BC vê mais inflação em 2016 e em 2017; volta ao centro da meta no início de 2018
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central piorou suas projeções de inflação para este ano e o próximo, indicando enxergar a alta de preços no centro da meta apenas no início de 2018, fora do objetivo que vem pregando de que esse movimento deve ocorrer em 2017.
Diante do cenário, reiterou em seu Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira, que não trabalha com a possibilidade de cortar a taxa básica de juros apesar da forte retração econômica, e que fará o necessário para chegar ao seu intuito.
"(O BC) adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5 por cento, em 2017", informou.
E acrescentou: "reitera que essas condições não permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização monetária", referindo-se às recentes expectativas e taxas de inflação e à situação fiscal do país, entre outros.
As taxas dos contratos de juros futuros reagiram à mensagem, com DIs em alta e a curva já precificando menos apostas na queda da Selic este ano, que segue em 14,25 por cento ao ano desde julho passado. O afrouxamento estava no radar de parte dos agentes, com alguns esperando que o afrouxamento da política monetária fosse ocorrer já no segundo semestre.
Segundo o relatório, o BC vê inflação subindo 6,6 por cento em 2016 e 4,9 por cento em 2017, sobre projeção anterior de elevação de 6,2 e 4,8 por cento, respectivamente, pelo cenário de referência (dólar a 3,70 reais e Selic a 14,25 por cento).
O BC mostrou ainda que vê a inflação a 4,5 por cento --centro da meta-- só no primeiro trimestre de 2018.
"Acho que o BC está correto em aguardar e ver os desdobramentos. Qualquer tom de corte de juros agora é para lá de precipitado", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, acrescentando que não trabalha com corte na Selic "tão cedo".
"Se a gente não tiver boa notícia da parte fiscal, há risco para inflação voltar a acelerar", completou.
RECESSÃO PIOR
As expectativas piores para o avanço de preços na economia vêm apesar da perspectiva de recessão bem mais forte. O BC ajustou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, passando a ver contração de 3,5 por cento, contra 1,9 por cento anteriormente.
O BC informou ainda que as incertezas em relação ao cenário externo prosseguem, e novamente chamou a atenção para o processo de realinhamento de preços relativos mais demorado e intenso que o previsto.
No relatório, o BC também piorou a probabilidade estimada, pelo cenário de referência, de a inflação estourar a meta de inflação, indo a em torno de 55 por cento este ano, sobre leitura de 41 por cento antes. Para 2017, vê chance de 22 por cento de isso ocorrer, também acima dos 20 por cento de antes.
A meta de inflação é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos em 2016 e de 1,5 ponto em 2017.
O BC destacou que incertezas envolvendo a recuperação de resultados fiscais e o desenvolvimento de eventos não econômicos "influenciam, e continuarão a influenciar, os preços dos ativos financeiros".
A mensagem é dada num momento em que a crise política ganha contornos agudos, em meio ao andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso, ao passo que as contas públicas seguem em fraca deterioração.
Os cálculos do BC consideraram superavit primário para o setor público consolidado de 0,5 por cento do PIB (ou 30,6 bilhões de reais) no ano, meta dada pela lei orçamentária. O resultado, entretanto, é visto como inalcançável pelo próprio governo, que já encaminhou ao Congresso proposta para encerrar 2016 com déficit de até 96,05 bilhões de reais.
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