"O legado de Dilma", editorial da FOLHA (edição desta terça-feira)
Integrantes do governo Dilma Rousseff (PT) mobilizam-se quanto podem para tentar convencer deputados a votar contra o impeachment da presidente. Afora promessas de cargos e emendas, não se imagina quais argumentos possam ser utilizados em favor da atual ocupante do Planalto.
Sua principal vitrine de realizações é a Petrobras. No mostruário, vê-se uma empresa, a maior do Brasil, superendividada e em processo de encolhimento e desmonte, a registrar prejuízos monstruosos.
Como se não bastassem as dívidas que sobrevieram devido a preços tabelados, investimentos equivocados e corrupção, a Petrobras arcou com os custos de um programa de industrialização que a obrigou a adquirir produtos nacionais a preços muito acima do mercado mundial. Somadas, são perdas na casa de centenas de bilhões.
Reportagens desta Folha e do jornal "Valor Econômico" vêm mostrando que desde o início a empresa sabia da inviabilidade dos investimentos na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e no Comperj, polo petroquímico no Rio.
Nas fases cruciais de decisão do investimento, de 2009 a 2012, a própria estatal, em relatórios então sigilosos, indicava que a rentabilidade não superaria as despesas de capital –prejuízo depois elevado pela pilhagem e pelo descontrole de custos.
A dimensão espetacular da destruição na petroleira desvia a atenção de casos de ruína similar em vários setores que conheceram a mão deste governo, marcada por intervenção política rudimentar, incompetência e apego a ideias econômicas ultrapassadas.
A tentativa de baixar a fórceps os preços da energia, em 2012, contribui para que a segunda maior estatal do país, a Eletrobras, tenha prejuízos desde aquele ano.
A manipulação de preços de combustíveis e energia elétrica arruinou a Petrobras e todo o complexo petroleiro, diminuiu o setor de biocombustíveis e desorganizou e endividou o setor elétrico.
A politização da gerência dos fundos de pensão de estatais provocou prejuízos históricos. Além da mera incompetência, tais fundos foram levados a investir em projetos do "Brasil Grande" petista, caso da Sete Brasil ou de Belo Monte –um caso de falência quase certa e outro de prejuízo duradouro.
Os leilões de concessão de infraestrutura foram prejudicados e chegaram quase ao fim em 2013, dadas as tentativas canhestras do governo de controlar a rentabilidade dos empreendimentos e a barafunda das normas regulatórias. Perdeu-se então uma chance restante de conter a desaceleração econômica, que começava.
Não se sabe quando nem de que forma terminará o governo Dilma Rousseff, mas já se sabe que a presidente deixará um legado histórico de destruição incomparável.
A força do populismo, editorial do ESTADÃO
A ideia de que existem soluções fáceis para os problemas da economia e de que basta ao governo ter vontade para que os pobres sejam conduzidos ao paraíso da classe média já deveria estar inapelavelmente desmoralizada. Afinal, o que não faltam são evidências de que essa irresponsabilidade populista, grande marca dos governos petistas, arruinou a economia nacional e, como consequência, anulou os eventuais ganhos que os pobres possam ter obtido, além de ter lhes comprometido o futuro. No entanto, quando se observa que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda aparece com cerca de 20% das intenções de voto para presidente e teve seu nome citado espontaneamente por 40% como “o melhor presidente da história do Brasil”, conforme pesquisa do Datafolha, constata-se que resiste, em parte da sociedade brasileira, um certo pensamento mágico, que atribui ao chefão petista a capacidade de transformar os fatos pela simples expressão de seu desejo.
Apenas o inegável talento de Lula não basta para explicar a sobrevida desse pensamento. Contribui para fortalecê-lo a incapacidade da oposição de expor aos eleitores o embuste lulopetista, segundo o qual “nunca antes na história deste país” os pobres foram tão valorizados e que “eles” – os que não votam no PT – “durante 500 anos não souberam cuidar desse povo”, conforme discursou Lula dia desses.
Graças à fraqueza da oposição, sustenta-se a mensagem de que foram os petistas – Lula à frente – os responsáveis por redimir os pobres, pela simples razão de que o PT detém o monopólio da sensibilidade social. Por esse motivo, os eleitores mais suscetíveis à demagogia petista continuam a atribuir apenas a Lula e ao PT os ganhos que, na verdade, só foram possíveis graças à estabilização da economia – uma conquista de todos os brasileiros, a partir do Plano Real e da Lei de Responsabilidade Fiscal, medidas contra as quais, é bom que se frise, os petistas lutaram com unhas e dentes.
O principal ativo lulopetista está, portanto, na crença de uma parte dos brasileiros de que os recursos do Estado são infinitos e de que todos têm direito a acumular cada vez mais benefícios às expensas do erário. É nesse atraso que Lula e a tigrada apostam para permanecer no poder.
