Bovespa recua mais de 2% com apreensão sobre efeito de greve dos caminhoneiros
SÃO PAULO (Reuters) - O tom negativo prevalecia na bolsa paulista nesta segunda-feira, em meio a preocupações com os efeitos fiscais e na Petrobras das medidas anunciadas na véspera pelo governo para encerrar a greve dos caminhoneiros, bem como o impacto econômico em vários setores da paralisação que já dura 8 dias e tem provocado desabastecimento em diferentes categorias.
A queda nos preços do petróleo no mercado externo e o fortalecimento do dólar frente a uma cesta de divisas endossavam o viés negativo no mercado acionário brasileiro, em sessão sem a referência de Wall Street, onde as bolsas estão fechadas por feriado nos Estados Unidos.
Às 11:00, o Ibovespa caía 2,51 por cento, a 76.913 pontos, se aproximando da mínima intradia do ano de 76.402 pontos.
O volume financeiro somava 978 milhões de reais.
Após uma primeira tentativa de acordo frustrada pela recusa dos caminhoneiros, o governo cedeu e fez uma série de concessões, como a redução do diesel em 46 centavos e o congelamento do preço por um período de 60 dias, entre outras medidas exigidas pelos manifestantes. Apenas a redução do diesel terá um custo de 9,5 bilhões de reais no Orçamento.
O gestor Marco Tulli Siqueira, da mesa de operações de Bovespa da Coinvalores, destacou que, apesar de Petrobras estar mais em evidência e sofrer com preocupações sobre potenciais efeitos, a greve também tem atingido os demais setores. "Há um desabastecimento generalizado, inclusive na cadeia alimentar", ressaltou.
Nesta manhã, a fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo e a Suzano Papel e Celulose anunciaram paralisação das atividades devido à greve dos caminhoneiros.
Agentes financeiros também veem aumento do risco político com os últimos eventos, complicando ainda mais um já nebuloso cenário eleitoral neste ano. "(O noticiário recente) sinaliza aumento da tensão doméstica e fragilidade do governo, destacou o sócio da gestora Galt Capital, Igor Lima, ponderando também que a ausência de Nova York deve ter efeito no fluxo de recursos.
DESTAQUES
- PETROBRAS PN e PETROBRAS ON recuavam 7,5 e 7,4 por cento, respectivamente, com investidores ainda receosos acerca de ingerência governamental na companhia, após anúncio de que os reajustes do diesel da companhia passarão a ser mensais, dentro das negociações para encerrar a greve dos caminhoneiros. A Petrobras disse que as medidas anunciadas na véspera não incorrerão em prejuízo para a empresa. As operações com as ações ainda tinham de pano de fundo o recuo do petróleo, anúncio de redução de preços de gasolina pela Petrobras e convocação de greve por petroleiros.
- B2W caía 4,7 por cento e LOJAS AMERICANAS PN perdia 3,93 por cento, com o setor de varejo também sendo afetado por problemas de fornecimento. VIA VAREJO UNIT recuava 3 por cento
- BANCO DO BRASIL perdia 4,7 por cento, sofrendo com a percepção de cenário político mais frágil do país. ITAÚ UNIBANCO PN e BRADESCO PN caíam 2,65 e 2,29 por cento, respectivamente, pesando no Ibovespa, em razão do peso relevante de ambos detêm na composição do índice, contaminados pelo viés negativo na bolsa como um todo.
- ELETROBRAS PNB e ELETROBRAS ON caíam 5,15 e 5,05 por cento, respectivamente, em meio à avaliação de maior fragilidade política no país, além da frustração dos investidores com a dificuldade do governo para seguir adiante com a privatização da companhia.
- ECORODOVIAS perdia 5,54 por cento e CCR recuava 4,15 por cento, com os papéis afetado pela greve dos caminhoneiros em si, que bloqueou o tráfego em diversas rodovias no país, incluindo alguns trechos operados pelas concessionárias, mas também pelas medidas anunciadas na véspera estendendo para rodovias estaduais e federais a suspensão da cobrança de pedágio pelo terceiro eixo de caminhões vazios.
- VALE tinha variação positiva de 1,3 por cento, com o preço do minério de ferro à vista na China quase estável, enquanto os futuros do aço naquele país subiram para máximas em uma semana nesta segunda-feira.
- SUZANO e FIBRIA subiam 4,9 e 0,74 por cento, respectivamente. Ambos são considerados papéis defensivos em cenários turbulentos, dada a alta correlação com o dólar - que se valoriza ante o real nesta sessão - e pouca relação com a atividade doméstica. A Suzano anunciou nesta manhã que precisou paralisar suas operações em razão da greve dos caminhoneiros.
Com paralisação, mercado prevê PIB menor e inflação maior para 2018 (REUTERS)
O mercado reduziu com força sua projeção de crescimento da economia brasileira neste ano depois de uma semana de paralisação de caminhoneiros no país que afetou o abastecimento, ao mesmo tempo em que passou a ver a inflação mais alta.
Segundo pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira (28), a mediana das estimativas para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) caiu a 2,37% na semana passada, sobre 2,5% antes, na quarta semana de queda. Para 2019, permaneceu a expectativa de crescimento de 3%
Com o movimento provocando falta de combustível e escassez de alimentos, além de outros insumos, a projeção para a alta do IPCA também subiu no Focus. A expectativa agora é de que a inflação termine o ano a 3,60%, 0,10 ponto percentual a mais do que na semana anterior. Para o ano que vem o cálculo é de inflação de 4%, sobre 4,01% antes.
Para o dólar, a projeção para o final de 2018 também voltou a subir, pela sexta vez seguida, e chegou a R$ 3,48, contra R$ 3,43 na semana anterior. (Reuters)
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