ibovespa sobe quase 15% e os títulos prefixados se valorizam 10%.

Mas a continuidade dessa dinâmica cada vez mais é dúvida.

"De ontem para hoje zeramos nossa posição (comprada) em dólar", disse Roberto Campos, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, para quem o real parece mais inclinado a recuperar parte das perdas do ano depois da forte depreciação de agosto, a mais intensa desde 2015.

A expectativa de que o fluxo cambial se recupere nos próximos meses também está por trás do desmonte de parte de posições pró-dólar.

Um gestor de fundos em São Paulo citou esperados ingressos de recursos de operações corporativas como um elemento a estimular expectativa de melhora do fluxo cambial.

A perspectiva é que o IPO da Vivara Participações movimente cerca de 2 bilhões de reais e que a oferta secundária de ações do Banco do Brasil gire em torno de 5,75 bilhões de reais --ambos com esperados aportes de investidores estrangeiros.

"Também o auge do movimento de troca de dívida das empresas, como sinalizado pelo Banco Central, deve ter ficado para trás. À medida que essas saídas (de recursos) diminuem, há menos pressão sobre o dólar", disse Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador da Novus Capital.

A queda da Selic a sucessivas mínimas recordes reduziu o custo de captação de recursos no mercado local. Com isso, muitas empresas com dívidas em moeda estrangeira decidiram antecipar pagamentos dessas obrigações para se financiarem em reais. Esse movimento gera fluxo cambial negativo, o que exerce pressão de alta para o dólar.

Esse movimento foi reconhecido pelo Banco Central, mas recentemente o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que grande parte do movimento de pré-pagamento de dívida corporativa já foi feito.

"Talvez comprar juro possa se tornar um 'trade' melhor para proteger posições em bolsa. Pode ser o fim de um combo 'compra de dólar, venda de juros' que já dura uns três anos", afirmou Portella.

O real "surfaria" numa onda positiva para emergentes também à medida que os indicadores dos EUA se mostram mais fracos em relação aos de outros países, o que elevaria apostas de cortes de juros nos EUA --movimento que reduziria o apelo ao dólar.

Dados dos setores manufatureiro e de serviços nos EUA vieram piores que o esperado para setembro, enquanto no Brasil e na China números semelhantes mostraram recuperação.

Nesta quinta, o mercado turbinou a mais de 90% a probabilidade de novo corte de 0,25 ponto percentual do juro nos Estados Unidos. Quanto menor a taxa por lá, mais chances de investidores trazerem recursos para mercados emergentes, como o Brasil.

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Fonte:
Reuters

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