Assim, Lula já mandou espalhar que, caso o impeachment não prospere, o governo será “refundado” em bases ainda mais populistas. Conforme noticiou o Estado, o chefão petista é o autor de um plano de “sobrevivência” da presidente Dilma Rousseff que inclui aumentar o Bolsa Família, expandir a oferta de crédito e investir em construção civil para gerar empregos. Ou seja, tudo o que Lula tem a oferecer ao País é a recauchutagem de um programa de governo já desacreditado pelo cotidiano desastroso da economia. O desemprego crescente, a inflação que só cai em razão da brutal recessão e a perda de confiança em todos os setores da economia são resultado direto das mesmas apostas erradas que Lula pretende agora dobrar.
Mas nada disso parece importar, nem para Lula nem para seus fanáticos simpatizantes. Lula acha que Dilma deve adotar imediatamente medidas que, em suas palavras, “ponham dinheiro na mão do pobre”, isto é, que façam com que as classes menos favorecidas tenham a sensação de que recuperaram poder de compra. “Deem para a gente seis meses de paciência e vamos provar que este país vai voltar a ser o País da alegria”, prometeu Lula no mês passado.
É preocupante que ainda haja quem acredite nessa impostura, mas as pesquisas estão aí para provar que o Brasil, embora tenha avançado muito, permanece vulnerável a esse tipo de discurso irresponsável. É por essa razão que se tornou imperativa a construção de uma oposição mais ativa e aguerrida, que não tenha medo de assumir a ingrata tarefa de convencer os brasileiros de que o ilusionismo populista como o de Lula condenará o País ao atraso crônico se não for desde já abandonado. Deve ficar claro para os eleitores que a única saída para o Brasil é austeridade e trabalho duro, com o sacrifício de todos, para reequilibrar as contas, recuperar a confiança e realizar as reformas que racionalizem os gastos do Estado. Só assim haverá a verdadeira justiça social, sustentável e permanente, e não a miragem oferecida por algum mágico de fancaria.
Lula acusa congressistas e ‘brasileiros’ de insanidade mental (por VILMA GRINZISKI, de VEJA.COM)
Como todos os demais humanos que emitem opiniões, jornalistas são sujeitos à lei das consequências indesejadas: fazer uma coisa com um objetivo e conseguir um efeito exatamente contrário ao planejado.
Foi isso que aconteceu com a entrevista do jornalista americano Glenn Greenwald com o ex-presidente. Apesar da simpatia pelo entrevistado, declarada na abertura do vídeo, e perguntas feitas para “levantar a bola”, como se diz no jargão do jornalismo sobre perguntas feitas por entrevistadores amigos, Greenwald conseguiu tirar do ex-presidente interessantes respostas.
Quais seriam, por exemplo, os motivos que levam parlamentares a favorecer o impeachment da presidente? “Insanidade mental”, responde ele. Mais adiante, repete que “alguns brasileiros” estão sofrendo de insanidade mental, a explicação mais evidente para um ato de loucura como defender a abertura do processo de impedimento contra uma chefe de governo que, evidentemente, “não cometeu nenhum crime”.
Mas há outras, claro. Greenwald, que mora no Rio de Janeiro, se declara “chocado” com a imprensa brasileira e desfia uma série de acusações. Surpresa, surpresa, o ex-presidente concorda. E explica como ele pretendia colocar a imprensa para fazer só coisas boas e belas, mas foi impedido. Deve ter sido por aqueles mesmos que hoje reincidem na insanidade mental.
Greenwald é o mais conhecido jornalista que divulgou o levantamento feito por Edward Snowden, ex-funcionário da CIA e ex-prestador de serviços como especialista em monitoramento digital radicado no Havaí, sobre os métodos de vigilância eletrônica da NSA, a agência americana que, como uma divindade internética, tudo ouve e tudo vê.
A entrevista dele com o ex-presidente foi para o site The Intercept, do qual ele é o principal colaborador.A publicação online é financiada por Pierre Omidyar, criador do eBay, o genial negócio de vendas particulares pela internet, com valor de mercado na faixa de 69 bilhões de dólares.
Omidyar nasceu na França, filho de pais iranianos, e depois acompanhou a família que mudou para os Estados Unidos. Começou a entrar para o ramo de bilionários aos 31 anos. Hoje está na faixa dos 7,1 bilhões de dólares. Sua base de operações na área de imprensa é no Havaí.
Em princípio, todos os jornalistas podem escorregar no “retorno do recalcado” ou do reprimido, um dos pilares clássicos da psicanálise que versa sobre o mecanismo de reaflomento de material enterrado nas profundezas do inconsciente. Por exemplo, uma correspondente estrangeira se sente magoada por críticas a seu trabalho na cobertura da crise no Brasil.
Para se vingar, a correspondente publica em seu jornal trechos de um artigo de quem a criticou totalmente não relacionado com o fato gerador inicial. Os leitores do jornal a surpreendem, elogiando de maneira consistente o artigo, ainda que revelado apenas em parte. Talvez, inconscientemente, fosse isso que ela desejasse.
Em outros trechos da entrevista a Greenwald, o ex-presidente diz que os problemas econômicos atuais do Brasil decorrem da crise de 2008, a da “marolinha”. Também responde “lógico, lógico, lógico” quando perguntado sobre o direito ao aborto. “Sou pela descriminalização”, declara ele em relação a drogas.
