Em O GLOBO: Zelador de prédio é demitido e relata pressão da OAS após seu depoimento sobre Lula
SÃO PAULO - Depois de quase três anos de serviços prestados, o zelador José Afonso Pinheiro, do edifício Solaris, no Guarujá, onde o ex-presidente Lula teve um apartamento, foi demitido nesta quinta-feira. Segundo Pinheiro, nenhum incidente aconteceu no período anterior à dispensa e o síndico, Mauro de Freitas, teria lhe dito apenas que seus serviços não eram mais necessários
Em outubro, o zelador prestou depoimento ao Ministério Público de São Paulo sobre a relação de Lula com o tríplex 164-A do edifício na Praia de Astúrias, litoral sul paulista. Aos promotores, confirmou que Lula esteve no local e que a ex-primeira dama, Marisa Letícia, frequentou o condomínio algumas vezes, enquanto o apartamento era reformado. Segundo Pinheiro, “a OAS limpava o prédio e inseria arranjos florais para recebimento da família presidencial” e o elevador que servia o prédio ficava preso durante a permanência de Lula e Marisa no local para que ninguém incomodasse os visitantes.
O depoimento do zelador consta da denúncia oferecida pelo Ministério Público em março contra o ex-presidente Lula por ocultação de patrimônio. De acordo com o zelador, a situação se complicou para ele depois disso. Em dezembro, em contato com a reportagem, ele se recusou a repetir o teor de seu depoimento dizendo que havia sido instruído pelo síndico a não fazer mais comentários sobre a visita de Lula ao prédio. Questionado sobre que funcionário da OAS o teria constrangido, ele respondeu que preferia não citar nomes.
Pinheiro atua como zelador há 20 anos e terá um prazo para deixar o apartamento que ocupa no prédio Solaris com a mulher e a filha. Aos 47 anos, ele teme que será difícil encontrar nova oportunidade.
Procurado, o síndico do prédio afirmou que a demissão não teve motivação política, mas se recusou a explicar por que Pinheiro foi dispensado.
— Não fui pressionado por ninguém nem conheço ninguém. Não sou político, tenho raiva do Lula e ódio da Dilma. Os motivos da demissão não interessam a ninguém além de mim e dele — afirmou Freitas.
Lula afirma que o tríplex nunca pertenceu a ele porque o ex-presidente acabou desistindo da compra. Marisa pagara à Bancoop, que iniciou às obras, por um apartamento normal, mas não aderiu nem recusou a proposta de finalização da obra feita pela OAS, que incluía o pagamento de novas parcelas. Apenas no fim do ano passado, anos depois de os outros compradores terem feito sua opção de negócio, a família Lula da Silva optou por receber seu dinheiro de volta. A unidade que pertenceria à Marisa acabou comercializada pela OAS.
Em nota, a OAS afirmou que “o gerenciamento do condomínio é realizado pelo síndico do edifício, que possui plenos poderes para decidir sobre a permanência ou não dos funcionários e da gerenciadora do condomínio, contratada por eles. A OAS não tem qualquer interferência nas decisões e, portanto, absolutamente nenhuma relação com a demissão.”
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