Mas é contra a lei anti-terrorismo recentemente aprovada. “Esse é um país em que as pessoas não têm o hábito do terrorismo”, diz. Poderia ser mais uma forma inconsciente de criticar sua sucessora? Parece que o retorno do recalcado anda solto por aí.
Os favoráveis ao impeachment obtêm primeira vitória, mas todo cuidado é pouco (por REINALDO AZEVEDO)
A República do Quarto de Hotel continua a todo vapor, e Lula, o investigado sem cargo, continua a vender o Brasil
O relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), relator da Comissão Especial do Impeachment, foi aprovado por um placar superior ao que era esperado pelos dois lados da disputa: 38 a 27. O governo apostava em 34 votos. Os defensores do impedimento, quando otimistas, falavam em 35.
Não custa lembrar que essa comissão começou com uma ligeira maioria pró-governo, quando listados os nomes: 33 a 32. Cinco votos mudaram de lado. Mais: essa nem é a comissão que foi eleita pelo conjunto dos deputados. Numa decisão estúpida, o STF anulou aquela eleição e impôs outra, escolhida pelos líderes. Não adiantou.
A sessão teve momentos verdadeiramente patéticos, protagonizados, quase sempre, por governistas, que se abraçaram à tese absurda de que a presidente não cometeu crime nenhum. Depois que o mantra “impeachment é golpe” foi desmoralizado por ministros e ex-ministros do Supremo, teve início, então, a mais surpreendente linha de defesa, quero crer, da história dos tribunais: não consiste em negar a autoria do crime, mas em negar o próprio crime, ainda que diante do corpo.
É precisamente disto que se trata: as pedaladas aconteceram. Não há dúvida a respeito. Relatório do insuspeito Banco Central quantifica o tamanho do espeto: chegou a 1% do PIB. O nome disso é atentado contra a lei orçamentária, crime de responsabilidade previsto no Inciso VI do Artigo 86 da Constituição. E a pena é definida pela Lei 1.079, justamente a que trata dos crimes de responsabilidade.
Em nova investida na Comissão, José Eduardo Cardozo, esse impressionante senhor que agora está na Advocacia-Geral da União, sem medo nenhum do ridículo, decidiu, mais uma vez, desqualificar o relatório de Jovair Arantes. Sem ter como fazer uma defesa técnica, partiu para o ataque político, acusando, de novo, a existência de uma suposta conspiração.
A conversa serviu para inflamar os deputados petistas, mas não colheu muito mais do que isso.
O problema principal do governo é ter uma tese que é essencialmente política — o impedimento é golpe — e não ter como embasá-la juridicamente: porque aí seria preciso demonstrar que o crime de responsabilidade não foi cometido. E foi. É simples assim.
Os defensores do impeachment obtiveram uma importante vitória nesta segunda. Ainda que se esperasse o resultado positivo, o placar surpreendeu. Mas, como dizem os vermelhinhos, a luta continua. A semana vai ser uma pauleira. A República do Quarto de Hotel segue a todo vapor. Lula, investigado e sem cargo, está lá a vender o Brasil, ainda que o papel que lhe foi passado pelo “Bessias”, no momento, não tenha validade.
E daí? Afinal, ele é ou não é o dono do mundo?
Radar TVeja: as possíveis surpresas no caminho de Dilma até domingo, POR VERA MAGALHÃES
Um olho na Câmara, outro se alternando entre Curitiba, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República. Assim será a semana de Dilma Rousseff.
Enquanto insiste no varejo explícito para conseguir votos na bacia das almas – tarefa que vem se mostrando ainda mais árdua que o esperado na semana passada – Dilma tem de torcer para não ser surpreendida por decisões desfavoráveis em nenhuma dessas instâncias.
A força-tarefa comandada por Sergio Moro sempre pode avançar nas investigações de modo a que novos flancos do governo sejam revelados.
No STF, o mais provável é que a ação questionando a posse de Lula na Casa Civil só seja levada a plenário na semana do dia 18. Depois, portanto, da votação do impeachment. Mas o próprio advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, deixou em aberto a possibilidade de recorrer ao Supremo para tentar sustar o rito do impeachment.
As maiores surpresas, no entanto, podem vir da caneta de Rodrigo Janot. O procurador-geral da República, que na semana passada surpreendeu ao dar parecer contrário à nomeação de Lula, pode tomar algumas iniciativas que complicariam em muito a situação de Dilma.
Ele estuda denunciar a presidente, ou pedir a abertura de inquérito, para apurar se ela cometeu obstrução da Justiça – tanto em decorrência da delação de Delcídio do Amaral quanto a partir do grampo de sua conversa com Lula.
Além disso, o procurador-geral não se convenceu das explicações do ex-presidente para a delação de Delcídio, e pode inclui-lo na denúncia contra o senador e o banqueiro André Esteves.
Por fim, está em suas mãos suspender o sigilo da delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez, a que atinge até aqui a campanha de Dilma em 2014.
São muitos fatores para um governo que já age no fio da navalha comandar.
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